Ser caloiro foi das experiências mais engraças da minha vida. Aquela sensação de saber que vou fazer a figura mais estranha e ir perguntar a uma alma caridosa que tem cara de quem está na faculdade a algum tempo aonde é que se compram as senhas para a cantina; ou aonde é que fica a biblioteca; ou se é possível alugar um computador para fazer trabalhos. Ser caloiro é ter na alma a inocência pura e uma constante incógnita sobre tudo o que nos rodeia. E é isso que faz com que tudo seja tão bom, tudo é novidade, aos olhos de um caloiro, tudo é perfeito, por isso é que aproveitámos ao máximo. Se estás no teu primeiro ano da faculdade, aproveita, aproveita porque tudo é possível, e acredita, vai ser o melhor ano da faculdade! Tudo o que sonhas, acontece, pode não ser bem como imaginaste, mas é bom na mesma! O melhor de tudo é que não tens um limite para errar, aconteça o que acontecer, serás perdoado, afinal de contas és só mais um “caloiro burro e inocente”. Por isso, aproveita! Chateia os teus veteranos e irmãos de praxe, especialmente os teus padrinhos, que só estão lá para te aturarem, por isso usa e abusa deles enquanto podes, porque acredita, vai passar depressa.
Passa tão depressa que quando dás por ti, estás no segundo ano. Se te encontras no segundo (da licenciatura) ou entre o segundo, terceiro ou quarto ano (do mestrado integrado), vais mais ou menos a meio gás, já sabes o que esperar da faculdade e dos teus amigos. E do nada, acabou-se a inocência. No entanto, ser aluno do “segundo ano é a melhor e a pior coisa”. Dediquei um texto apenas e só a este tema, mas resumidamente quando tiveres cinco minutos, respira e aproveita enquanto os teus novos afilhados são pequenos e inocentes, que os caloiros crescem depressa demais. E se não tiveres afilhados, tem calma… quando menos esperares tens um caloiro burro e inocente a seguir os teus passos e sem saberes o que fazer, dá-lhe todo o carinho e amor que possas. Contudo, nunca te esqueças de passar a todos os caloiros os valores que te deram, desde os mais pequenos e insignificantes aos maiores e mais importantes, e vais ver que no fim do ano, tudo vai dar certo. Aproveita enquanto tens os teus padrinhos na faculdade, nunca te esqueças disso… mais tarde ou mais cedo eles vão embora, se não tiverem ido já, e vais sentir a falta deles, mesmo sabendo que eles estão sempre contigo, vais sentir muito a falta deles.
E do nada és finalista. Estás no ultimo ano do teu curso. Tens um ano, restam te cerca de 9 meses para aproveitares aquela que vai ser uma das melhores experiências da tua vida. Aquela que de certeza já tem momentos inesquecíveis e que vais levar para sempre no teu coração. Para ti quase nem tenho palavras. Aproveita, tudo e todos. Desde os momentos mais pequenos, às maiores festas. Quando deres por ti estás licenciado ou viraste mestre e nem sabes como. De todos os anos, o de finalista foi o que passou mais depressa. De todos os anos o de finalista foi o que me trouxe as pessoas que hoje levo comigo para vida.
Contudo este ano já começou, há mais de um mês. E precisei de algum tempo, para me habituar a esta nova realidade. Sou licenciada, a minha vida mudou imenso. Mudou completamente. Já não vou para a faculdade, ou para aquela a que durante três anos chamei de segunda casa. Já não passo o dia com os meus amigos, com aqueles acredito que apesar da distância e de agora termos vidas diferentes, eu sei que vou ter para sempre no meu coração. Como se isto não fosse suficiente, e como estudante deslocada que continuo a ser, mudei de casa, porque mudei de faculdade, pois entrei no mestrado. A verdade é que no fim de tudo, acredito que as coisas mudaram, mas mudaram para melhor, e a verdade é que me sinto caloira outra vez. E acredito que quem começou a trabalhar agora sente o mesmo. Voltamos a poder ser inocentes, mas desta vez com alguns limites.
Contudo, todos os dias tenho uma saudade enorme da minha segunda casa, a minha antiga faculdade. É assim, para ser honesta, não tenho saudades nenhumas das aulas; ou do professor que não dava os diapositivos com a matéria; ou daquele colega egoísta que achava que sabia tudo, e não partilhava nada com ninguém, mas que se calhar a esta hora ainda está com uma ou duas cadeiras por fazer. Disso não tenho saudades, acabei o curso e é com orgulho que hoje digo que sou licenciada, porque literalmente saiu-me da pele.
Mas tenho saudades, dos professores que fingiam que não viam os auxiliares de memória que toda agente usa “naquela cadeira”. Tenho saudades dos furos de três horas que me obrigaram a conhecer as pessoas que hoje levo comigo para a vida. Tenho saudades de ir à faculdade com a esperança de ver os meus padrinhos. Tenho saudades de ir para a faculdade com a certeza de que vou ter lá à minha espera os caloiros burros e inocentes que me escolheram como madrinha. Até da rampa com quase um quilometro que tínhamos de subir todos os dias para chegar à faculdade uma pessoa tem saudade.
E agora só de capa guardo na memória, uma das melhores experiências da minha vida. Agora só de capa, volto àquela que foi, e sempre será a minha segunda casa. Reencontro aqueles que agora, só vejo de vez em quando. E quando os volto a ver pergunto como vão as coisas, e a resposta é semelhante entre todos: “está tudo na mesma, uma seca, é estranho não te ter cá, é estranho não te ver todos os dias”. A verdade é que não é só para vocês que é estranho, para nós, os que deixamos a faculdade também é estranho. Imagina eu que acordo todos os dias e não vou para a faculdade… não vou aturar as pessoas mais stoopidas, mais pacientes, mais irritantes, mais chatas, mais lamechas, mais que tudo que a vida me deu… imagina eu que acordo todos os dias com a certeza de que não vou ver os meus rebentos… imagina eu que acordo todos os dias a rezar que seja quinta feira para perder as maiores três horas do meu dia para ir à minha antiga casa ver aqueles que lá deixei, nem que seja só por cinco minutos… imagina eu que agora chego à minha antiga casa e não conheço metade das caras que lá andam… É estranho para nós, mas também significa que a vida continua, continua depois de tudo o que vivemos na faculdade, continua mesmo depois de deixarmos a nossa segunda casa. Significa que existe esperança. Esperança para os que ficam de que é possível acabar o curso. E esperança para os que vão, de que se voltarem, vão ter lá à espera deles os que ficaram. Esperança de que o que os une é muito maior que a faculdade, e que jamais o que a faculdade uniu, alguém irá separar.
Acabei o curso, mas uma nova fase começou. E por isso, e antes de tudo, a ti recém-licenciado ou mestre, parabéns porque conseguiste, acabaste o curso. Por mais incrível que isso possa parecer, por mais que tenhas achado que era impossível, não foi. E só nós sabemos o que isto significa, por isso parabéns. E se ainda não conseguiste organizar a tua vida, porque ainda não arranjaste trabalho ou porque queres um estágio no estrangeiro e não há meio de vir o certificado de habilitações, faz o que eu não consigo, tem calma, respira e de certeza que vais encontrar uma estrelinha que te vai guiar, te vai levar no rumo certo, e no fim do dia, vai correr tudo bem. E já sabes, e sempre soubeste, qualquer que seja a circunstância, podes sempre voltar à tua segunda casa, pois “bom filho a casa torna” e durante os próximos tempos vais ter sempre pessoas para te receberem lá.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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