Primeira vez a escrever um artigo científico ou académico? Ou já fizeste alguns, mas continuas um pouco atrapalhado/a com a parte da investigação? Não te preocupes, estou aqui para dar umas dicas que (e é discutível) te poderão ajudar com esse tipo de trabalhos.
Adianto que o meu método não é infalível, mas tem resultado relativamente bem comigo. Contudo, cada estudante é um estudante e cada método é um método, por isso o ideal é que cada um descubra aquilo que melhor funciona para si próprio e para a sua área de estudos!
Eu costumo dizer que, para escrever um artigo de cinco páginas, é preciso ler, no mínimo, vinte artigos e dez livros. Para alguns pode parecer excessivo, para outros pode parecer pouco. Mas a verdade é que pesquisa nunca é excessiva, se for feita de forma produtiva. Por isso, aqui vamos nós, com o meu passo-a-passo de como pesquisar e organizar essa pesquisa para um artigo, ou apenas para um trabalho básico de investigação.
1. Conhece as normas APA
(Ou aquelas com que o teu estabelecimento de ensino trabalha.)
É impossível escrever um artigo sem conhecer as normas de referenciação; A APA, em específico, é um conjunto (extenso) de regras que devemos seguir quando referenciamos obras e artigos de terceiros. Em Portugal usam-se sobretudo essas e são aceites de forma geral em termos internacionais. Não irei aprofundar muito essa questão, mas uma pesquisa rápida no Google devolve vários documentos onde estão explicadas as principais, e mais necessárias, normas da APA. Segui-las significa prevenir acusações de plágio ou não perder aqueles pontinhos porque não citámos devidamente um autor.
2. Pensa bem no tema do artigo/trabalho
Seja um tema dado pelo professor ou seja um tema selecionado por ti, precisas de pensar bem nele antes de te lançares de cabeça a fazer pesquisa. Começa por fazer um esquema, uma espécie de brainstorm, mas a solo, onde tentas perceber exatamente sobre o que é que vais ter de pesquisar dentro daquele tema. Por exemplo, num artigo sobre Comunicação Digital, eu terei de investigar, entre outros assuntos, sobre a Internet e a Web (não, não são exatamente a mesma coisa), as TIC, etc, etc, etc.
3. Começa a procurar
Tendo por base esse esquema de relações temáticas, começa a procurar literatura sobre esses temas. Podes fazê-lo através de literatura ou de artigos científicos. Os melhores sítios para procurares um ou outro são as bibliotecas da tua universidade/faculdade e o Google Scholar. Não conheces o Google Scholar? Não sabes o mundo mágico que estás a perder. O Google Scholar é uma “secção” do Google dedicado exclusivamente ao mundo académico, onde podes encontrar artigos de estudiosos de todo o mundo e sobre os mais variados temas. Apenas faz uma pesquisa normal sobre o tema que estás a investigar a irão aparecer resultados que tenham esse tema como palavra-chave.
Atenção: é preciso ser seletivo e crítico na hora de escolher e ler esses artigos, tal como em qualquer outro suporte! Alguns artigos são pagos, mas a maioria são gratuitos. E se acederes ao motor de busca através do IP (que é como quem diz, a Internet) da tua universidade/faculdade, mais resultados te irão aparecer (e alguns dos artigos pagos passarão a gratuitos).
4. Começa a ler – e a tomar nota
Se queres ter uma bibliografia sólida e pesquisa aprofundada, precisas de começar o mais cedo possível. Portanto, se tens três meses para fazer esse trabalho, recomendo vivamente que comeces, pelo menos a pesquisar, no primeiro mês. Acredites ou não, a parte de escrever é que a leva menos tempo; a pesquisa é a alma do negócio aqui. Mas mais importante: conforme fores lendo, vai tomando nota dos excertos e páginas que são mais relevantes; acredita, ler o livro todo e depois voltar atrás para procurar (novamente) o que é útil é um desperdício de tempo (e corres o risco de te esquecer de algumas coisas). Por isso, a minha dica é: sempre que fores ler um livro, fá-lo com uma caneta e um caderno ao lado. Por norma, eu tomo nota da seguinte forma:
TÍTULO DO LIVRO + AUTOR
DADOS SOBRE O LIVRO (editora, ano, local de edição, etc.)
PÁGINA ONDE CITAÇÃO X ESTÁ
“Início da citação relevante (…) fim da citação relevante.”
(Ou podes, claro, apenas tomar nota da citação completa, mas isso é pouco produtivo quando um parágrafo inteiro nos interessa.)
Também podes fazer isso no teu computador, mas a experiência diz-me que é desconfortável tentar manter um livro aberto e escrever num teclado ao mesmo tempo.
Uma alternativa (cuja legalidade é um pouco questionável) é fotografar ou digitalizar (a aplicação Adobe Scan faz um trabalho satisfatório a digitalizar documentos com o telemóvel diretamente para PDF) as páginas que são interessantes, para ter um registo mais fiel daquilo que se pretende guardar
(eu costumo digitalizar/fotografar a capa do livro e a página com os dados fundamentais, também, e depois envio uma cópia para o meu e-mail para poder aceder no computador). Esta última situação é particularmente útil quando temos prazos curtos para devolver os livros, ou quando podemos requisitar poucos livros de cada vez. Por exemplo, na FLUC, estudantes de Mestrado podem requisitar 5 livros de cada vez, por 15 dias, com direito e renovar duas vezes; mas estudantes de Licenciatura têm prazos bastante mais apertados e limites mais pequenos. Com esta técnica, podem-se ir requisitando vários livros sem ter de acumular os anteriores em casa. Fundamental é não distribuir esses documentos/cópias para nenhum sítio.
5. Organizar a informação
Ok: já leste vários livros e vários artigos, já tens imensas folhinhas com citações, já leste tanta coisa que já nem sabes como te organizar. Calma! O truque é meter tudo em gavetinhas. E é aqui que eu normalmente começo a dar maior uso ao computador – que até aqui serviu essencialmente como apoio e não como ferramenta. Lembras-te daquele esquema que fizeste lá em cima, onde dividias o teu tema em subtemas? Agora tens de fazer mais ou menos o mesmo, mas apenas com os temas que decidiste abordar no teu artigo/trabalho e sobre os quais tens informação. Aqui, o Word (ou outro
software de processamento de texto [ps.: Libre Office é um ótimo sofware, totalmente gratuito e profundamente idêntico ao Microsoft Word!]) é extraordinário para arrumar as nossas citações e ideias em gavetinhas. Mais ou menos neste estilo:
- TEMA: COMUNICAÇÃO DIGITAL
- SUBTEMA: INTERNET
- 1 – A ORIGEM DA INTERNET
- Título do livro/artigo + nome autor
- Página. – “Citação completa um”
- Página. – “Citação completa dois”
- Título do livro/artigo + nome autor
- Página. – “Citação completa três”
- 2 – REDES SOCIAIS
- Título do livro/artigo + nome autor
- Página. – “Citação completa quatro”
E por aí diante. Dessa forma, quando fores escrever o teu artigo/trabalho, vai ser mais fácil encontrar as citações/referências de acordo com aquilo que estás a escrever no momento, sem teres de andar a virar e revirar todas as páginas e fotocópias e cadernos onde tomaste nota das coisas.
Ps.: Não te esqueças de, ou nesse documento ou noutro, ter aponte todos os dados editoriais do livro! Vais precisar deles para fazer o referenciamento correto de acordo com as normas APA/outras.
6. Finalmente: escrever
Aqui, cada pessoa tem o seu método. Há quem faça um esquema, um rascunho em papel, uma tabela… cada um sabe como trabalha melhor na hora de pôr as mãos na massa. Aqui, o teu método só tu podes escolher. Mas, seja ele qual for, certamente será mais fácil se seguires as dicas lá de cima.
E não te esqueças de rever no final (várias vezes)!