À conversa com um aluno de Psicologia

Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.

Bruno Costa (B. C.): Frequento o Mestrado Integrado em Psicologia (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto) que tem a duração de 5 anos – os três primeiros anos dizem respeito à Licenciatura e os últimos dois referem-se ao Mestrado. Nesse sentido, na FPCEUP existem 4 áreas de Mestrado: Intervenção Psicológica, Educação e Desenvolvimento Humano; Psicologia Clínica e da Saúde; Psicologia das Organizações, Social e do Trabalho e, por fim, Psicologia do Comportamento Desviante e da Justiça, sendo que cada uma delas, como o próprio nome indica, prepara os alunos para uma vertente mais específica do exercício profissional da Psicologia. Na verdade, os psicólogos podem trabalhar em diversas instituições como hospitais, centros de saúde, centros de emprego, escolas, prisões, clínicas de consulta psicológica, entre outros.

Carolina Martins (C. M.): Bem, estou a tirar o curso de Psicologia no ISCTE-IUL. O curso consiste em três anos de licenciatura, no entanto, para se exercer a profissão é necessário um mestrado. Com este curso pretende-se adquirir capacidades no âmbito do comportamento humano e desenvolver competências gerais para Psicologia. A psicologia tem um ramo bastante extenso de saídas, que eu própria desconhecia, que podem ir desde a trabalhar com atletas profissionais (Psicólogo desportivo) até trabalhar em Hospitais, ou escolas.

Rafael Henriques (R. H.): A Psicologia, como o estudo dos processos cognitivos, emocionais e comportamentais do ser humano e da sua interação, tanto entre si como com a comunidade, é um curso que tem como objetivo mais basilar compreender a razão de determinado pensamento, sentimento ou comportamento numa determinada ocorrência, ou seja, o porquê de uma pessoa pensar, sentir ou agir de um modo perante uma situação e outra pessoa de outra forma, na mesma situação. Quando um variado conjunto de pensamentos/sentimentos/comportamentos se tornam disfuncionais perante uma situação e estes não são adaptativos ou esperados culturalmente pela comunidade onde o indivíduo se integra, origina-se um distúrbio psicopatológico (i.e. doença mental). Aí, a psicologia tenta entender, de acordo com os seus modelos de compreensão, a predisposição, início e manutenção de determinado problema, tentando reabilitar o doente a uma atenuação dos sintomas do distúrbio sinalizado ou até mesmo cura dos mesmos.

Com o intuito de observar os pensamentos/sentimentos/comportamentos do sujeito consoante uma visão biopsicossocial (ao invés do modelo biomédico), os estudantes de psicologia estudam muitas áreas do saber, desde das ciências sociais (e.g. sociologia, raciocínio, linguagem, motivação, emoção, perceção, atenção) às ciências mais exatas (e.g. estatística, biologia, genética, neurociências, neuropsicologia), sendo uma área que está num meio-termo entre a área mais social e a área da saúde.

Como saídas profissionais, este curso divide-se em três grandes áreas principais, em que cada uma tem um palco de atuação diferente: Psicologia Clínica e da Saúde – hospitais, centros de saúde, IPSS, lares de infância e juventude, lares de idosos, cuidados paliativos e continuados, entre outros; Psicologia das Organizações e do Trabalho – Empresas e Organismos Públicos e Privados, nos domínios da gestão de recursos humanos e consultadoria, gestão de grupos, motivação e satisfação laboral, entre outros; Psicologia da Educação e Desenvolvimento – escolas, IPSS, Hospitais, locais de trabalho ligados ao aconselhamento de carreira e à orientação vocacional, entre outros;



M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?

B. C.: Foram vários os fatores que tive em conta, aquando da escolha da faculdade: primeiramente, o facto de ter família no Porto e o facto de ser uma faculdade próxima da cidade onde resido foi fundamental na minha preferência pela FPCEUP (a minha primeira escolha); de seguida, o plano curricular pareceu-me bem organizado e coerente, tal como o facto de a própria Universidade do Porto ser uma instituição com prestígio (há quem defenda que para os empregadores a universidade frequentada tem um peso considerável, como há quem defenda que, atualmente, esse não é um fator relevante).

Assim sendo, aconselho a que tenham em conta os fatores de proximidade, habitação (os custos variam de cidade para cidade, mas algumas universidades têm residências universitárias, o que pode ser uma alternativa para estudantes que tenham dificuldades económicas, por exemplo), plano curricular do curso e prestígio da instituição.

C. M.: Sim, foi a minha primeira escolha. No meu último ano do secundário tive como disciplina opcional Psicologia, e adorei sem sombra de dúvida. Este meu fascínio pela disciplina levou-me a escolher na faculdade Psicologia, sabendo que mais tarde também poderia conciliar a Psicologia com outro ramo que gosto bastante, o desporto.

R. H.: Sim, foi a minha primeira escolha, mas não na primeira fase. O que me levou a escolher este curso foi a relação próxima que tenho à Saúde e às Ciências da Saúde, que sempre gostei dessa área de estudos e de intervenção, sem necessitar dos exames nacionais de Biologia e Geologia ou Física e Química, os quais não tinha os exames dessas disciplinas realizados. Com os exames que tinha na época, a área que mais facilidade tinha de estar em contacto com a Saúde e, principalmente, com a Saúde Mental era o curso de Psicologia. Do mesmo modo, na altura gostava de compreender o porquê de determinados comportamentos que os seres humanos tinham, bem como poder ajudá-los a terem maior estabilidade e qualidade de vida, sendo estas mais duas motivações para ter escolhido Psicologia.

 

M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?

B. C.: Honestamente, não houve algo de negativo que me surpreendesse no curso. Contudo, este foi o meu primeiro ano, pelo que não tenho noção de qual será a minha opinião quanto aos restantes anos. Ainda assim, julgo que um dos aspetos negativos salientados por colegas mais velhos é o facto de o curso ser maioritariamente teórico (o que faz sentido, dado que não podemos passar à prática sem ter uma boa base teórica).

Quanto aos aspetos positivos, o primeiro ano correspondeu às minhas expectativas e aproveito para salientar um projeto que a faculdade tem e que consiste na atribuição de um mentor (um aluno que já esteja, pelo menos, no 2º ano) a cada aluno do 1º ano, com a função de auxiliar os novos estudantes no processo de integração.

C. M.: Pela positiva surpreenderam-me os horários, bem como o plano de frequências, sendo que nós durante o semestre, apenas temos trabalhos (a uma ou outra cadeira lá temos uma ficha), e no final do semestre temos então as frequências/exames. Pela negativa, foi mais a parte prática (estágio), que só acontece no último ano do mestrado, o que acho uma pena.

R. H.: Pela positiva, o curso surpreendeu-me pela capacidade de compreender melhor os seres humanos, os seus pensamentos e comportamentos e ajudou-me a desenvolver as minhas capacidades de escuta ativa e de empatia pelo sofrimento do outro. Também me surpreendeu por estudar muitos temas para além da psicologia, como disse em cima, desde a biologia à sociologia, o que me ofereceu um leque de conhecimentos mais abrangente para compreender a mim mesmo, aos outros e ao mundo.

Pela negativa, o curso é muito, muito teórico. Igualmente, o plano de estudos na minha faculdade tem disciplinas que podiam estar distribuídas de um modo diferente e peca pela falta de outras temáticas igualmente importantes para a nossa formação (e.g. uma cadeira de Psicologia Forense ou Psicologia do Desporto na licenciatura).

 

M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?

B. C.: A experiência tem sido ótima. Não frequentei a praxe (porque nunca fez sentido para mim e, por isso, nunca foi meu objetivo), contudo tive um bom mentor, essencial quer para perceber o funcionamento da faculdade, quer para me dar algumas dicas sobre as várias unidades curriculares e para me auxiliar na minha integração. Até agora, o que mais me marcou, foi sentir que estava no curso certo e o facto de o mesmo corresponder àquilo que eu esperava e ambicionava.

C. M.: Tem sido uma experiência enriquecedora a todos os níveis, pois estamos sempre a aprender, fazemos novas amizades (dizem que os amigos da faculdade são para a vida!!) mas também bastante cansativa. A experiência que mais me marcou foi sem dúvida alguma o dia da matrícula, e o primeiro dia de receção aos novos alunos (praxe), pois não sabia ao que ia, e senti-me um pouco (bastante) perdida, sozinha, naquele meio estranho e novo.

R. H.: Com o curso de Psicologia, eu comecei a tomar conta de que todos os seres humanos tem a sua maneira de pensar e, de acordo com as suas vivências, vão criando formas de ver o mundo, os outros e a si próprios. E sendo assim, de acordo com as experiências de cada um, pensar de determinada maneira, ou sentir uma emoção acerca de uma situação ou agir perante um acontecimento é fruto da forma como avaliou a sua vivência e, para si, faz sentido ver as coisas consoante a sua perspetiva. Deste modo, ajudou a desenvolver-me como ser humano e a ser mais compreensivo com os outros.

Quanto ao ambiente académico, a cidade de Coimbra é a verdadeira cidade dos estudantes, em todos os cantos e recantos da cidade se sente o espírito académico. Na faculdade de Psicologia, temos maioritariamente um ambiente de entreajuda e de apoio, bem como de conhecimento e contacto com os elementos pertencentes ao nosso ano como aos anos anteriores e posteriores.



 

M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?

B. C.: O meu principal desafio na transição entre o ensino secundário e o ensino superior foi a gestão de tempo e organização. Ao longo do ensino secundário, sempre me disseram que o ensino superior era mais exigente e hoje sei que é verdade. No caso do meu curso, durante os primeiros quatro anos, cada semestre é constituído por 7 unidades curriculares (com dificuldades e exigências distintas), sendo que conseguir conciliar trabalhos individuais, trabalhos de grupo, frequências, entre outros, é exigente, mas, com o tempo, passa a ser algo normal.

C. M.: A minha adaptação ao ensino superior correu melhor do que estava à espera, pois sou uma pessoa um pouco tímida, o que poderia dificultar a minha adaptação. Os meus principais desafios no ensino superior, tem sido algo que já ocorria no secundário, que é o facto de ter de apresentar trabalhos oralmente. A minha timidez contribui bastante para isso, no entanto é algo que tento melhorar a cada dia que passa.

R. H.: Visto que não entrei na 1.ª fase, a minha adaptação não foi a mais fácil, dado que os meus colegas já se tinham integrado e convivido entre si. No entanto, como me considero uma pessoa minimamente sociável, consegui integrar-me inicialmente num grupo de amigos e, posteriormente, a três/quatro amigos “do peito”, que os quais tenho uma grande amizade. Igualmente, em Coimbra temos um sistema praxístico muito desenvolvido, com praxe integradora e união a padrinhos/madrinhas de praxe, os quais me ajudaram a integrar com os meus colegas do meu ano, bem como com os meus colegas de anos posteriores.

Como vivo em Coimbra, a adaptação à cidade já estava feita, desde sempre. No entanto, a adaptação ao ensino superior, ao formato e método de aulas e aos modos de avaliação das disciplinas, em tudo diferente do ensino secundário, foi um pouco complexo inicialmente: uma turma com cento e tal alunos, professores que não tem grande proximidade nem contacto com os alunos e muitos trabalhos e exames nas épocas de Janeiro e Junho e ainda algumas frequências ao longo do semestre foram algumas das diferenças que encontrei e às quais tive que me adaptar, na entrada do ensino superior. Com o tempo, ganha-se hábito e torna-se mais aceitável a exigência. Contudo, principalmente durante a licenciatura, também muitos foram os momentos recreativos e de lazer que houveram, ao longo do ano letivo, permitindo uma boa simbiose entre estudo e divertimento.

 

M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?

B. C.: Embora não conheça os cursos de Psicologia nas restantes universidades, pelo que me recordo de ter investigado na altura em que me candidatei ao Ensino Superior, o “aspeto negativo” que os alunos destacam dos cursos de Psicologia é o facto de ter uma componente teórica muito superior face a componente prática. No caso do meu curso, apenas no 5º ano temos a possibilidade de realizar um estágio (julgo que assim funciona em todos) e, na verdade, seria impossível realizar um estágio sem ter uma série de conhecimentos que são adquiridos no decorrer do curso e, particularmente, no 4º ano, que já é mais específico e centrado numa determinada área da Psicologia.

C. M.: Tendo eu apenas concluído o primeiro ano da licenciatura, acho que não tenho uma grande capacidade para poder responder a esta questão, mas a minha primeira impressão é que o tipo de conteúdos abordados no primeiro ano é bastante teórico. No entanto, segundo a opinião de uma aluna do ISCTE-IUL que está a terminar o mestrado, no caso de quem seguir um mestrado na área organizacional sai extremamente bem preparado. Em relação às outras áreas, vai-se com bases sólidas para os diferentes mestrados, embora não consiga precisar se serão suficientes. Ainda na opinião da aluna, o ISCTE tem cada vez mais a preocupação de uniformizar os conteúdos da licenciatura, abrangendo cada vez mais áreas, o que é notório na reformulação dos programas e unidades curriculares.

R. H.: Eu quero acreditar que se adquire algumas competências basilares para o exercício da Psicologia. No entanto, a vertente muito teórica do curso e a pouca prática a que assistimos apresenta-se como uma desvantagem. Enquanto existem cursos como Medicina ou Enfermagem, que tem estágios de observação (quase) todos os anos, o meu curso apenas tem no 5.º ano o estágio curricular. E, por vezes, a falta de ter exemplos reais de uma determinada perturbação ou determinada caraterística de personalidade ou determinada estratégia de intervenção, não nos permite desenvolver capacidades como o olhar clínico, a empatia, a escuta ativa, a formulação de caso, entre outras, essenciais para o bom exercício da profissão. De resto, apesar de eu sentir falta de uma componente mais biológica no curso, penso que este nos prepara com boas ferramentas base, principalmente na minha faculdade e com as disciplinas do 4.º ano. E, como é uma profissão sempre em permanente desenvolvimento, avanço e mudança, existem no mercado imensas formações e pós-graduações que são uma mais-valia para o desenvolvimento profissional dos psicólogos.



 

M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?

B. C.: O primeiro ano não é difícil, há sempre professores com que nos identificamos mais, matérias que consideramos mais interessantes, mas acredito que se estivermos no curso que queremos todas as dificuldades são ultrapassadas. Quanto aos restantes anos, não posso dar uma opinião, ainda que me tenham dito que o segundo ano não tem um nível de exigência muito diferente do primeiro. Claro, tudo isto é relativo e, com certeza, existirão estudantes com experiências diferentes…

C. M.: Acho que é um curso como todos os outros. É trabalhoso, com bastantes trabalhos, uns mais difíceis, outros mais fáceis (ou que aparentam ser), bem como as cadeiras, umas mais acessíveis, outras nem tantas, e já com “fama” dentro do próprio curso, logo, acho um curso bastante equilibrado.

R. H.: Não diria difícil, contudo é muito teórico e perde imensa qualidade por essa caraterística. É um curso que, principalmente na licenciatura, se passa com relativa facilidade às disciplinas, com notas médias baixas (e.g. 10, 11, 12). No entanto, para se ter uma média de 15 ou 16 ou melhor, é preciso empenho e muito trabalho, principalmente na minha faculdade, é preciso ir às aulas, compreender o que foi dado e, pelo menos, estudar bem os powerpoints das aulas e combiná-los com apontamentos das aulas ou com a leitura de alguns artigos/capítulos de livros. No mestrado, é preciso um trabalho maior, mais empenho, mais leitura e compreender mesmo a informação, uma vez que a informação dadas nas disciplinas do 4.º ano servirão de base para o estágio curricular e, posteriormente, para a vida profissional.

 

M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?

B. C.: No caso da Psicologia, há dois aspetos importantes que todos devem ter em conta: só podem exercer como Psicólogos se tiverem Mestrado (daí ter optado por um curso com Mestrado Integrado) e a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) exige a realização de um estágio profissional remunerado, para que possam exercer profissionalmente (o que tem sido difícil para muitos finalistas, dado que grande parte dos estágios existentes são não remunerados). Nesse sentido, é difícil perspetivar o que vai acontecer no fim do curso, até porque em quatro anos muitas coisas podem mudar, como, por exemplo, os “requisitos” da OPP ou as oportunidades de estágios profissionais remunerados…

C. M.: Por natureza sou uma pessoa pessimista, mas neste caso a situação reverte-se. Sei que o mercado de trabalho para os psicólogos não está muito famoso, mas existem tantas vertentes no ramo da psicologia… Acho que existe sempre emprego para as pessoas que se esforçam e mostram bons resultados.

R. H.: O mercado de trabalho em Psicologia, de facto, está um pouco saturado, essencialmente na área da Psicologia Clínica. Igualmente, para se ser psicólogo, temos de ter um estágio profissional remunerado de um ano protocolado entre a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e uma entidade empregadora, seja pública ou privada, e torna-se complicado encontrar rapidamente um local. No entanto, as minhas expetativas são realistas e ajustadas ao panorama português. Portanto, penso, quando acabar o curso, em arranjar um estágio profissional o mais breve possível. E, posteriormente, arranjar um emprego a full-time ou dois a part-time, no ramo da psicologia clínica ou noutro ramo do curso, ao mesmo tempo que me associo a uma entidade de investigação na minha área, caso haja essa oportunidade.

 

M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?

B. C.: Neste momento, só tenho a certeza de que vou fazer o mestrado. De qualquer modo, penso que é sempre importante apostar em mais formação, mesmo depois de já se ter entrado no mundo laboral.

C. M.: Sim, aliás, como referi em cima, só se pode exercer Psicologia com um mestrado. No que diz respeito à pós-graduação, até lá até posso mudar de ideias, mas neste momento gostaria de tirar, pois é sempre uma mais valia.

R. H.: Sendo o meu curso de Psicologia já um mestrado integrado e como é obrigatório a frequência de licenciatura mais mestrado para o exercício da profissão como psicólogo, assim como a realização do estágio da OPP após o términus do curso, nunca ponderei ficar apenas com a licenciatura em Ciências Psicológicas (aquela que nos é atribuída por terminarmos os 3 primeiros anos do mestrado integrado). Deste modo, uma vez que frequento o mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, penso realizar uma pós-graduação na área da Psicologia das Organizações e do Trabalho, para alargar o meu campo de intervenção e de trabalho, a curto prazo. A médio/longo prazo, pretendo candidatar-me a doutoramento, no campo da Psicologia Clínica, caso tenha a possibilidade para tal.



 

M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?

B. C.: Sim. A resposta mais fácil e sincera. O curso corresponde às minhas expectativas, o ambiente da faculdade é bom, acredito que no fim do curso terei as competências necessárias para aceder ao mundo laboral e isso é, a meu ver, o essencial.

C. M.: Sim, sem sombra de dúvida. Quando fiz esta escolha estava ciente de todas as dificuldades (tanto a nível académico, como ao nível do mercado de trabalho), por isso, não mudaria a minha escolha.

R. H.: Sim, candidatava. Apesar de eu gostar de outras áreas ligadas à Saúde (como Enfermagem, Ciências Farmacêuticas ou Medicina), uma vez que estas tem uma conexão muito próxima à Biologia, eu sempre gostei de compreender o porquê de determinada pessoa pensar ou agir de uma maneira e outras tantas agirem de maneira semelhante à mesma situação, assim como há tantas pessoas a agirem de maneira completamente oposta ao mesmo acontecimento. Sempre quis também compreender como se podia ajudar uma pessoa de modo racional e com técnicas viáveis e não ser apenas um aconselhamento baseado na minha compreensão do mundo e a Psicologia ajuda muito nessas tarefas.

 

M.: Que recomendações deixas aos candidatos ao ensino superior deste ano?

B. C.: Para além dos fatores que referi anteriormente que devem ter em atenção na escolha da faculdade/curso, aconselho todos a pesquisarem ao máximo sobre as várias opções que estão a considerar (planos de estudos, os recursos da faculdade, se já possuem Mestrado Integrado ou não, se têm disponíveis as áreas de Mestrado que vos interessam), procurem entrar em contacto com alunos que já estejam no curso e que possam esclarecer as vossas questões… E não tenham medo daquilo que vos espera ou da dificuldade que está associada ao Ensino Superior, vocês são capazes e o esforço vai valer a pena!

C. M.: Diria para se informarem bem sobre o que realmente querem, e nunca desistam daquilo que vos faz mesmo feliz, mesmo que existam pessoas que façam força para que sigam outros cursos, porque têm melhor prestigio e melhores saídas. Sigam os vossos sonhos, lutem por aquilo que desejam apesar de todas as eventuais adversidades, pois nada se consegue sem trabalho e esforço, e tudo se consegue com eles.

R. H.: Portanto, para ti que estás a ler isto, digo que psicologia é muito mais do que a disciplina que tiveste no secundário ou apenas ouvir e aconselhar os outros. A Psicologia, por mais que a possam descredibilizar, é uma ciência, com modelos de compreensão e métodos de intervenção validados e empíricos. Se és uma pessoa que tem uma capacidade emocional forte e fores bom para “aguentar” a pressão dos problemas dos outros sem te envolveres demasiado, bem como seres empático pelo sofrimento do outro, pode ser uma vantagem para seres um bom profissional na área clínica. E se gostares mais da parte da comunicação, da parte da gestão grupal, motivação de seres humanos para o seu fomento e bem-estar, além de ambicionares trabalhar numa empresa, poderás ser um bom profissional na área das organizações.

Outra recomendação que deixo a ti é que não desmotives com os seguintes comentários: “Vais para Psicologia? Vais para o desemprego!” ou “Vais para Psicologia? Isso não é uma filosofia barata?” ou “Vais para Psicologia para aturar doidinhos?”, que poderás ouvir e que te poderão desmotivar, principalmente o primeiro. Por mais difícil que esteja a empregabilidade na área, principalmente na área clínica, nunca se sabe como estará o mercado de trabalho daqui a 5 anos, por isso se é Psicologia que gostas e que te vês no futuro a trabalhar, deves apostar no curso, que em tudo te deixará enriquecido!

 

M.: O que dizem… as tuas notas?

B. C.: Pergunta curiosa e, muito sinceramente, acho que não sei responder. À semelhança da importância que os empregadores atribuem à instituição de ensino, também há quem defenda que a média tem importância, como há quem defenda que o mais importante é a formação complementar (que diferencia quem apenas tirou o curso e quem procurou saber mais do que aquilo que o próprio curso oferece). Pessoalmente, preocupo-me em ter as melhores notas que conseguir, até porque o acesso às áreas de Mestrado é feito através das notas e existe um número limite de vagas para cada área.

C. M.: As minhas notas dizem que sou capaz de mais. Concluí todas as cadeiras dos semestres, umas com melhores notas, outras nem tanto…dizem que para o próximo ano letivo precisam de ser melhores (e que têm algumas saudades das notas do secundário).

R. H.: Quanto às minhas notas, posso afirmar que não me posso queixar! Tenho uma média boa de licenciatura e o mestrado ajudou a subir ainda mais (o que costuma acontecer quase sempre, aqui em Coimbra). Há disciplinas, como as estatísticas e metodologias de investigação e, pessoalmente, a psicologia social, às quais tive piores resultados na época que fiz as cadeiras e, por um motivo ou outro, ainda não me predispus a melhorar as suas classificações. Contudo, houve disciplinas de fácil realização, às quais tenho boas classificações, o que suporta as notas mais fraquinhas nas disciplinas acima referidas. Mesmo não sendo uma média perfeita, penso que posso estar e sentir-me confortável, consoante ao panorama observado na minha faculdade.

 

Bruno Costa é aluno da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Carolina Martins do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e Rafael Henriques é estudante da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.