Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.
Ana Rosa (A. R.): O meu curso é fisiologia clínica, um curso novo que resultou da fusão de cardiopneumologia e neurofisiologia. Após a conclusão do curso podemos trabalhar em hospitais, clinicas, centros de saúde, empresas comerciais ligadas à saúde, centros de medicina desportiva, entre outros.
Cláudia Rodrigues (C. R.): O meu curso é Fisiologia Clínica, um curso novo que resulta da junção de 2 cursos: Neurofisiologia e Cardiopneumologia. As saídas profissionais que apresenta é em clínica, hospitais, podendo enveredar também para empresas e investigação, em ambos os cursos.
Filipa Farinha (F. F.): O meu curso é relativamente recente no nosso país, insere-se na área de formação de técnicos de diagnóstico e terapêutica com uma polivalência acrescida relativamente ao antigo curso que era Cardiopneumologia, abrangendo assim agora as áreas de Cardiologia, Pneumologia, Vascular e Neurologia sendo uma mais-valia profissionalmente e pessoalmente.
Ou seja, somos técnicos especializados em realizar e avaliar os exames de diagnóstico por nós, realizados, tornando-nos parte fulcral do sistema de saúde apesar de às vezes não nos ser dado o real valor das nossas funções.
As saídas profissionais no meu curso são variadas, tais como hospitais, centros de saúde, centros de investigação, departamentos de saúde desportiva, consultórios, entre outros. Aconselho-vos a visitarem o site da ESALD lá encontram todo o tipo de informação.
Visto ser uma área recente e bem englobada na saúde, é uma boa aposta hoje em dia, porque sinceramente não é só de médicos e enfermeiros (nada contra) que a saúde é feita, somos bem mais.
M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?
A. R.: Um dos fatores que me levaram a escolher fisiologia clinica foi o facto de o curso conter cardiopneumologia, sendo que sempre me interessei por esta área e foi a minha 2ºopção.
C. R.: Queria algo de saúde e achei o curso de Neurofisiologia interessante, então ia – me candidatar a esse, tendo Cardiopneumologia como 2ª opção. Quando fiquei a saber que tinham sido ambos descontinuados e que se tornariam em Fisiologia Clínica, decidi que teria “2 em 1” e então decidi candidatar – me na mesma. Não me via a fazer outra coisa.
F. F.: Acho que a escolha do curso é sempre algo com muito poder que deve ser bem pensado e analisado. desde que passei por uma situação pessoal sabia que era este o curso que queria seguir. Apesar da vontade e do sonho há que manter os pés assentes na terra, será que tenho emprego? Saídas profissionais? Médias? Institutos/Universidades? Posição da Escola a nível nacional na área? Opiniões de quem já tirou o curso? É necessário ter todos estes pontos em consideração.
Foi a minha segunda escolha, pois a primeira foi para outra escola, mas felizmente não me arrependo, neste momento sinto que a ESALD é mesmo o que ela transmite, uma ótima escola que forma para o futuro, que faz jus à sua posição nacional.
M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?
A. R.: O curso é ainda mais complexo do que o eu esperava, aborda temas muito específicos e atua em várias patentes, o que me deixou ainda mais fascinada pelo curso. Apesar de não ser um curso fácil, visto que a fusão levou a que o nível de dificuldade do curso aumentasse, pois agora temos de dominar duas áreas diferentes em vez de uma, com empenho e motivação tudo se consegue.
As partes negativas do curso são o facto de ainda haver muita desavença entre quem é contra e a favor da fusão, o que transmite aos estudantes um pouco de insegurança relativamente ao futuro. E o facto de a organização do curso ainda não estar a 100%, ainda são necessários alguns ajustes, mas os docentes com a ajuda e opinião dos estudantes estão a trabalhar para que os próximos candidatos encontrem um curso com mesmos falhas.
C. R.: Pela positiva é a quantidade de coisas novas que aprendemos, como se fosse um mundo novo, e a possibilidade que vamos ter de aprender vários tipos de exames de diagnóstico e também de terapêutica para ajudar as pessoas. Já pela negativa é o tempo reduzido que temos para treinar esses exames e termos competências.
F. F.: Pela positiva o meu curso deu-me valores, uma aprendizagem forte, e formação específica. Acho que na ESALD a formação prática é a maior mais-valia, para nós alunos, pois se vamos trabalhar nesta área é assim que devemos começar a ver o nosso futuro pela prática. Outra mais valia são as avaliações sendo que primeiro é nos dada a oportunidade de ir a frequência e só depois, caso necessário, temos a época de exames.
Negativamente, o nosso plano de estudos com cadeiras precedentes é algo que geralmente não é bem recebido pelos alunos na medida que impossibilita a realização de novas cadeiras.
M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?
A. R.: A experiência de frequentar o curso tem sido muito boa e surpreendeu-me muito pela positiva. Como o curso está ligado à saúde participamos em alguns rastreios, esses rastreios são tão importantes para nós como para os “pacientes”, pois permitem-nos aplicar tudo aquilo que aprendemos a fazer nas aulas. Uma das coisas que mais me marcou este ano foi o rastreio que fizemos numa escola primária, onde fizemos ECG’s e espirometrias às crianças.
C. R.: Tenho tido um pouco de tudo: stress, dúvidas, medo, mas também alegria por ajudar os outros e enriquecedor por aprendermos várias coisas diferentes. O que me tem marcado mais é perceber a importância que nós temos efetivamente na saúde das pessoas.
F. F.: Frequentar este curso a nível pessoal tem sido um “rol” de informação e aprendizagem. É muito bom o ensino e cativa-nos a aprender mais.
M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?
A. R.: A minha adaptação ao ensino superior foi relativamente fácil, é certo que as mudanças em comparação ao ensino secundário foram algumas, como a quantidade de matéria a estudar por disciplina, os horários, o método de ensino, mas com o tempo tudo se torna mais familiar.
C. R.: Foi difícil, tive aquela desilusão de as notas já não serem extraordinárias como no secundário, custou um bocadinho. E a organização do tempo como deve ser, com todas as atividades e aulas, deve ter sido o maior desafio.
F. F.: Foi boa, não tive quaisquer problemas. Os principais desafios foram mesmo a adaptação às cadeiras de primeiro ano, pois é diferente do secundário, é um mundo novo mas bom!
M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?
A. R.: O primeiro ano do curso contém maioritariamente unidades curriculares mais gerais, como fisiologia, anatomia, patologia geral, biofísica, bioquímica,…, sendo é ainda um pouco difícil fazer previsões para a nossa preparação como profissionais.
Contudo o segundo semestre incluiu já duas unidades curriculares mais especializadas, como electrocardiologia e estudos da função respiratório onde foram lecionadas aulas práticas, que nos permitiram ter algumas luzes de como iremos atuar profissionalmente.
Tendo em conta que o curso é composto por uma percentagem significativa de horas práticas acho que nos vai permitir adquirir as competências necessária de um futuro “fisiologista clínico”.
C. R.: Acho que neste momento, visto que é um curso novo e que praticamente foi mandado aos professores de para – quedas, acho que estes estão a fazer o máximo para que assim seja. Mas acho que está ainda tudo em aberto, se vamos ter as competências ou não, visto serem 2 cursos de 4 anos cada, e um curso de 4 anos só. É talvez um dos meus maiores medos. Mas tenho esperança que corra tudo bem.
F. F.: Sem sombra de dúvida que SIM, e digo o em maiúsculas porque na ESALD, seja no meu curso ou noutro a prática é quase palavra de ordem. Vamos trabalhar com vidas, logo há que ganhar responsabilidades e não saber só teórica.
Em conversa com certos colegas de outras escolas, concluí que a nossa vertente prática tem uma carga horária muito superior à deles. As condições da escola são ótimas, o que ajuda imenso.
Na minha opinião, adquirimos tudo o que é necessário e mais ainda. Somos preparados para tudo.
M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?
A. R.: O curso não é fácil, principalmente agora com a fusão, pois estamos a tirar dois cursos diferentes em 4 anos, que era a duração de cada um dos cursos antes de se juntarem. Isto requer então mais esforço, empenho e organização por parte dos estudantes, e ainda muito estudo extra aula.
C. R.: Acho que a dificuldade do meu curso será mais a quantidade de matéria teórica que nós temos que adquirir ao longo dos anos. Diferentes disciplinas, com diferentes assuntos teóricos, sendo que todos são importantes depois para a prática clínica, nem que seja um pouco de cada um.
F. F.: Um pouco sim, não que a média aparente, mas sim. há certas cadeiras que exigem mais de nós, mas é normal em todos os cursos. As precedências nos planos de estudos não facilitam, mas é compreensível.
M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?
A. R.: Espero que o facto de este ser um curso novo e resultar da fusão de dois cursos antigos não seja um obstáculo no mundo do trabalho, pois é provável que no fim do curso não estejamos tão bem preparados como um cardiopneumologia ou como um neurofisiologista, visto que não fomos nós que pedimos que a fusão existisse, então não devemos ser prejudicados por ela.
C. R.: As minhas expetativas ainda não são nenhumas. Mas também penso que estamos em Portugal, e infelizmente está tudo bastante difícil, e como não sabemos ainda bem o que vamos ser efetivamente, Fisiologistas Clínicos ou Técnicos de Cardiopneumologia ou de Neurofisiologia, acho que no início, será um pouco difícil.
F. F.: Sinceramente tenho ótimas perspetivas! Apesar de verificarmos um sistema de saúde fracassado em termos de emprego, a nossa área é nova é uma aposta que se começa a verificar. Em último caso a nível europeu e não só, temos um reconhecimento enorme. Os fisiologistas clínicos são bastante requisitados pela sua polivalência de áreas e não só.
M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?
A. R.: Ainda é muito cedo para ter a certeza do que fazer depois da licenciatura, acho que só as oportunidades da altura me dirão o que fazer a seguir.
C. R.: Acho que um dos objetivos das fusões e, portanto, do meu curso, é esse mesmo, sermos quase obrigados a ter que frequentar Mestrado ou pós- graduações. Antes não, eu não pensava nisso, visto ser mais uma sobrecarga para a minha família. Agora, não sei bem o que hei de pensar visto que o meu curso ainda é novo e ainda há muita coisa a definir.
F. F.: Sim Mestrado, se conseguir. As opções de prosseguir os estudos em Portugal na nossa área, são bastante especializados como é óbvio no entanto existem boas áreas para frequentar. Talvez mestrado em arritmologia, logo se verá.
M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?
A. R.: Se soubesse o que sei hoje, fisiologia clinica seria a minha primeira opção e não a segunda, porque cada vez tenho mais a certeza que este será o meu futuro.
C. R.: Por um lado, acho que a segurança de andarmos num curso que não é novo, é bastante reconfortante, portanto se calhar pensava duas vezes. Por outro lado, estou a adorar o meu curso, e apesar das dificuldades, acho que poderá acabar por resultar e como não me imagino noutro, acabaria se calhar por voltar a escolher Fisiologia Clínica.
F. F.: Sim faria, continuo a gostar do curso, tirando algumas cadeiras, mas sim faria a mesma escolha. Acho que o país não tem de se focar no que existe em excesso, tem é que criar novos cursos com novas perspetivas de evolução e formação, e o ensino superior está um pouco saturado da monotonia dos cursos já existentes, o meu é novo, é uma aposta que está a correr bem, é um exemplo, mas existem bem mais que hoje estão modificados.
M.: Que recomendações deixas aos candidatos ao ensino superior deste ano?
A. R.: Aos candidatos ao ensino superior tenho a dizer que sei que é difícil fazer uma escolha tão importante e que é um pouco injusto que o nosso futuro dependa de médias, mas vale a pena seguir estudos por um futuro melhor.
C. R.: Que tentem por tudo a irem para aquilo que gostam ou que acham que tem sentido. Para tentarem não stressar pois não vale a pena. E para tornarem os anos de faculdade inesquecíveis pois serão os melhores da vida deles, e que se preparem para a mudança que vão ver neles próprios, os tempos na universidade mudam – nos para melhor se soubermos aproveitar.
F. F.: Pensar, investigar e saber aquilo que querem para o futuro deles. Acho que não é dizer: quero tirar isto porque ganho mais aqui! Além de se gostar deve se ter em conta todos os pontos fulcrais para saber se vale a pena tirar determinado curso, ponderar se se gosta realmente de algo ou não. Acho que é uma decisão, a primeira importante, porque é o futuro que está em jogo. Falem com pessoas que estão nesses cursos informem-se de tudo. Mas desejo a todos
uma ótima candidatura, e que entrem no que querem.
M.: O que dizem… as tuas notas?
A. R.: As minha notas variam conforme as unidades curriculares e conforme o meu interesse por elas, podiam ser melhores, mas sei que dei o meu melhor por elas e por isso sinto-me orgulhosa por ter terminado o meu primeiro ano no ensino superior.
C. R.: Que me esforcei ao máximo este ano, que o primeiro semestre nota – se que foi a altura da adaptação portanto um pouco mais baixas, mas no 2º semestre, com uma nova organização de tempo e mais calma, resultou melhor, e que infelizmente, na universidade, não dá para nos armarmos em perfecionistas, que as notas nunca serão como as do Secundário.
F. F.: Está a correr bem, a média é boa até, poderia ser melhor. Resumindo : tudo OK !
Ana Rosa e Catarina Rodrigues são alunas da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto do Instituto Politécnico do Porto e Filipa Farinha é da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias – Instituto Politécnico de Castelo Branco.