XX Mostra de Dança da FMH - Foto de Mariana Feliciano

À conversa com um aluno de Dança

Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.

Diana Costa (D. C.): Relativamente ao curso, quando entrei na ESD os comentários vindo de fora não eram os melhores, mas não quis que isso influenciasse a minha escolha. Tenho a minha opinião e é positiva. Sem este curso e as cadeiras que tenho não me tinha tornado na pessoa e bailarina que sou. Estou no 2º ano do Curso e sinto que evolui bastante ao longo destes dois anos devido à instituição e aos professores que nela trabalham. A carga é maioritariamente prática, pois somos alunos de Dança e isso implica termos aulas de Técnica de Dança (Dança Clássica e Dança Contemporânea) todos os dias. Como é habitual, há cadeiras que me atraem mais do que outras, mas penso que são todas essenciais à nossa formação.

Relativamente às saídas profissionais, ‘’nós enquanto bailarinos’’ temos 3 opções: Ensino, Intérprete e/ou Coreógrafo. Todas elas se complementam e acabamos por não fazer apenas uma, mas talvez todas ao mesmo tempo.

Mariana Feliciano (M. F.): A licenciatura em Dança da Faculdade de Motricidade Humana consiste num curso artístico generalista que tem como foco a intervenção na comunidade. Abrange várias valências, as científicas, as artísticas, as culturais e até as pedagógicas e é isso que nos distingue dos demais. As saídas possíveis são várias: Ensino e formação em dança; animação sociocultural; criação coreográfica; gestão de projetos e produção de eventos artísticos; entre outras.

 



 

M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?

D. C.: Eu escolhi o meu curso, essencialmente, pelo amor à dança. Foi a minha primeira opção e a única visto que não me estaria a ‘’ver’’ noutra área senão esta. Tinha a minha decisão tomada desde o meu 10º ano que foi quando deixei considerar a dança como um hobby e passei vê-la como um objetivo de vida.

M. F.: Durante algum tempo pensei na possibilidade de seguir  Matemática ou Engenharia Biomédica, mas no momento da minha escolha decisiva, a paixão falou mais alto e a Dança foi a primeira e única. Com uma média alta tinha a possibilidade de escolher entre muitos outros cursos, no entanto pondo o futuro em perspetiva, não me imaginava a fazer outra coisa. Queria usar a Dança como ferramenta de intervenção em vários contextos e assim decidi por uma licenciatura que me desse várias ferramentas para esse efeito.

XX Mostra de Dança da FMH – Foto de Mariana Feliciano

 

M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?

D. C.: No meu curso, estamos a ser formados para ser bailarinos/intérpretes contemporâneos e não na área da Dança Clássica (a Dança clássica funciona, como uma ferramenta, essencial, ao desenvolvimento da técnica e à nossa formação enquanto profissionais). Por esta razão, o curso surpreendeu-me por ter alguns professores bem qualificados e exigentes ao nível das Técnicas de Dança e em relação a algumas disciplinas teóricas como ‘’ História da Dança Contemporânea’’ e os ‘’Estudos da Dança em Portugal’’.  Outra coisa muito positiva, é que temos muitos trabalhos e disciplinas direcionadas à criação, que é uma ferramenta essencial para o futuro e temos oportunidade de a experimentar e de desenvolvê-la durante os três anos de licenciatura.

Técnicas de Dança é a disciplina com maior carga horária no curso. Contudo, essa carga ainda deveria ser maior. Deveríamos ter no mínimo 4h de Técnica de Dança por dia.

M. F.: Gosto de pensar que o curso em geral foi uma surpresa positiva. Surpreendeu-me as parcerias que foram feitas com outras instituições, para que saíssemos fora da nossa “casca”. Melhor ainda é conseguir tirar de todas as experiências que nos são proporcionadas algo útil para o futuro, mas isso também depende do “mindset” de cada aluno. Pela negativa, reconheço que tanto externa como internamente não é reconhecido o devido valor que temos e que o curso em si tem, mas talvez isso não seja uma surpresa assim tão grande.

Sermos alunos de dança da FMH não nos tira nenhum mérito, muito pelo contrário.



 

M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?

D. C.: Experienciar este curso tem sido positivo. Descobri qualidades em mim, enquanto bailarina que achava que não tinha principalmente na parte da criação. Houve muitas coisas que me marcaram, mas uma delas foi um Projeto feito no ano letivo 2016/2017 que se chamava As Artes no Panteão: “Ecos de um Meta-Tempo” onde tivemos em contacto com as outras áreas da arte: a Música e o Teatro. Outro aspeto que me irá marcar futuramente é a oportunidade que a escola oferece em participar no programa Erasmus.

M. F.: Tem sido uma experiência desafiante. Devido ao facto de ser uma faculdade com poucos alunos e um curso ainda com menos, a nossa relação com os professores consegue ser diferente de outros locais. Tem sido marcante a forma como nos presenteiam com ajudas e como nos motivam a “usar a cana para pescar”. A minha experiência em geral tem sido muito enriquecedora, abrindo novas janelas e oportunidades que antes não considerava.

 

M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?

D. C.: A adaptação na Escola Superior de Dança não é difícil. Somos uma instituição pequena, todos nos conhecemos e isso proporciona um bom ambiente. A nível da formação, por vezes, é difícil conciliar todos os trabalhos e, às vezes, questionamos se realmente é este o caminho que devemos seguir.

M. F.: O principal desafio foi a distância. A minha casa é bastante longe da faculdade e vou todos os dias de transportes demorando cerca de 2h para chegar à faculdade. A nível académico a adaptação não foi difícil, tirando algumas exceções (existem sempre professores de pôr os cabelos em pé).

 

M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?

D. C.: Sim, o curso prepara. Mas não podemos depender apenas daquilo que o curso oferece. Existem muitos alunos na instituição a ter mais aulas de Técnicas de Dança fora da escola de modo a evoluir e entrar em contacto com outras coisas que a mesma não oferece.

M. F.: É um curso generalista com várias saídas possíveis logo depende dos objetivos de cada um. Considero que adquiri as principais competências necessárias para qualquer âmbito profissional, mas sinto que agora preciso de algo mais focado nos meus objetivos atuais, que são diferentes daqueles que tinha há três anos atras.



 

M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?

D. C.: Todos os cursos têm o seu lado difícil. O nosso é conseguir lidar bem com o desgaste psicológico e físico que acontece diariamente. Nem sempre as duas coisas juntas são fáceis de contornar.

M. F.: Ser difícil é muito relativo. Não posso dizer que seja difícil, mas reconheço que é trabalhoso, o que para mim é um ponto positivo. Eu tive uma facilidade que outros não tiveram, porque tendo estado em ciências, na parte teórica tive um avanço bastante considerável o que na verdade foi uma surpresa boa.

 

M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?

D. C.: Tento não ter grandes expectativas. Quero ser o mais realista possível. Visto que o desemprego é transversal na maioria dos cursos, este não é exceção. Sei que não é ao final de três anos que vamos tornar-nos bailarinos. Para ser bailarino e vingar na profissão temos de trabalhar arduamente e aproveitar todas as oportunidades que surgem quer ao nível do Ensino de Dança, a ser intérpretes ou até mesmo coreógrafos. E para isso é tentar ir a todas as audições para projetos que nos darão a experiencia necessária e a visibilidade para ganhar uma ‘’identidade’’ nesta área. Contudo, na nossa profissão temos sempre o fator ‘’sorte’’ associado, não dependemos apenas do nosso talento ou vontade.

M. F.: Já entrei no mercado de trabalho mesmo antes de acabar o curso e esse é outro ponto positivo do mesmo. No entanto depois de acabar a licenciatura estou expectante na possibilidade de ser mais seletiva nas áreas onde quero exercer e aquelas que mais me definem. Contrariamente aquilo que muitos pensam, o mercado de trabalho não é de todo um bicho de sete cabeças, principalmente se formos criativos e gerarmos as oportunidades que alimentam os nossos sonhos e não ficarmos simplesmente à espera que as mesmas cheguem vindas do nada.

 

M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?

D. C.: Sim tenciono, mas não logo após terminar a licenciatura. Primeiro gostaria de ganhar experiência de trabalho na área da Dança e só depois fazer o Mestrado. Tenho a opção que a Escola Superior de Dança oferece em mente, que é o Mestrado em Ensino de Dança ou então tirar um mestrado não tão específico na área da Dança, mas que me relacione com ela e me traga benefícios.

M. F.: Penso e acho essencial! Já ando a pesquisar e ponderar opções e não é de todo pelo “canudo”, mas sim pela sede de conhecer e aprimorar ferramentas para a vida profissional e alcançar novas metas.



 

M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?

D. C.: Sim faria, pelas diversas razões já anteriormente explicadas.

M. F.: Faria a mesma escolha, sem dúvida! Apesar dos aspetos a serem melhorados, esta licenciatura deu profundidade aos meus objetivos.

XX Mostra de Dança da FMH – Foto de Mariana Feliciano

 

M.: Que recomendações deixas aos futuros candidatos ao ensino superior?

D. C.:  Escolhe aquilo de que gostas, trabalha para aquilo que queres. Não te deixes abater à mínima dificuldade porque se é isso que realmente queres para o teu futuro então és tu que tens de lutar por isso. Ninguém o fará por ti.

M. F.: Qual é o teu sonho? Estás a seguir este caminho por ti ou pelos outros? É apenas porque dizem que é uma necessidade? O que te motiva, ganhares muito dinheiro ou fazeres algo que tu gostes?

Todas as oportunidades que te apresentem, não desperdices! Por muito que aparentemente possam não deslumbrar, mas todas as pedrinhas contam para formar um caminho que vai mais além.

 

M.: O que dizem… as tuas notas?

D. C.: Que estou no caminho certo.

M. F.: A minha média? É boa. O quem dizem as minhas notas? Não dizem tudo. Se há coisa que aprendi no Ensino Superior é que as notas não traduzem todo o trabalho, nem todo o fruto, nem todo o valor nem os obstáculos que nos deparamos e vivemos. As notas têm a sua importância, mas tentem não ficar obcecados por estes números, nesta fase tentem ficar focados num todo.

 

Diana Costa é aluna da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, e o Mariana Feliciano da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.