À conversa com um aluno de Design de Moda

Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.

Margarida Lopo Dias (M. L. D.): O meu curso é Design de Moda e Têxtil. Isto significa que, não só tem a componente de criação das coleções, mas também a de criação e estudo têxtil. Quando entrei/escolhi o curso, sabia que a parte do têxtil era importante, mas não fazia ideia o quanto! Acho fulcral este estudo, porque nos “dá asas” para criarmos coisas extraordinárias e completamente novas!

Tendo em conta as saídas profissionais, é ótimo. Não há muitos cursos de moda para as diferentes abordagens que esta pode ter, o que faz deste curso o mais completo para qualquer que seja o nosso desejo no futuro. Quando acabamos esta licenciatura, não saímos só com o conhecimento de designer: temos conhecimentos que um marketeer, um jornalista de moda ou um art director têm!

Depois do curso, é aconselhável tirar-se uma pós-graduação, na área que se quer e, está-se pronto para um futuro (esperemos que brilhante) no mundo da moda!

Marta Farinha (M. F.): O meu curso consiste na compreensão do passado do mundo da moda e da arte e, por isso, requer que aprendamos a teoria e a prática desse mundo desde a fase de idealização de uma peça ou coleção até à fase final do marketing, a distribuição, custos e tudo o que é importante para levar o produto ao consumidor.

Este curso tenho uma grande diversidade de saídas profissionais apesar do entendimento geral ser contrário. Desde a confecção, ao jornalismo, à docência, trabalho por conta própria… até podemos trabalhar com peças de decoração, artigos para casa ou até para o estofos do carro.

Posso focar-me apenas no lado têxtil, desde estamparia à criação de novos tecidos inovadores que poderão trazer importantes benefícios para o mundo,  como por exemplo a criação de tecidos a partir de plástico proveniente dos oceanos.

 



 

M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?

M. L. D.: Quando se escolhe um curso é importante ter em atenção o programa curricular. No meu caso, existem quatro cursos de design de moda, em escolas públicas, no país. O que recomendo fazer é comparar as mais valias de cada curso e escolher, independentemente de onde se localiza, o que mais se aplica a cada objetivo pessoal e profissional de cada um.

Esta foi a minha primeira escolha. O meu curso é o único do país que se foca não só na parte criativa da moda, mas também na componente têxtil, o que enriquece imenso um designer e é extremamente importante. Tem ainda outras disciplinas, como por exemplo: fotografia, marketing, psicologia da cor, ilustração e análise e produção de texto (entre outras), que complementam as “necessidades básicas” da aprendizagem de um designer e que permitem abrir muitas portas para o futuro.

M. F.: Desde que me lembro que moda sempre foi o que quis tirar, nunca houve, no meu caso, outras opções. Escolhi a UBI porque considero ser a universidade com um ensino que eu considero mais amplo na área da moda.

 

Trabalhos de Margarida Lopo Dias

 

M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?

M. L. D.: O que encontro de mais positivo neste curso é a variedade de áreas da moda que se abordam com as disciplinas que temos ao longo dos três anos. Acho isso espetacular e muito importante!

O que considero que é, ainda negativo, é a ordem das disciplinas. Há certas disciplinas que, lecionadas antes de outras, contribuiriam para que a nossa aprendizagem fosse mais fácil e melhor! Contudo, ao longo dos últimos anos, os alunos têm dado as suas opiniões e o curso está a ser melhorado de ano a ano, por isso quem entrar agora, já vai ter acesso a uma “estrutura” melhor.

M. F.: Pelo lado positivo surpreendeu-me o nível de ensino e a diversidade das cadeiras, bem como o apoio por parte dos professores e colegas durante o percurso académico. A UBI tem também para o curso de Design de Moda todos os instrumentos necessários para a realização das nossas ideias, tendo uma vasta gama de máquinas e técnicos competentes sempre prontos a ajudar.

Pelo lado negativo, temos os gastos, pois o curso exige alguns gastos por parte dos alunos para a realização dos trabalhos. Um destes gastos é um bom computador capaz de aguentar os programas apropriados para o desenvolvimentos dos projetos.  

 



 

M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?

M. L. D.: Estou a adorar o curso! A adorar a vida universitária! É ótimo estar num ambiente em que as pessoas têm os mesmos interesses que tu, e trabalham todos para o mesmo! Eu acho que o que me marcou mais, foi ter percebido que (até) sou boa a fazer certas coisas e, principalmente, que esta é a vida que eu quero ter!

M. F.: Considero uma experiência enriquecedora em vários aspetos. É um bom curso e tenho tido muito apoio, o que torna tudo uma experiência positiva. O que mais me marcou foi sem dúvida o final dos trabalhos porque muitos dos nossos trabalhos são práticos e nós queremos sempre ser os melhores, certo? Por isso são muitas, muitas as horas gastas na realização de projetos. São semanas às vezes só na pesquisa quanto mais no trabalho inteiro! Logo, no final do projecto já feito é muito marcante e emocional ver todas as nossas horas e noites não dormidas serem recompensadas.

 

M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?

M. L. D.: O “salto” que se dá para o ensino superior é muito grande, mas não é necessariamente mau ou difícil. Quando começamos a estudar exatamente aquilo de que gostamos (é normal não gostar de todas as disciplinas) tudo parece fazer mais sentido, e apesar de ser mais trabalhoso e difícil, não custa tanto e até o fazemos por gosto.

Senti uma certa dificuldade em adaptar-me às exigências dos curso, por no secundário ter estado em Ciências e Tecnologias e (de repente) escolher um curso de artes (estas coisas acontecem mesmo!). Não foi “o fim do mundo”! Simplesmente tive que trabalhar três vezes mais que os outros até conseguir estar ao nível de pessoas que já tinham vindo de artes ou de cursos profissionais de moda (e parecia que já sabiam tudo daquilo). Só o primeiro ano é que é complicado, agora já me sinto como se nunca estivesse estado “para trás”. Acabamos por crescer todos juntos e ajudar-nos uns aos outros!

M. F.: Considero que tive uma boa adaptação, tive sorte em arranjar amigos que me apoiassem e vice-versa. Acho que o facto de ter uma boa base de apoio contribuiu bastante para a minha adaptação. Relativamente aos meus principais desafios, acho que a organização e o ter tempo para tudo é sem dúvida o principal. Eu tenho de estudar, limpar a casa, cozinhar, ir às compras, trabalhar (sou trabalhadora-estudante) e ainda tentar arranjar tempo para dormir e ter a minha vida social. É mais difícil do que parece.

 

 

M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?

M. L. D.: Eu sinto que estamos a ser preparados para o futuro, sem dúvida! Não estamos prontos, mal acabemos o curso, para ir trabalhar e sermos bem sucedidos. Vamos ter que cair muitas vezes e aprender com os erros e com as dificuldades, e isso não dá para se ensinar.

Acredito, porém, que nos estão a preparar o mais bem possível para todas as situações que possamos encontrar, e que, mesmo quando estivermos no mundo do trabalho “por nossa conta”, existem docentes que estarão sempre disponíveis para nos orientar e ajudar ao longo do tempo.

M. F.: Sim, dentro do possível. É complicado um curso preparar-nos completamente para uma profissão porque são coisas diferentes. No entanto, em termos de conhecimentos adquiridos considero que dentro de outros cursos iguais ou idênticos, este é o mais amplo, o que tem mais materiais à nossa disposição e não nos limita em termos de criatividade.

 



 

M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?

M. L. D.: Não acho que seja um curso difícil, mas sim muito trabalhoso porque nos deparamos com problemas reais e aos quais temos que dar resposta num curto período de tempo. Somos também habituados a dar e receber opiniões e críticas de diferentes tipos de pessoas, o que nem sempre é fácil, mas é super importante.

M. F.: Julgo que é difícil por ser muito trabalhoso. Tanto temos disciplinas práticas como teóricas. São muitos os temas que precisamos de interiorizar desde fibras a tingimentos – incluindo a parte química, prática e criativa em qualquer que seja o tema ou a matéria.

 

 

M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?

M. L. D.: Sinceramente as minhas expectativas não são muito elevadas, eu tenho consciência de que quando começar a trabalhar não vai ser fácil! O mundo da moda é muito especial e competitivo, acho que o mais difícil vai ser adaptar-me a esta filosofia. Independentemente do “mundo que me espera” ser um pouco “violento”, eu acredito que me prepararam o melhor possível, tanto ao nível técnico como ao psicológico. Temos que saber para onde vamos e o que nos pode acontecer previamente.

M. F.: Espero encontrar um trabalho 100% relacionado com moda. Gostava de começar a trabalhar para uma empresa e talvez, mais tarde, criar o meu negócio. Mas eu tento não formular uma ideia certa, não me quero desiludir. Deixo as coisas acontecer.

 

 

M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?

M. L. D.: Sim, sem dúvida! Não acho que seja sempre necessário, cada pessoa faz a sua gestão e tem as suas oportunidades, mas acho importante procurar sempre algo mais. Não é em três anos que aprendemos tudo e estamos bem preparados para “encarar” com sucesso o mundo profissional.

M. F.: Vou seguir Mestrado na UBI, também em Design de Moda. Sempre quis fazê-lo, nunca coloquei a hipótese de só fazer a licenciatura.

 



 

M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?

M. L. D.: Sim, fazia! Acho que a decisão que tomei, apesar das dificuldades que foram surgindo, foi a melhor para o meu futuro! Saí de casa para uma cidade longínqua da minha, aprendi a viver sozinha e a governar-me e mudei completamente de área de estudo. Tive a sorte de acertar logo no curso dos meus sonhos, por isso agora é só trabalhar para ser o melhor possível e tirar o maior proveito disto!

M. F.: Sem dúvida. Sempre tive grandes expectativas para o curso e para a universidade e não me desiludi. Há sempre arestas a precisar de ser limadas mas isso é em todo o lado! No geral está tudo certo e a, universidade, disposta a melhorar continuamente.

 

 

M.: Que recomendações deixas aos futuros candidatos ao ensino superior?

M. L. D.: Recomendo que escolham bem o curso que querem tirar, mas que, ao mesmo tempo, pensem que se não acertarem à primeira não há problema nenhum! Todos acabamos por encontrar o nosso caminho. O mais importante é não desistir à primeira dificuldade!

M. F.: É uma das melhores alturas da vossa vida. Recomendo que a desfrutem q.b. Façam de tudo um pouco, divirtam-se sem nunca se esquecerem do motivo pelo qual foram para a faculdade.

 

 

M.: O que dizem… as tuas notas?

M. L. D.: As notas nem sempre refletem exatamente a qualidade dos conhecimentos e da apetência da pessoa. Eu tenho tido boas notas, mas esforço-me imenso para isso porque lhes dou valor, mas na área artística as notas são o que menos importa. Ter um bom currículo e um bom portefólio é fulcral! As notas acabam por ser um meio de nos guiarmos a nós próprios e analisarmos o quanto ainda temos de melhorar.

M. F.: Eu acho que as minhas notas dizem que me mato a trabalhar, que dou sempre o melhor que posso em cada frequência ou trabalho.

 

 

Margarida Lopo Dias é aluna de Design de Moda e Têxtil na Escola Superior de Artes Aplicadas e Marta Farinha de Design de Moda da Universidade da Beira Interior.