Milhares de estudantes encheram o Largo da Sé Velha na noite de ontem, para assistir à serenata monumental que assinala o início da Queima das Fitas de Coimbra, 9 de maio de 2014. A Serenata marca o início da Queima das Fitas e é um dos momentos principais, no qual grupos de estudantes universitários interpretam vários fados, acompanhados pela guitarra portuguesa. PAULO NOVAIS / LUSA

Capas Negras de Saudade no momento da nossa partida!

A chegada da Queima das Fitas traz sentimentos contraditórios: para uns a alegria imensa pela conclusão do seu primeiro ano, para outros um sentimento de perda irreparável e um aperto no peito que parece não ter fim. E hoje vou-me focar sobretudo nestes, nos que chegam ao final e é um amargo tão grande e doloroso que nos ameaça até sufocar.

Todo o percurso foi marcado por uma paixão arrebatadora, por um romance que durou mais que o esperado no início. Uma paixão que despertou em nós os mais naturais e juvenis impulsos, que nos preparou para abraçar amores futuros, que nos moldou como Homens e Mulheres…uma paixão intensa que chegou a amor fatal! E talvez por isso, pela intensidade com que qualquer paixão deve ser vivida, é que a despedida se torna dolorosa de tão irreal e repentina que se afigura.



As primeiras lágrimas surgem com os acordes iniciais da Monumental Serenata, a mesma que um dia nos trouxe um momento tão grande e especial como foi o traçar da capa pela primeira vez. Cada música nos faz recordar um momento, cada recanto daquele lugar traz uma história e uma memória que não quer desaparecer da nossa cabeça, cada pessoa que está ao nosso lado nos faz relembrar e recordar momentos felizes…e as lágrimas caem, incontroláveis mesmo pela vontade de alguém em não querer chorar. De um momento para o outro voltamos a ser pequeninos, voltamos a sentir-nos tão frágeis. De um momento para o outro só desejamos que o tempo volte para trás e nos traga de volta ao tempo onde uma despedida nem passava sequer pelo pensamento.

 

Com a chegada do derradeiro momento fazem-se juras de amor eterno, prometendo que a paixão arrebatadora que nos levou até aqui nunca esmorecerá. A capa de um estudante fica mais negra que o habitual, talvez pelo sentimento de tristeza que a pessoa sente, talvez pela saudade que já se faz sentir, talvez pela envolvente e pelos abraços apertados que se vão trocando…a capa negra de entusiasmo e expectativa que iniciou o percurso fica agora negra de saudade no momento da partida.

Para trás ficam anos intensos, momentos inesquecíveis, histórias inacreditáveis, maluquices que julgávamos nunca conseguir fazer, desafios superados, missões cumpridas, gargalhadas intermináveis…mas também ficam momentos de choro, apertos no peito, momentos em que o cansaço ameaçava conseguir superar a nossa vontade, momentos em que nos perguntámos sobre o porquê de continuarmos a dar tudo, o porquê de perdermos horas de sono, gastarmos dinheiro, sacrificarmos tempo para estar com a família…sobre o porquê de abdicarmos dos nossos desejos pessoais.

Mas fica sempre a certeza que houve algo que compensou tudo isso e os abraços apertados, os olhos chorosos no momento da despedida e os arrepios na espinha que sentimos só o vêm comprovar.

 

Tudo o que é bom e o que gostamos tem um dia que acabar, afinal é mesmo essa a lei da vida. E num breve instante, aquele em que nos tiram a capa e a pasta, toda a paixão recordada nos trespassa o coração e a mente e decide-se a acenar com uma lágrima um solene mas feliz adeus.

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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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