Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.
Ana Rita Costa (A. R. C.): Tirei o curso de Biologia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias que tem a duração de 3 anos.
O curso de Biologia consiste no estudo dos seres vivos, na análise de todo o ambiente envolvente, o papel desses seres vivos no ecossistema e as interações existentes entre eles.
Como o tema Biologia é bastante vasto, podemos seguir várias áreas a nível profissional, como investigação científica, análises forenses, indústria alimentar, conservação da Natureza, ilustração científica, docência, entre outras.
Cláudia Amorim (C. A.): O curso de biologia aborda várias áreas das quais se destacam a Biodiversidade, Biologia Humana, Ecologia, Evolução, Fisiologia, Genética e Microbiologia. A obtenção do grau de licenciado permite enveredar no mercado de trabalho em áreas ligadas ao Ambiente, Gestão de Recursos Vivos, Saúde, Biotecnologia, Indústria Alimentar, Produção Vegetal e Animal, bem como Análises Forenses.
Ricardo Dionísio (R. D.): O que posso dizer acerca deste curso… Penso que todos aqueles que adoram a “vida” (“lógica da vida” – Biologia) devem ponderar a escolha deste curso. É um curso muito abrangente onde abordamos muitas áreas, como Botânica, Zoologia, Genética, Química, Fisiologia, … e penso que seja isso que o torna tão interessante. Biologia não é só estudarmos animais, como muitos pensam, há muito mais por estudar/desvendar… Um aluno de biologia tem valências para fazer parte de uma equipa de investigação em qualquer área do domínio da ciência, ainda que por vezes não vejamos essa associação.
Existem variadíssimas saídas profissionais, como o estudo, a identificação e a classificação dos seres vivos e seus vestígios; estudos, análises biológicas e tratamento de poluição de origem industrial, agrícola ou urbana; organização, gestão e conservação de áreas protegidas, parques naturais e reservas, jardins zoológicos e botânicos e museus cujos conteúdos são dedicados fundamentalmente à Biologia ou similares; estudos de genética humana, animal, vegetal e microbiana; estudo e aplicação de processos e técnicas de biologia humana, nomeadamente no domínio das análises clínicas e nos domínios biomédicos e farmacêuticos; investigação científica fundamental ou aplicada em qualquer área da Biologia; consultadoria, peritagem, gestão e assessoria técnica e científica em assuntos e atividades do âmbito da Biologia.
M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?
A. R. C.: Foi e não foi a minha primeira escolha, mas eu explico! Sempre estive ligada à área de Ciências desde o Secundário, por isso sabia que era esse o caminho que tinha de seguir. Sempre pensei em seguir Medicina Veterinária ou até Ciências Forenses, pois são duas áreas que sempre adorei, mas como não tinha uma média alta e são cursos caros no ensino privado, acabei por optar por Biologia que englobava as 2 áreas.
Deste modo, a minha primeira escolha a nível público foi Veterinária e a nível do ensino privado, foi Biologia.
C. A.: O principal fator que considerei na escolha do curso foi a sua elevada abrangência. Para muitos isto poderia ser um problema, no entanto, sempre tive interesse em várias áreas da biologia e, sendo incapaz de optar por uma ou por outra mais específica, considerei que o melhor seria receber bases de várias áreas. Assim, biologia tornou-se a minha primeira escolha, até porque me dá acesso a uma diversidade de mestrados no futuro em Universidades por todo o país.
R. D.: Quando realizei a candidatura para o Ensino Superior ainda não tinha a certeza do que queria seguir, mas na minha escolha queria um curso um pouco abrangente porque ainda não sabia o que queria fazer no futuro e assim adiaria por mais uns anitos a minha opção. Daí que tenha optado por Biologia, um curso abrangente com muitas saídas profissionais possíveis, e que por acaso até tinha média para tal. E entrei! Entrei como primeira opção Biologia na UA. E hoje em dia não me arrependo da minha escolha.
M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
A. R. C.: Surpreendeu-me pela positiva a relação de proximidade de grande parte dos docentes, o facto de ter muitas aulas práticas e de pôr a mão na massa, digamos.
Na Lusófona, conseguimos ter contacto com diversos equipamentos e técnicas de laboratório e podemos pôr em prática essas mesmas técnicas. Temos também vários trabalhos de campo onde usamos as técnicas que aprendemos na teoria, o que nos ajuda a entender o trabalho real de um biólogo.
Pela negativa, foi a parte de não haver estágio integrado na altura em que fiz o curso e termos que o procurar por fora, penso que agora já estão a tratar disso e já têm um projeto no final do curso.
C. A.: Tenho a oportunidade de ter aulas com investigadores experientes que possuem diversos trabalhos publicados, quer na área da biologia celular e molecular ou até mesmo das plantas e dos animais. Ter este contacto também nos permite obter conhecimento extra, ou seja, ir para além daquilo que está previsto no programa. Alguns professores mostram-nos partes dos seus trabalhos e acabam por se tornar uma inspiração, porque esperamos um dia poder fazer o mesmo que eles fazem.
Aspetos negativos? Sinto que alguns dos professores não têm muita paciência para nos ajudar (espero que eles não vejam isto)… No entanto, isso acaba por nos obrigar a desembaraçar sozinhos e a sair mais da nossa zona de conforto.
R. D.: O que me mais surpreendeu pela positiva no curso foi o profissionalismo exercido por alguns docentes, o companheirismo dos alunos mais velhos para com os mais novos (sempre que podiam ajudavam-nos com resumos, exercícios, testes, etc), a matéria lecionada, basicamente foi tudo uma grande surpresa.
Pela negativa, só tenho a apontar a falta de motivação, de “paixão” acerca da matéria dada por alguns professores. Quer queiram, quer não, os professores têm muita influência nos gostos dos alunos acerca de certas matérias, por exemplo, se os professores estiverem ali a passar slides e a debitar matéria sem que nos incentive a sermos mais curiosos e a querermos aprender mais, muito provavelmente ninguém (ou quase ninguém) vai seguir essa área por achou desmotivante, frustrante, entediante. Daí que por vezes precisamos de professores que adoram uma dada área ou que adorem ensinar para nos poder cativar a estudarmos mais e mais. Tive alguns professores que o conseguiram fazer e é graças a eles que continuo aqui a estudar.
M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?
A. R. C.: Eu já acabei a licenciatura em 2014, mas foi uma experiência enriquecedora e fantástica apesar de todo o esforço e de todas as noites mal dormidas. O que mais me marcou foi sem dúvida as amizades que ficaram e todo o ambiente académico. Sou a prova viva do que é costume dizer, que os anos de universidade são os melhores e que depois temos saudades deles.
C. A.: O curso está a exceder as minhas expectativas. A biologia realmente pode fascinar-nos, estamos constantemente a aprender mais e mais e, no entanto, parece que aquilo que está por descobrir é muito mais do que aquilo que já foi descoberto. Para além disso, também temos cadeiras ligadas a outras ciências, como Química, Física…É engraçado perceber como as coisas se associam.
R. D.: A experiência tem sido muito boa. Eu diria que o que me marcou mais foram as pequenas atividades em prol do curso, quer seja a praxe, quer seja o desfile de curso, quer seja a equipa de futsal, quer sejam os jantares de curso, … e sem dúvida alguma, as PESSOAS, que fui conhecendo ao longo destes dois anos.
M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?
A. R. C.: A minha adaptação foi super normal porque já tinha uma amiga de secundário a tirar o mesmo curso, o que tornou tudo mais fácil.
O que também ajudou bastante foi o ambiente no curso de Biologia que é como o do ensino secundário, são turmas pequenas e os professores também são muito próximos.
Em relação à parte académica, o 1º ano foi complicado porque vamos com a ideia que estudar uma semana antes da frequência chega mas não é bem assim, até porque considero que o 1º ano é dos mais complicados, com aquelas matérias que ninguém gosta como Física, Química e Cálculo e isso sim, foi complicado.
C. A.: Os primeiros dias não foram nada fáceis. Penso que não são fáceis para ninguém, mas é uma questão de hábito… Depois de termos uma rotina bem estabelecida, aí sim, parece que as coisas acontecem mais naturalmente. O facto de não sermos os únicos nessa situação, também nos ajuda de certa forma a quebrar obstáculos.
R. D.: No início é sempre complicado, ainda para mais, quando vais para um local novo onde não conheces ninguém… mas é apenas passageiro. À medida que o tempo vai passando, vamo-nos adaptando ao local, às pessoas, aos estudos, … vamos nos desenrascando (penso que seja o termo mais importante durante o ciclo universitário). Sem dúvida alguma que o meu principal desafio foi o estar longe da família, dos amigos, dos animais de estimação… o estar longe de casa, basicamente.
M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
A. R. C.: Acho que no geral sim, temos professores bastante experientes na área e uma boa base prática e teórica, embora pudessem modificar algumas cadeiras para que pudéssemos adquirir mais competências, tal como disse anteriormente, era importante para nós termos projetos de investigação ou inglês mais técnico, uma vez que vamos ter contacto com muitos artigos científicos (apesar de agora existir a cadeira de Inglês Científico no 1º ano).
C. A.: Sim, sem dúvida. O curso tem uma vertente teórica e uma vertente prática muito fortes. Biologia não é só “marrar”, também implica explorar um pouco e ver como as coisas funcionam na prática.
R. D.: Para uma primeira formação, criando bases de conhecimento e de metodologia, sem dúvida alguma! Claro que depois precisamos de uma formação complementar/ de especialização, através de um mestrado (ou de CETs) para desempenharmos a tal profissão.
M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?
A. R. C.: Todos os cursos têm a sua quota-parte de difícil, mas sempre ouvi dizer que Biologia era um curso pesado, tem muitas cadeiras consideradas “cadeirões” mas não é nada que não se faça com estudo e dedicação. Eu pessoalmente chumbei a algumas cadeiras e tive que as repetir, mas consegui concluir o curso sendo uma aluna mediana.
C. A.: Não considero um curso extremamente difícil, mas é preciso estudar bastante, uma vez que há uma infinidade de novos conceitos e pormenores que temos de saber. A maioria dos alunos termina a licenciatura com uma média de 12 valores (cá na FCUP)…É preciso dedicação, tal como em todos os cursos, mas quem corre por gosto não cansa.
R. D.: Depende, se quiseres tirar muito boas notas (> 15) é necessário ter um estudo de qualidade e metódico. Se quiseres só fazer cadeiras, não é muito difícil, ainda que quase ninguém pensa assim, acho eu…. Existem cursos que exigem muito mais estudo que Biologia, sem sombra de dúvidas, portanto diria que o nosso curso é mediano.
M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?
A. R. C.: Até agora ainda não consegui trabalhar na área, mas acho que neste momento é complicado para qualquer curso. Creio que, se nos conseguirmos envolver em projetos, estágios e nos conseguirmos movimentar no meio, teremos sucesso.
C. A.: Sei que não será tarefa fácil, mas gosto de desafios. Sou determinada e não descansarei enquanto não chegar onde quero. Apesar dos comentários negativos que fazem sobre a empregabilidade do curso, acredito que há sempre lugar para os que não desistem.
R. D.: Muito sinceramente ainda não pensei muito nisso… mas claro que se pudesse exercer na minha área era preferível, mas de qualquer das formas o trabalho em si não me mete medo.
M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?
A. R. C.: Sim, neste momento estou a fazer uma pós-graduação em Medicina Laboratorial na Católica.
C. A.: Sim, sem dúvida. Pretendo frequentar um Mestrado. Há muito por onde escolher. Tenho visto já alguns interessantes…Ainda estou a ponderar.
R. D.: Sim, pelo menos, fazer Mestrado, sim. Depois dependerá muito do meu desempenho e de possíveis propostas de trabalho.
M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?
A. R. C.: Penso que sim! É uma área que adoro e que me fascina. Embora saiba que o mercado de trabalho esteja sobrelotado, acho que é uma das melhores áreas para se trabalhar para quem é apaixonado pela Natureza.
C. A.: Obviamente. Desde que ingressei em Biologia fiquei ainda mais alerta para os problemas que surgem, sobretudo a nível ambiental. O interesse aumenta a cada dia que passa, assim como a vontade de querer fazer alguma coisa para melhorar o que não está tão bem. É uma luta constante, porque nem toda a gente está sensibilizada para determinados assuntos, como por exemplo a extinção de espécies. Eu própria não dava a devida atenção, mas agora sinto-me no dever não só de alertar, mas também de fazer algo para evitar que cheguemos a situações extremas…
R. D.: Sim, claro que sim! Fiquei a adorar o curso e não me via a estudar outra coisa.
M.: Que recomendações deixas aos candidatos ao ensino superior deste ano?
A. R. C.: Que pensem muito bem na área que querem escolher e no curso que querem tirar, não se ponham num curso só para dizer que são licenciados. Informem-se sobre aquilo em que os cursos consistem e perguntem a amigos ou a outras pessoas que já os tenham feito. Não se assustem com a quantidade de matéria porque não são bichos de 7 cabeças, eu própria tinha medo e pensava que não conseguia ter cabeça para tudo, mas no fim consegui licenciar-me. Sigam os vossos sonhos e divirtam-se!
C. A.: Tomem uma decisão que considerem que vos vai deixar realizados. Ao escolher um curso pela empregabilidade arriscam-se a ficarem frustrados, principalmente se for uma área que não vos desperta o mínimo interesse. Portanto, sigam aquilo que gostam, mesmo que vos digam que “isso não tem uma empregabilidade lá muito boa”. Pode até não ter, mas tudo se resolve. Alguma coisa conseguirão encontrar, confiem.
R. D.: As recomendações que deixo são ver todas as opções que existem, ver as áreas com que se identificam mais, ler testemunhos de alunos que já frequentaram o curso em questão (quem sabe não se identifiquem com a situação), frequentar as academias de verão proporcionadas por alguns estabelecimentos de ensino superior (por vezes descobrem o que gostavam de fazer nessas academias), e rever os tópicos do Uniarea, pois claro!
M.: O que dizem… as tuas notas?
A. R. C.: Isso é uma pergunta difícil, como disse anteriormente sou uma aluna mediana, mas acho que dizem que me esforcei e que fiz o que estava ao meu alcance. Mas não quero focar-me tanto na média que tive, mas na capacidade prática que tenho que penso ser mais importante.
C. A.: Dizem que valeu a pena todo o esforço, todo o suor e todas as lágrimas. Tive de abdicar de algumas coisas, mas não me arrependo disso. Foi pelo melhor e não teria feito as coisas de maneira diferente.
R. D.: As minhas notas refletem que um tive inicio um pouco atribulado, mas que à medida que o tempo vai passando, a experiência e a motivação estão a fazer com que as notas melhorem substancialmente e que neste terceiro ano de matrícula que se aproxima, continue assim.
Ana Rita Costa é aluna da Escola de Psicologia e Ciências da Vida da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Cláudia Amorim da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e Ricardo Dionísio é estudante da Universidade de Aveiro.