Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.
Ana Carolina Oliveira (A. C. O.): Estou a licenciar-me em Turismo, Território e Patrimónios. Tal como o nome indica, este curso trata o turismo nas suas várias vertentes e, por isso, tem imensas saídas profissionais desde a trabalhos mais ligados à vertente prática (guia intérprete, hospedeira, etc.) até a trabalhos mais “teóricos”, como de escritório e organizacionais.
Frederico Magalhães Bernardo (F. M. B.): Frequentei o curso de Informação Turística, que faz parte da oferta formativa da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). Existem várias saídas profissionais agregadas à minha licenciatura, mas a mais comum é a de Guia-Intérprete. Recebemos formação para acompanhar pessoas que decidem visitar o nosso país, ou até mesmo portugueses que procuram viajar para o estrangeiro e solicitam a presença de um guia que os acompanhe.
Mas não é só! Podemos trabalhar em monumentos, receção de hotéis, empresas de viagem…! Não estamos alocados a uma só saída profissional.
Hugo Leite (H. L.): O curso de Turismo prepara-nos para diversas saídas profissionais como por exemplo: agente de viagens, guia turístico, gestão de produtos turísticos, animação turística, entre outras profissões do ramo.
M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?
A. C. O.: Quando tive de escolher um curso, turismo foi a minha primeira opção! Sempre adorei línguas e interagir com outras pessoas. Para além disto, tive em conta que é um setor cada vez mais em crescimento no nosso país e, como tal, a possibilidade de encontrar um emprego aquando do final dos estudos é mais elevada.
F. M. B.: Essa é uma pergunta com rasteira! Na altura lembro-me de que não sabia o aquilo que havia de decidir. Estava muito baralhado e só sabia que existiam três coisas que gostava de fazer: aprender línguas estrangeiras, saber mais sobre História e comunicar com pessoas.
No dia anterior ao término das candidaturas, fui jantar com uma amiga que é Guia-Intérprete. Quando lhe falei da minha indecisão, ela explicou-me como funcionam os cursos da ESHTE e, em particular, a licenciatura em Informação Turística. Essa acabou por ser a minha única opção… entrei!
H. L.: Esta foi a minha primeira escolha ao entrar no ensino superior devido ao facto de ser uma atividade em ascensão na minha região e o principal motor económico da mesma.
M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
A. C. O.: Positivamente, o curso surpreendeu-me na medida em que é extremamente abrangente: ganhamos uma visão completamente diferente do mundo que nos rodeia. Em termos de aspetos negativos, não encontrei (ainda) muitos mas se calhar isso deve-se à falta de mais aulas onde consigamos colocar em prática tudo aquilo que vamos aprendendo.
F. M. B.: Positivamente, a oferta de línguas estrangeiras. Pude aprender duas novas línguas: optei por Italiano e Espanhol. Pela negativa, destaco os horários: como cada um pode fazer a sua própria escolha relativamente às línguas, tanto entrava às oito da manhã e saía às dezoito, como tinha aulas à tarde e “furos” enormes durante o dia…
H. L.: O curso está virado principalmente para a gestão turística e aquilo que me surpreendeu, tendo sido aluno de Línguas e Humanidades, foi ter disciplinas como Contabilidade ou Introdução à Microeconomia no primeiro ano. Inicialmente, achava que seriam inúteis mas percebi que um dos pontos mais positivos do curso é o facto de ser direcionado para a Gestão, dando-nos a possibilidade de prosseguir estudos num mestrado no ramo da Gestão de Empresas Turísticas, por exemplo.
Acho que devíamos ter mais línguas estrangeiras, principalmente o alemão, sendo um dos principais mercados dos Açores – mas isso mudará no próximo ano letivo, já que a faculdade conseguiu facultar-nos um curso de alemão optativo. Para além deste ponto negativo, também acredito que o curso devia oferecer uma disciplina de estágio obrigatória.
M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?
A. C. O.: Tem sido uma experiência bastante positiva! Na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra o curso em questão tem sido aquele que sempre imaginei frequentar!
F. M. B.: Foi uma aprendizagem constante. Todos os dias surgia um novo conceito e acabava por perceber que o mundo do Turismo não é tão pequeno como por vezes tendem a mostrar. Os meus colegas marcaram-me muito: levei amigos para a vida. E durante três anos acabei por criar uma grande família.
H. L.: O espírito de união existente entre os elementos do meu curso, bem como entre toda a faculdade. Na Universidade dos Açores, todas as escolas são concentradas no mesmo campus, algo que permite que façamos amigos mais facilmente e possamos comunicar com toda a gente sem existirem fatores de exclusão como a distância, por exemplo. Para além disso, os professores são fantásticos.
M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?
A. C. O.: Relativamente à adaptação, acho que todos vivemos um “choque inicial”, uns mais que outros. Para mim o início não foi fácil mas, com o tempo e com a ajuda de várias pessoas, fui-me ambientando.
O facto de ter ido para uma cidade que não conhecia, interagir com pessoas que nunca tinha visto e até mesmo o facto de “abandonar” a minha casa foram os maiores problemas.
F. M. B.: No início sofri um bocado! Como não tinha carro, percorria grandes distâncias diárias para chegar à faculdade. O primeiro semestre foi doloroso: para estar na faculdade às oito da manhã, tinha de me levantar três horas antes para não chegar atrasado! Depois, tudo começou a tornar-se mais fácil e com a ajuda dos amigos que fiz na faculdade, percebi que a minha vida académica não seria o fim do mundo!
H. L.: Primeiro, sofri um choque porquenão estava habituado a ter de estudar tanto nem a realizar tantos trabalhos. Acho que esta é a maior diferença que reparei entre os ensinos Secundário e Superior.
M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
A. C. O.: O curso é, sem dúvida, uma grande “alavanca” de preparação para o mundo profissional; no entanto, per si, não é suficiente.
F. M. B.: Sim! Os professores ensinam-nos da melhor maneira e incentivam-nos imenso. Lembro-me de um professor nos dizer que, no nosso curso, não nos podemos “agarrar” só à parte teórica – somos também responsáveis por promover o nosso país e que, por isso, temos de sair à rua, saber qual é o restaurante que está mais na moda, o bar ou café que atrai mais pessoas… Hoje em dia, o público é mais diversificado e o nosso sucesso na área depende também da diversificação dos nossos conhecimentos.
H. L.: Creio que o meu curso prepara-nos em parte, através das disciplinas “técnicas”, mas acredito que muitas das coisas só aprendemos quando começamos a trabalhar e não a estudar.
M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?
A. C. O.: Creio que a dificuldade do curso é relativa! Na minha faculdade, podemos escolher as cadeiras que queremos ter (apesar de existirem quatro obrigatórias) e cabe a cada estudante identificar as áreas em que se sente mais à vontade, escolhendo as cadeiras em função disso.
F. M. B.: Acho que todos os cursos têm o seu grau de dificuldade e o meu não foge à regra. Temos de nos esforçar muito, ler muitos textos, apreender uma quantidade infinita de conceitos e saber aplicá-los no exterior. Mas não há nada melhor que colocar os nossos conhecimentos em prática, sentindo um orgulho que nos preenche a alma!
H. L.: Considero o meu curso difícil, mas não acho que seja impossível de concretizar com esforço e dedicação. Nenhum curso superior é fácil e, em todos, é necessário haver trabalho.
M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?
A. C. O.: Tenho expectativas bastante positivas relativamente ao meu futuro no mercado de trabalho! Sei que no início não será fácil mas, apesar disso, não devemos desistir e é essencial que lutemos para exercer a profissão de que gostamos!
F. M. B.: Elevadas! Eu e os meus colegas estamos atualmente a trabalhar nas áreas que mais gosto nos dão. E isso constitui um incentivo para quem ambiciona ingressar na área do Turismo. Uns trabalham por conta própria, outros em empresas.
H. L.: As minhas expectativas são elevadas, pois esta é uma atividade fulcral na economia dos Açores.
M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?
A. C. O.: Refletindo acerca do final da licenciatura, os meus planos não passam por prosseguir estudos. Tentarei ingressar no mercado de trabalho e, talvez mais tarde, tirar um mestrado mais especializado na área do turismo.
F. M. B.: Sim, ainda que não saiba se vou optar pela oferta da ESHTE ou se explorarei outras áreas pelas quais nutro muito interesse.
H. L.: Sim, estou a pensar em ingressar num mestrado, mas ainda tenho três opções em mente: Gestão Hoteleira, Gestão do Turismo Internacional e Ciências Económicas e Empresariais.
M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?
A. C. O.: Claramente! Não poderia estar mais satisfeita com as pessoas que conheci e com o curso em si.
F. M. B.: Nem pensava duas vezes! A faculdade não traz só conhecimento de livros e estudo. Ensina-nos muito mais, como a ter um espírito nobre. Somos todos um, com o mesmo objetivo. É normal que nem todos pensem desta maneira e procurem ser muito criteriosos nas suas decisões, ou que se fechem numa “bolha”.
H. L.: Sim, faria, pois não me arrependo nada da minha escolha!
M.: Que recomendações deixas aos futuros candidatos ao ensino superior?
A. C. O.: Futuro estudante, não desesperes! Tudo tem uma solução mesmo quando não parece! Tenta a tua sorte no curso que pensas que será ideal! Não faças escolhas baseadas nos desejos dos outros, o teu futuro só a ti te diz respeito.
F. M. B.: Escolham aquilo que vos faz felizes! Não tomem decisões só porque vos dizem que x profissão dá dinheiro ou porque y é aquilo que os outros acham que é melhor para vocês. A escolha de um curso depende muito da vossa personalidade, das vossas aptidões, dos vossos sonhos…! A faculdade não vai ser um “mar de rosas”, pois cometemos sempre erros, erramos… Mas os vossos colegas vão lá estar para vos apoiar. Não vivam estes anos sozinhos. Partilhem aventuras com as pessoas que vos acompanham diariamente e acreditem que os frutos da licenciatura serão melhores!
H. L.: Aos próximos candidatos do Ensino Superior deixo apenas uma recomendação: não venham para a universidade pensando que é fácil, mas também não acreditem que se trata de um bicho de sete cabeças! Em relação à parte boémia da academia, ela existe e é igualmente importante, apenas precisam de definir o vosso tempo e as vossas prioridades.
M.: O que dizem… as tuas notas?
A. C. O.: As minhas notas dizem que preciso de umas férias nas Caraíbas!
F. M. B.: (risos) Dizem, sem dúvida, que foi uma missão cumprida! Que vivi todas as aventuras que a ESHTE me ofereceu. E que estou pronto para progredir no mercado de trabalho!
H. L.: No meu curso, temos de nos destacar pela positiva através da prestação curricular mas é importantíssimo, dependendo da profissão que queiramos seguir, que sejamos pessoas ativas e com boas skills de comunicação.
Ana Carolina Oliveira é aluna de Turismo, Território e Patrimónios na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Frederico Magalhães Bernardo de Informação Turística na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, e Hugo Leite de Turismo da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade dos Açores.