Olá! O meu nome é Sara e tenho 19 anos. Tenho o sonho louco de mudar o mundo, de fazer a diferença na vida das pessoas e de ajudar. Trago em mim a vontade de ir mais além, de fazer melhor e de ser melhor.
Concorri ao curso de Medicina este ano, pela segunda vez. Lá, não sou a Sara. Sou o 177,0. Sou um número. Sou só mais uma, na interminável lista de candidatos a este curso. E, tal como eu, existem muitos outros. Pessoas que lutam, que se esforçam, que merecem, mas que não conseguem. Porquê? Sinceramente, não sei.
Dizem-me que tudo vai correr bem, que as coisas acontecem por uma razão, que Deus escreve direito por linhas tortas. Mas eu não me contento. Não me contento, porque sofro. Dói. Dói mesmo muito. E dói porque eu tenho um sonho, um sonho que não consigo realizar porque sou o 177,0 e não o 177,5. Sou o número errado.
Calma. Não! Eu não sou o número errado. Eu sou a soma de três anos de secundário com três exames nacionais, com dança, com teatro, com yoga, com ginásio, com música, com grupo de jovens e com voluntariado. Eu sou o 177,0, o melhor que consegui ser nas circunstâncias em que me encontrava.
Mas não sou só um número. Recuso-me a sê-lo. Recuso-me a pensar que um 16 num exame é má nota e que não sou tão qualificada quanto o 177,5. Recuso-me a acreditar que não serei boa médica, só porque não tive 18 e 19 nos exames nacionais.
Sei que o sistema é assim. Mas eu não concordo. E se não concordo, tenho de o dizer, porque seria cobarde não o fazer. Não me interessa se ninguém me ouve, se ninguém lê. Acredito firmemente que vimos à Terra com um propósito, com uma missão. Não nos podemos conformar. Temos de lutar por aquilo em que acreditamos e temos de ser fortes, tanto por nós, como pelos outros que se encontram na nossa situação. Porque, às vezes, ajudar os outros passa por ter muita coragem, por arriscar ser o primeiro a falar ou a partilhar. E, assim, talvez se consiga ver a mudança acontecer, um dia.
Já vi muita gente ficar de fora. Gente boa, trabalhadora, dedicada. Gente que faria a diferença. Mas isso, obviamente, não cabe numa folha de Excel. Há limites à quantidade de informação que um número pode dar.
Eu acredito em mim, acredito que o futuro pertence àqueles que crêem na beleza dos seus sonhos e acredito, do fundo do meu coração, que serei feliz. Porque eu não vou deixar que um número dite a minha sorte. Eu sou muito mais do que o 177,0! Eu sou cor, sou sonhos, sou projectos, sou ambições, sou amor. Por mim e pelo outro. E a viagem não acaba aqui, porque, afinal, “ao que a lagarta chama fim do mundo, o Homem chama borboleta”.
E eu vou ser feliz. Ai se vou!
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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