A parte mais justa de se poder apadrinhar um caloiro tem que ver com o facto de quem o pode fazer já ter sido apadrinhado também. Essa é a parte mais justa e também a mais mágica. Contudo, há que estar ciente da responsabilidade que é aceitar um/a caloiro/a como afilhado/a. Batizar um/a caloiro/a não é só chegar ao Mondego e despejar-lhe um penico de água em cima.
Em Coimbra – curiosamente a cidade onde tudo começou e aquela que é a cidade académica – os caloiros são recebidos através da Festa das Latas que se realiza em outubro (altura em que já estarão presentes os caloiros das segunda e terceira fases). Essa grande festa culmina com o batismo no rio Mondego. Isto pressupõe que cada caloiro deva com a devida antecedência convidar um/a doutor/a para padrinho/madrinha. É então dever daquele que aceita o/a caloiro/a preparar-lhe uma fatiota que este/a irá exibir com gabo ao longo do cortejo que antecede o batismo.
Ora, apadrinhar um/a caloiro/a, contudo, é bem mais do que lhe preparar um fato bonito. Apadrinhar também não é só praxar nem procurar integrar nas primeiras semanas. Um/a caloiro/a é um ser humano, com sentimentos, com medos e fragilidades próprias de tal condição. Assim sendo, batizar um/a caloiro/a é dizer a um ser humano que estamos disponíveis para o ajudar em tudo o que for preciso, é assumir um compromisso de amizade para com essa pessoa, não só no início mas ao longo de toda a vida académica – mesmo quando o/a caloiro/a deixar de ser caloiro/a.
É por isso que todos os doutores de praxe devem ter consciência daquilo que representa um batismo, ao fazê-lo estão a dizer a uma pessoa: eu vou ajudar te em tudo o que precisares.
O resto depende das metas de cada um. Eu, por exemplo, tenho uma afilhada e os meus objetivos passam sempre por lhe transmitir os valores da tradição coimbrã, da praxe e de toda a academia, aliados a uma amizade sincera. Batizei a minha afilhada ciente desta responsabilidade, tal como batizei outra caloira com a qual sinto igualmente o peso do compromisso. Quando as batizei, sabia que não era um momento apenas. Sabia que estava a comprometer-me a estar ali para elas e a dar tudo de mim para que elas fossem felizes na cidade e sentissem a minha presença e amizade. Soubessem que as estava a acolher.
Às vezes isto parece tudo uma brincadeira… a praxe, a vida académica, a boêmia… e é, é uma brincadeira, mas uma brincadeira muita séria e quem não tiver essa consciência, por favor, que não brinque.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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