Podia ter sido uma estudante ERASMUS que escolhe a cidade de acolhimento consoante a “cidade favorita onde passar férias” ou “aquela cidade de sonho”. Mas escolhi ser a estudante que andou horas a ver rankings de universidades e fichas de unidades curriculares. Resultado: Universidade de Bolonha. Mas não. ESCOLHI viver em Cesena, cidade onde se situa o campus de Psicologia, trocando o alojamento e a vida em Bolonha pela tranquilidade e peculiaridade das gentes de Cesena, 100km’s mais longe.
Podia ter sido das estudantes que viveu Residências de ERASMUS com festas 7 dias por semana, ou das que partilhou casa com gente dos quatro cantos do mundo. Mas fui a “a portuguesa que vive com italianas”. A que aprendeu os costumes porque os viveu, a que aprendeu as 1000 maneiras de cozinhar massa, a que aprendeu a falar (mais) italiano e a que acabou por aprender que, quando se mora com 3 futuras arquitetas, a probabilidade de ocuparem toda a mesa da cozinha com maquetes é de 100%.
Podia ser aquela que todas as sextas e sábados ia sair para a única discoteca da cidade, mas, muitas das vezes fui aquela que olhava para o mapa e dizia “vou ali, quem quer vir comigo?”. Algumas das vezes viajei em excursões: Roma; Bardonecchia (3 dias a esquiar!), Génova-Turim-Piemonte; Peruggia. Outras, em pequeno grupo: Cesenatico, Florença, Pádova, Rimini, Verona. Outras, também, com família que me foi visitar: Bologna, Ravenna, San Marino, Milão, Veneza. Também podia ter sido aquela que nunca arriscou, e que nunca atirou com as coisas essenciais (diga-se, muda de roupa e máquina fotográfica) para dentro da mochila e se aventurou a viajar sozinha até mais locais. Mas fui: Arezzo e Parma. Arrisquei tudo e atravessei depois a fronteira: Salzburgo, Áustria. Cidade dos meus sonhos desde que me lembro. Foram 12horas de comboio para ir e outras tantas para voltar. Valeu a pena cada segundo.
É verdade que quase toda a gente vai de ERASMUS. Porque o ERASMUS é que é! É mesmo! Mas no meu caso também foram horas de estudo e trabalhos até mais não. Compensou: hoje, ainda colaborou com a Universidade.
A quem possa pensar “Ninguém vai para Cesena!”, eu digo: Vão! E vivam tudo. Comprem uma bicicleta e vendam-na antes de virem embora pelo mesmo preço; vão ao mercado; bebam muitos cappuccinos; choquem-se com o preço da senha da cantina e prometam nunca mais lá comer. Digam “Buongiorno” a cada pessoa aleatória que vos vê na rua, porque é mesmo assim! Vão caminhar com toda a cidade junta às terças e quintas. Vão às feiras gastronómicas no centro histórico, às sessões de cinema ao ar livre, à música ao vivo. Provem a melhor Piadina de Itália, convivam com a gente ERASMUS e com gente local. Não comprem peças de roupa a não ser no mercado para o dinheiro não fugir da carteira. Vão aos karaokes, às visitas guiadas, aos (poucos) bares que têm descontos para estudantes e saibam que à quinta-feira à tarde é descanso semanal. Mas vão. Cesena é minúscula? É! Mas dá-nos a coisa mais importante quando se é ERASMUS: um sentido de pertença!
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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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