Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.
Carolina Borlido (C. B.): O curso de Bioquímica consiste na área de investigação. Inicialmente pensava que só tinha saídas relacionadas com a investigação na área da genética mas percebi que existem diversas saídas profissionais. Como por exemplo laboratórios clínicos, trabalhos nas áreas de biologia, química e bioquímica, investigação e indústria farmacêutica.
Inês Sá Borges (I. S. B.): O curso que frequento há cerca de um ano é a Licenciatura em Bioquímica na UTAD. É um curso que, como o nome indica, mistura uma componente ligada à Biologia e outra ligada à Química e, que tem em vista preparar profissionais que desempenhem funções técnicas altamente diferenciadas em diversos ramos na área da Bioquímica. Sendo por isso necessário o trabalho laboratorial, onde serão desenvolvidas estratégias de resolução dos mais diversos problemas científicos.
É uma área que até ao momento apresenta diversas saídas profissionais como o desenvolvimento de investigação científica interpretando e recolhendo informações relevantes, desempenhar funções de Coordenação Técnica Laboratorial, desempenhar funções técnicas de apoio em Laboratórios ou Hospitais ou até mesmo desenvolvendo aplicações biotecnológicas para a Indústria.
Raquel Cardoso (R. C.): Bioquímica, tal como o nome indica, é um curso que abrange cadeiras tanto de biologia como de química, tentando mostrar sempre que estas duas áreas se relacionam quase sempre. Em relação a saídas profissionais, é um curso bastante versátil, permitindo ao estudante seguir investigação ou educação no caso de pretender dar aulas. Também é possível seguir um ramo mais relacionado com a saúde, nomeadamente trabalhar em laboratórios de análises químicas ou de saúde pública. Não esquecer que Bioquímica permite ainda trabalhar em áreas mais relacionadas com a indústria, como por exemplo indústria farmacêutica, cosmética ou alimentar.
M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?
C. B.: Eu escolhi o meu curso na faculdade de ciências (FCUL) porque queria estudar sobre doenças, mais especificamente como curar doenças, como o cancro. Foi a minha primeira escolha e tive vários critérios em conta. Inicialmente queria ir para medicina, mas não tinha média, depois percebi que realmente o que queria era estudar como curar doenças e após falar com uma investigadora que me explicou do que se tratava a investigação, escolhi este curso.
I. S. B.: Só perto do final do secundário é que tive noção que gostava de frequentar um curso relacionado com o trabalho laboratorial. Após falar com uma amiga de uma tia minha, que por acaso está licenciada e trabalha nesta área e, de investigar sobre o curso considerei ser uma das minhas opções. E, de facto foi com Bioquímica que preenchi 3 das minhas opções (da 3ª à 5ªopção), deixando em primeiro Genética e Biotecnologia também na UTAD e, para segundo Biologia Celular e Molecular na NOVA. Coloquei Bioquímica na UTAD como 3ª opção pois assemelha-se muito ao curso de Genética, só que é um pouco mais abrangente, o que até foi melhor pois tenho um leque de opções muito maior em termos de especialização no futuro.
R. C.: Eu sempre gostei muito das disciplinas de química e biologia, mas nunca tive intenção de ir para um curso onde só houvesse química, porque achava que seria “demasiado pesado”. Também queria um curso onde não houvesse muita física. Assim Bioquímica foi logo a minha primeira opção.
M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
C. B.: Pela positiva adorei as pessoas que conheci e as diversas aventuras que tive e que o curso me proporcionou. Fiquei muito surpreendida por descobrir que existem imensas saídas profissionais, ainda mais do que aquelas que me foram ditas quando ingressei em Bioquímica. Negativamente, posso salientar vários aspetos. Ao contrário do que se pensa, Bioquímica não é um curso fácil, muito pelo contrário, é muito trabalhoso e difícil. Fiquei desiludida com a abordagem da matéria porque o curso baseia-se muito em proteínas, mas é um curso muito geral.
I. S. B.: Pela positiva, sem sombra de dúvidas o trabalho laboratorial que temos desde o início do primeiro semestre. Desde de cedo que somos informados de como devemos manusear determinados instrumentos e que cuidados devemos ter. Pela negativa, até ao momento não tenho nada a informar.
R. C.: Posso dizer que a componente prática que tive até agora surpreendeu-me e muito pela positiva. Claro que tinha noção que se tratava de um curso com grande presença em laboratórios, mas nunca pensei que, ainda estando no primeiro ano, já tivesse adquirido tantas técnicas laboratoriais que me serão sempre úteis na minha carreira. Pela negativa, talvez seja mais difícil arranjar um exemplo, mas talvez tenha sido a presença de algumas cadeiras de física no segundo semestre do primeiro ano. Claro que não é a física dada nas engenharias, mas para quem não gosta muito destes temas, custa sempre.
M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?
C. B.: O que mais me tem marcado neste curso tem sido a minha vida académica, tanto a PRAXE, como a Tuna. As pessoas que conheci e que me apoiam são pessoas que me irão acompanhar para a vida, é como se costuma dizer, as pessoas que se conhece na faculdade costumam ser para a vida.
I. S. B.: Não posso deixar de mencionar que tudo o que sei até ao momento se deve ao excelente trabalho dos professores desta academia. Estão sempre dispostos a ajudar e a esclarecer quaisquer tipos de dúvidas. Estando por isto esta academia de parabéns!
O que me marcou mais ao ingressar no Ensino Superior foi sem dúvida, a deslocação de Lisboa para Vila Real. Local onde nunca antes tinha estado e, onde não conhecia ninguém, pelo que tive de aprender a viver sozinha, o que de certa forma me tornou mais autónoma, organizada e segura de mim mesma.
No geral posso dizer que me senti bastante acolhida por todos em Vila Real, desde os meus colegas e professores aos habitantes desta cidade.
Como se trata de uma cidade pequena e, sendo comum a deslocação de pessoas dos mais diversos locais, é engraçado verificar que apesar de pertencermos todos ao mesmo país, temos maneiras de realizar o mesmo tipo de coisas de diversas formas.
R. C.: Frequentar este curso tem sido espetacular, os professores são muito prestáveis e o espírito académico ultrapassou em muito as minhas expectativas.
M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?
C. B.: Inicialmente entrar para o ensino superior foi terrível, entrei em segunda fase e ninguém espera pelos que estão atrasados, tu é que tens de te pôr em dia, basicamente sozinha tive de me atualizar da matéria de 5 cadeiras num mês, mas fiquei muito contente porque tive a sorte de apanhar duas professoras muito simpáticas que me ajudaram a recuperar a matéria em atraso. O meu primeiro semestre foi a pique porque não estava habituada aquela aceleração, ninguém estará lá para te controlar, se vais ou não às teóricas, se estudas ou não, no final só contam os exames finais, e o que se dava num ano completo no 12º, é o que se dá num semestre e mesmo assim ainda damos mais matéria.
Os meus maiores desafios têm sido conciliar todas as cadeiras, tanto práticas como teóricas e ter a matéria em dia, porque temos imenso trabalho todas as semanas e o trabalho não espera por nós.
I. S. B.: Como já mencionei, o meu principal desafio foi a experiência de viver pela primeira vez sozinha. Para além de estudarmos temos também de organizar bem o nosso tempo, de modo a que arrumemos a casa, façamos as nossas refeições, tratemos da nossa roupa…
R. C.: A entrada no ensino superior é sempre uma grande mudança na vida de um estudante. Lembro-me no primeiro dia de aulas não conhecer ninguém, sentir-me um pouco desconfortável com aquele ambiente novo e desconhecido. Apesar de trazer dos anos anteriores métodos de estudo, talvez a organização do tempo tenha sido o grande desafio. Na minha faculdade podemos fazer as cadeiras por frequências, evitando assim ir ao exame final. Deste modo, o facto de ter normalmente três frequências por cadeira, mais relatórios para entregar, acaba por me consumir muito tempo. Mas com organização tudo se consegue! O truque, por muito que apeteça, é não deixar a matéria para a véspera das frequências.
M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
C. B.: Sem dúvida que sim, não digo em termos teóricos mas em termos práticos sim. A minha faculdade prepara-nos para adquirirmos uma resposta rápida, coerente, muito precisa e para sabermos trabalhar sob pressão, qualidades que o mercado de trabalho procura.
I. S. B.: Sim, sem dúvida! Para além de termos um forte adquirimento da matéria teórica, temos em simultâneo aulas práticas que nos permitem pôr a par o que estudamos nas aulas teóricas.
R. C.: Apesar de ainda estar no primeiro ano, pelo que já presenciei e realizei, acho que o facto de na minha faculdade existir uma grande componente prática em todas as cadeiras, permite um maior contacto entre estudante e o futuro local de trabalho, o laboratório. Posso dar o exemplo de, no primeiro semestre deste ano, tive uma cadeira que apenas se resumia a trabalho prático no laboratório, o que foi bastante bom, porque acabei por adquirir algum conhecimento sobre como agir e técnicas laboratoriais que tenho a certeza que me serão úteis num futuro próximo.
M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?
C. B.: Considero o meu curso difícil. O meu curso tem duas vertentes, uma muito matemática e física pelo que é necessário compreender e ter a matéria sempre em dia, e uma vertente biológica e química, no entanto esta vertente é muito de “marranço” mas também de compreensão. Para não falar que também temos relatórios e práticas para preparar semanalmente e temos sempre de ter tudo preparado ao detalhe, a tempo e horas.
I. S. B.: Acho que qualquer curso apresenta as suas dificuldades. Nada é obtido sem esforço e dedicação. Neste caso, considero que quem frequenta este curso necessita de um estudo constante. É claro que também devemos fazer pausas, assistir àquela série de que tanto gostamos, beber um café com os nossos amigos, passear,… Mas é essencial estudar todas as semanas para que não deixemos passar dúvidas e, para que a matéria se mantenha “viva” em nós, sendo assim mais fácil o estudo para uma frequência ou exame.
R. C.: Eu acho que nenhum curso pode ser considerado fácil, porque depende muito da vontade de aprender e o gosto que o estudante tem por aquilo que faz. Claro que Bioquímica é um curso exigente, que requer muito trabalho, tanto em contexto de aulas como também depois em casa, mas se realmente gostarmos do que fazemos, as coisas tornam-se um pouco mais fáceis.
M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?
C. B.: Penso que quem estiver na minha faculdade está muito bem preparado para o mercado de trabalho pelas razões que já expliquei. Conheço muitas pessoas que trabalham em várias áreas, como por exemplo investigação na Ricardo Jorge, ou então, por exemplo um rapaz que tirou um mestrado em gestão e agora trabalha em gestão laboratorial/ hospitalar. O curso prepara os alunos principalmente para trabalharem no estrangeiro mas não significa que não tenham oportunidades em Portugal, é uma questão de se informarem.
I. S. B.: Para já tenho como objectivo acabar a licenciatura com uma média, diga-se, razoável para que depois possa realizar um mestrado numa área mais específica. Gostaria de trabalhar mais na parte de investigação.
R. C.: Espero conseguir arranjar algum emprego na área da investigação, mais direcionada para a saúde, ou até mesmo algum emprego num laboratório de análises clínicas.
M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?
C. B.: Sim claro, pretendo seguir os meus estudos mas numa área da saúde. Existem imensos tipos de mestrado, doutoramentos e pós-graduações e eu estou a pensar seguir um mestrado na faculdade de medicina, para poder seguir investigação médica e poder estar um pouco mais próxima das pessoas.
I. S. B.: Ainda não tenho uma ideia definida. Tudo dependerá se arranjar / tiver propostas de trabalho.
R. C.: Sim, pretendo quando acabar a licenciatura e não conseguir arranjar logo emprego, prosseguir para um mestrado, de forma a direcionar-me para a área da saúde.
M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?
C. B.: Sinceramente não sei. Uma licenciatura não define a tua vida, não irá definir todo o teu futuro, da mesma forma que não definiu o meu. Eu fiquei desiludida com a escolha que fiz porque não era bem aquilo que estava à espera e fiquei muito desmotivada, mas também não estou a ver outro caminho para seguir, sempre quis algo mais relacionado com saúde e posso dizer que este curso é cientifico e não está diretamente relacionado com a saúde, talvez seja por isso que me desiludi tanto, mas também não mudava nada porque cresci imenso desde que entrei para o meu curso.
I. S. B.: Sem dúvida alguma! O facto de não ter entrado na minha primeira opção fez-me ver que realmente saio muito mais preparada neste curso, principalmente em termos práticos, para o mercado de trabalho. O que é fundamental neste curso. Já o facto de uma das minhas cadeiras no 1º Semestre ser Biologia Celular, pude verificar que realmente não seria esse o ramo em que mais me “encaixaria”, ficando assim grata por não ter entrado na minha segunda opção.
R. C.: Claro. Não me via noutro curso, porque laboratório, ciência, natureza, vida sempre foram temas que me interessaram desde início.
M.: Que recomendações deixas aos candidatos ao ensino superior deste ano?
C. B.: A maior recomendação que posso deixar para os candidatos ao Ensino Superior é para terem calma. A licenciatura não irá ser uma escolha que irá definir a vossa vida, é apenas o início, é apenas uma porta que irá dar a um corredor cheio de infinitas portas com infinitas probabilidades e escolhas. Espero que entendam o que quero dizer, não pensem que têm de escolher este curso e se fizerem a escolha errada irão arrepender-se toda a vida, se vocês tiverem saúde e condições monetárias, têm tudo o que precisam para definirem a vossa vida porque todos fazem escolhas erradas e é isso que nos define enquanto indivíduos.
I. S. B.: As recomendações que posso transmitir a todos os candidatos do Ensino Superior é que ingressem realmente num curso em que se identifiquem e, que lhes diga algo. Considero que trabalhar numa área em que gostamos torna tudo muito mais fácil e, com certeza não será uma “carga de trabalho”. Lógico que também devemos ter em conta as saídas profissionais que poderemos obter, sempre com esforço e muita muita dedicação, pois como sabemos isto não está fácil para ninguém. Mesmo assim é preciso ter esperança e, nunca esquecer que o caminho por vezes é longo e complicado, mas é isso que nos fará ter orgulho em nós próprios.
R. C.: Recomendo que consultem os planos curriculares dos cursos a que se pretendem candidatar, não se assustem com os nomes das cadeiras que muitas vezes não são tão complicadas como aparentam, se tiverem dúvidas procurem sempre alguém que já esteja no curso para vos retirar as dúvidas (posso dizer que Uniarea me ajudou muito no meu ano). Procurem sempre faculdades que estejam bem posicionadas nos rankings, que sejam faculdade em que o nome faz toda a diferença (não tendo necessariamente que ser privadas). E, acima de tudo, escolham um curso em que, mesmo quando têm de acordar muito cedo, sintam sempre aquela vontade de saber mais e mais.
M.: O que dizem… as tuas notas?
C. B.: Bem as minhas notas melhoraram bastante desde o meu primeiro semestre do 1º ano, no entanto, nas cadeiras em que existem frequências, se não existissem notas mínimas até teria notas jeitosas, mas como disse, eu estive desmotivada o que fez com que este semestre as coisas me corressem mal, mas mesmo assim todas as minhas restantes notas foram muito melhores, o que posso concluir que quando é algo que nos corre mal e desmotivamos, vamos abaixo, mas quando algo nos motiva e nos cativa temos melhor nota.
I. S. B.: Tenho de reconhecer que ingressar no Ensino Superior é bastante diferente do secundário no que diz respeito ao esforço. Não podemo-nos “desleixar” nem um pouco, não há margem para erros. Tudo conta, desde a ida às aulas, trabalhos e participação. Principalmente, as aulas práticas no caso do meu curso. Estas apresentam uma componente de avaliação muito maior, não haja dúvidas. Mas, não sei se por já ter um ritmo de trabalho constante do secundário, não me foi assim tão difícil esta mudança.
As minhas notas? Sinceramente, acho que se me tivesse dedicado um pouco mais poderiam ser melhores, mas orgulho-me do que consegui alcançar neste primeiro ano. Não são notas fantásticas, mas também não são de todo más para as ditas estatísticas deste curso. A minha média final deste ano está em 13.0, mas acredito que vou conseguir subi-la nestes próximos 2 anos. Sei que, habitualmente, a média final que os alunos deste curso obtêm ronda exatamente a minha média actual, mas gostava de obter uma nota final maior, visto que tenho objectivos de após esta licenciatura fazer um mestrado.
R. C.: As minhas notas dizem que, com esforço e dedicação, tudo se consegue.
Carolina Borlido é aluna da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Inês Sá Borges da Escola de Ciências da Vida e do Ambiente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Raquel Cardoso é estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.