Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.
Carla Gonçalves (C. G.): Então, Ciências da Comunicação é, como o próprio nome indica muito relacionado com a componente comunicativa. Não apenas em termos do “comunicar” como o conhecemos verbalmente. São inúmeras as suas saídas, uma vez que, pelo menos na Universidade do Minho, é um curso que se divide em três áreas gerais: a do jornalismo, audiovisual e multimédia e publicidade e relações públicas, que englobam inúmeras saídas profissionais dentro da cada uma delas.
João Marcelino (J. M.): Estou no curso de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa. A Licenciatura, com a duração de 3 anos, tem como principais pontos o desenvolvimento dos conhecimentos na área da comunicação social, do cinema, da televisão, na comunicação estratégica e no conteúdo artístico e cultural no âmbito da comunicação. As saídas profissionais são muitas, pois o curso é bastante abrangente, mas são, especialmente, a área do Jornalismo, do Marketing e Publicidade, a produção cinematográfica e televisiva, tanto a nível pratico como em termos de investigação.
Vanessa Santo (V. S.): O meu curso é Ciências da Comunicação no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas) que faz parte da Universidade de Lisboa e consiste num curso da área de comunicação com uma grande abrangência em si. As saídas vão desde jornalismo, televisão, rádio a áreas mais ligadas ao marketing, à publicidade e também às relações publicas.
M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?
C. G.: O que me levou a escolher este curso foi na verdade a minha paixão pela fotografia e pelo audiovisual. Por ser uma área que me permite ser criativa, fazer coisas novas e causar impacto noutras pessoas. Tive muito em conta as áreas em que o curso se divide no segundo semestre, que são diferentes de universidade para universidade. A UM foi a que mais me cativou e, por isso, foi não só a minha primeira escolha como a única. Era o que eu realmente queria.
J. M.: Escolhi-o, em primeira opção, pois trata-se de um curso abrangente e no qual encontro muitas áreas de interesse. Sempre me interessei pela área do fotojornalismo e por tudo o que se relaciona com produção audiovisual, e por isso achei que este curso conseguia satisfazer-me nessas áreas, sem nunca esquecer a parte teórica.
V. S.: Sempre gostei da área da comunicação, mas sentia-me dividida entre a área jornalística e a área da publicidade e do marketing… como considerava que gostava de ambos e também das restantes saídas achei que era ideal pois não tinha de me limitar já a uma só área especifica. Apesar do curso ser a minha primeira opção, a universidade não foi porque me faltavam umas décimas, mas hoje em dia já não valorizo essa questão.
M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
C. G.: Surpreendeu-me, pela positiva, a entreajuda que existe entre todo o curso, não só entre alunos (que é verdade, estão sempre prontos a ajudar-se uns aos outros, mesmo que sejam de anos diferentes), mas também professores. Algo de que não estava à espera era de um primeiro ano tão teórico. Esperava mais prática, mas trabalhos alusivos aos programas em que aprendemos a trabalhar.
J. M.: Não tive muitas surpresas ao entrar para este curso, provavelmente por estar preparado para o que ia encontrar. Penso que os principais pontos positivos foram o espírito de curso e ambiente existente entre todos os alunos que o frequentam, existindo um enorme espírito de interajuda. Os pontos negativos estão mais focados em algumas unidades curriculares e em alguns docentes, pois, apesar da UNL ser bastante prestigiada, ainda existem muitas arestas por limar ao nível do ensino.
V. S.: Pela positiva surpreendeu-me não só os conhecimentos específicos da área que nos dá como a cultura geral que nos proporciona. O facto das cadeiras não serem todas muito especificas, principalmente no primeiro ano, é ótimo para sabermos mais e isso é importante nesta área e em todas. Surpreendeu-me também finalmente gostar de matérias que tinha de estudar, o que raramente acontecia no secundário e aconteceu em alguns casos na faculdade. Para além disto, houveram trabalhos propostos que gostei muito de fazer. O facto do núcleo do meu curso promover bastantes conferencias também foi algo que me surpreendeu porque ter contacto com profissionais com diferentes experiencias dentro da área que gostamos é muito importante. Pelo contrário, pela negativa destaco em algumas cadeiras o excesso de teoria e a falta de um ensino mais prático!
M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?
C. G.: Tem sido uma experiência enriquecedora, sem dúvida. Todo o curso, toda esta academia têm-me ensinado imenso. A exigência por vezes é mais do que a que pensei algum dia poder suportar, mas ensinou-me a ultrapassar os meus “limites”, tem-me mostrado que posso ser melhor e fazer melhor. O que mais me marcou, foi o meu primeiro teste estava tão nervosa, não sabia o que esperar. Sofri imenso por antecipação e afinal foi algo mais descontraído do que imaginava.
J. M.: A entrada para o Ensino Superior trouxe enormes mudanças para a minha vida. Conheci pessoas extraordinárias e aprendi bastante, tanto dentro como fora do curso. Penso que o que me tem vindo a marcar mais são as pessoas que me acompanham, pois em Ciências da Comunicação muito daquilo que se partilha e que nos permite evoluir, está nas diferenças e nas semelhanças de cada um.
V. S.: Tem sido uma experiência positiva. O que me marcou mais foi sem qualquer dúvida o meu ano de caloira, a praxe, a experiência de conhecer um ambiente completamente novo e criar amizades novas. E claro, como tudo isto vêm novas formas de ver as coisas, de pensar.
M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?
C. G.: Foi um quanto atribulada no início. Nunca é fácil sair de casa, do conforto do lar a que estamos habituados, com as pessoas a quem estamos habituados. Quando cheguei não conhecia ninguém e ser tímida, como sou, não facilitou as coisas. Houve momentos, no início em que a vontade era desistir. Cheguei mesmo a pensar que talvez não fosse boa o suficiente para estar ali. Mas felizmente conheci pessoas fantásticas, tudo a seu tempo. Neste momento, não trocaria esta experiência por nada.
J. M.: Para mim, a adaptação ao Ensino Superior e a todo o espírito académico foi fácil, e penso que isso se deva ao facto de ser uma pessoa sociável e bastante comunicativa. Apesar de não encontrar muitas dificuldades na adaptação, penso que o meu principal desafio foi ter conseguido concluir este primeiro ano mesmo não vivendo em Lisboa e perdendo muito tempo em transportes. Teria sido tudo mais simples se vivesse perto da minha zona de estudo.
V. S.: Considero que me adaptei muito bem. Sem grandes dificuldades e considerando que vinha de um local que nada tem a ver com Lisboa. Foi fácil habituar-me a uma vida diferente e fazer amigos diferentes. Como maior desafio talvez a exigência do ritmo da faculdade em certas fases mas nada que não se consiga conciliar. De resto, sempre foi fácil estar num ambiente novo e concilia-lo com a minha vida noutro lado do país.
M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
C. G.: Absolutamente, embora me tenha desiludido o facto do primeiro ano do curso não ser tão prático quanto pensava, a verdade é que tudo o que nos é ensinado na teoria é necessário e tenho-me apercebido disso com o tempo e com os trabalhos que me vão sendo pedidos. É um curso muito completo que cumpre perfeitamente o objetivo de nos formar, também, profissionais completos.
J. M.: Apesar de ainda não ter muita experiência para poder afirmar algo acerca desse assunto, olho para Ciências da Comunicação como um curso que consegue preparar um aluno muito melhor a nível teórico do que prático. Mas considero fundamentais todas as bases teóricas que nos são dadas neste curso, por isso penso que a teoria/prática que existe no nosso curso consegue preparar-nos para sermos bons profissionais.
V. S.: Na minha opinião, falta um pouco a parte mais prática, mas não penso isto apenas do meu, mas do ensino superior em geral no nosso país. Ainda há muito uma mentalidade de ensino teórica e pouco construtiva e pratica. Claro que também temos trabalhos práticos, mas na minha opinião deveriam ser mais. Por outro lado, temos a possibilidade de ganhar mais pratica com experiências, como os estágios extracurriculares, que dependem de nós e da nossa iniciativa e também é importante sermos independentes a esse ponto.
M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?
C. G.: Às vezes sim, outras vezes não. É como qualquer um. Obviamente existem Unidades Curriculares que nos fazem esturricar o cérebro, mas há outras que nos permitem um certo à vontade. No entanto, como é um curso que requer muitas vezes muita imaginação forçada, acaba por se tornar difícil e stressante.
J. M.: Não considero o meu curso difícil. Penso que é um curso que exige algum estudo, mas muita organização. Se estudarmos muitas horas mas de forma desorganizada, será muito mais difícil obtermos bons resultados. Ciências da Comunicação exige calma, método e criatividade.
V. S.: Não considero fácil nem difícil. Para mim seria sempre mais difícil estar num curso que não tivesse nada a ver comigo. No entanto, não considero que seja fácil porque o facto de ter algumas cadeiras bastante abrangentes faz com que tenhamos cadeiras que estejam um pouco mais fora da área de conforto e há de facto algumas mais complexas como há outras fáceis mas tudo se consegue fazer, com maior ou menor esforço.
M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?
C. G.: Sendo eu uma otimista por natureza, as minhas expetativas são elevadas. É um curso muito abrangente e com saídas profissionais muito diversas, penso que com persistência e vontade é possível. A procura é essencial.
J. M.: Sei que a área das letras e da comunicação gera muitas dúvidas e reticências devido à empregabilidade. No entanto, não estou muito assustado com o que poderei encontrar no mercado de trabalho e com as oportunidades que terei ou não. Se formos realmente bons naquilo que fazemos é muito mais fácil sermos bem-sucedidos, e penso que esta área vive disso mesmo: do destaque e de sermos bons naquilo que queremos desenvolver. Espero conseguir arranjar um bom estágio e aprofundar as vertentes mais práticas…!
V. S.: Atualmente, considero que estou mais interessada na vertente da comunicação estratégica, do marketing e da publicidade do que nas outras vertentes e era nessa área que gostava de vir a trabalhar, no entanto, não digo que não às outras áreas que tenho possibilidade de experimentar. Apesar do mercado de trabalho estar saturado, sinto que há bastantes possibilidades para quem as quer agarrar. Tenho conhecimento de alguns colegas que acabaram o curso e estão na área que queriam, a fazer o que gostam. É uma questão de tentarmos e dedicarmo-nos, se formos bons há-de haver lugar para nós!
M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?
C. G.: Isso é algo que me deixa dividida. A minha vontade de começar a trabalhar o quanto antes e, se possível a fazer aquilo que gosto, é muita. Neste momento não penso muito nisso.
J. M.: Sim, a minha ideia é tirar um mestrado na área da Produção Audiovisual. Contudo, como ainda só terminei o 1º ano da licenciatura, muita coisa pode mudar e novas ideias podem surgir. É algo que terei de ponderar no decorrer dos próximos anos.
V. S.: Penso em fazer mestrado como forma de me especializar ainda mais numa área mais especifica mas ainda não está nada decidido na minha cabeça. Se conseguisse estagiar/trabalhar e fazer o mestrado em simultâneo seria ideal!
M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?
C. G.: Claramente. Não me arrependo absolutamente nada da escolha que fiz. Tenho aprendido muito sobre todo este mundo da comunicação que me apaixona. Foi a escolha certa.
J. M.: Essa é uma pergunta interessante, pois faço-a muitas vezes a mim próprio. Apesar de também ter enorme interesse pela área do Audiovisual e Multimédia, e de essa ter sido a minha 2ª opção, teria voltado a colocar Ciências da Comunicação como primeira opção, pois considero que é uma licenciatura bastante abrangente e interessante.
V. S.: Sim! Apesar de hoje em dia já estar mais decidida da área em concreto que mais gosto e existirem outras opções, na altura que tinha de escolher era impossível sabê-lo e só consegui chegar a essa resposta abordando diferentes áreas que o meu curso permite. Aliás, ao longo do resto do curso poderei ainda ter experiencias que me façam mudar de ideias. Para além disso quem gosta da área de comunicação no geral é reconfortante saber a diversidade de opções em que podemos, um dia, vir a trabalhar.
M.: Que recomendações deixas aos candidatos ao ensino superior deste ano?
C. G.: Que não tenham medo de arriscar. Não se prendam a nada, atirem-se de cabeça para o curso que vos enche o coração. Não tenham medo de ficarem sozinhos porque não vão ficar. Há sempre tantas outras pessoas como vocês, com medo da solidão porque o amigo foi para x ou y universidade diferente. O vosso futuro depende de vocês.
J. M.: Para todos aqueles que se candidatam, tanto a CC, como aos outros cursos, peço muita calma!!!! Pode parecer super usual dizer isto, mas esta é uma altura de bastantes mudanças! Informa-te, fala com quem conheces que esteja na área, não fiques com dúvidas. Não sejas precipitado e gere bem tudo o que enfrentas. Mesmo que a primeira fase não corra bem, não te esqueças que existe uma segunda fase e ainda uma terceira. Analisa tudo ao pormenor!!
V. S.: Que sejam racionais, mas não em demasia. Que acima de tudo escolham aquilo de que gostam porque só assim se vão conseguir dedicar a 100% e qualquer área precisa de dedicação. Nós sabemos sempre aquilo de que gostamos mais, certezas é normal não se ter na altura da candidatura. Se não acertarem à primeira, depois arranja-se solução.
M.: O que dizem… as tuas notas?
C. G.: As minhas notas… são o reflexo do curso. Umas vezes mais exigente, outras vezes menos. Algumas melhores, outras nem tanto.
J. M.: As minhas notas dizem que por vezes o esforço recompensa e que nem tudo parece impossível. Foram melhores do que estava à espera, e deram-me ânimo para continuar a trabalhar e a aprender cada vez mais! Espero que para o ano as minhas notas tenham mais histórias para contar!!!
V. S.: A vida corre-lhes bem, só têm razões para sorrir… umas muito mais que outras, mas também não podem ser invejosas!
Carla Gonçalves é aluna do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, João Marcelino da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Vanessa Santo é estudante do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.