À conversa com um aluno de Teatro

Maria (M.): Fala-nos um pouco do teu curso, em que consiste e quais são as suas saídas profissionais.

Carolina Cardoso Faias (C. C. F.): O meu curso é maioritariamente prático (deveria ser mais ainda) e consiste numa abordagem que permite ao aluno usar a sua criatividade com base em competências adquiridas enquanto nos formamos. O curso é orientado para a formação de atores no entanto não é só esta a saída profissional que o curso permite (na minha opinião é uma mais-valia termos outras saídas profissionais, visto que este mundo é belo-grotesco, embora seja colectivo, tens que ser tu a fazer). É um mundo que tem “vagas limitadas”, há pouca oferta de trabalho e é esta a verdade.

Encenador, Dramaturgo, Técnico de Som e Luz, Performer, Crítico, são opções para saída profissional.

Lúcia Caroço (L. C.): Sou aluna da Licenciatura de Teatro em Évora, vou agora para o segundo dos três anos de curso. Este curso é dedicado e construído para pessoas que querem estudar e trabalhar na arte do Teatro, seja como ator, encenador, dramaturgo, técnico de luz, etc. porque temos no curso ao longo dos três anos cadeiras muito diversas dentro da área, o que nos permite saber de tudo um pouco quando acabamos a licenciatura.

Marlene Pinheiro (M. P.): O curso de TAP (Teatro e Artes Performativas), consiste na formação de grau académico nas áreas de teatro, cinema, canto, etc. Aborda diferentes cadeiras e pretende dar ao aluno, uma base em diferentes áreas relacionadas com o mundo do espetáculo. Este curso, não aborda só as temáticas relacionadas com a representação, apesar de ser maioritariamente direcionado para tal.

As saídas profissionais de TAP vão desde atores e cantores, a professores de
teatro, professores de canto e voz, dobradores de filmes e etc.



 

M.: O que te levou a escolher o teu curso e que factores tiveste em conta? Foi a tua primeira escolha?

C. C. F.: Sempre gostei de Teatro e até fiz algumas peças quando era mais novinha no entanto pelo medo e pelo amor ao desconhecido – que é este mundo, o Teatro – quando concluí o secundário não me candidatei ao curso. Preferi escolher Línguas, Literaturas e Culturas ramo Português-Espanhol (o oposto, tendo em conta que é sobretudo teórico). Escusado será dizer que o gosto pela representação nunca morreu e então decidi candidatar-me, no ano seguinte, a Teatro na ESAD Caldas da Rainha. O que me levou na verdade a escolher este curso que é a minha Verdade. A exploração, o conhecimento, a liberdade, a vontade, todo um mundo por descobrir. O Amor.

L. C.: Teatro em Évora não foi a minha primeira escolha, fiz as provas para a Escola Superior de Teatro e Cinema e acabei por não entrar, portanto tive de procurar outras opções e a Licenciatura em Évora pareceu ser a mais completa e a mais interessante, como disse, tem uma grande diversidade de cadeiras e tem um programa muito interessante, para além disso os professores são maioritariamente convidados e isso permite aprender com diversas e diferentes fontes.

M. P.: Escolhi TAP, porque queria algo relacionado com canto e música. Tenho sim um interesse por teatro e representação. Todavia, a representação para mim, é mais como um passatempo.

Foi a minha primeira escolha, e o o fator que tive em conta para escolher TAP
como curso, foi o meu interesse pelas artes e sobretudo pelo canto.

 

M.: O que é que te surpreendeu pela positiva e pela negativa no curso?

C. C. F.: Neste curso, o que me surpreendeu pela positiva, foi todo o equipamento que a ESAD disponibiliza aos alunos (desde as salas de teatro, a equipamentos de luz, de som). O espaço onde normalmente ensaiamos, é todo um mar (e eu gosto do mar). O que me surpreendeu pela negativa é o facto de não termos todos os dias por exemplo a Unidade Curricular Corpo ou Interpretação (que na minha opinião são cruciais).

L. C.: Fiquei surpreendida pela negativa relativamente à carga horária do curso, não nos permite uma disponibilidade muito grande para fazer atividades extracurriculares, entramos cedo, saímos tarde e muitas vezes temos ensaios à noite, o que se torna muito exaustivo ao fim de algumas semanas. No entanto, e apesar disso, fiquei muito surpreendida pelo curso no geral, é um curso organizado que te ajuda a crescer muito na área, é um curso que nos obriga a ter conhecimento de várias obras e de vários autores, e isso é muito importante para um ator.

M. P.: Positivamente, a união que existe neste curso. Apesar de na minha faculdade, TAP ser um dos cursos com menos alunos, existe uma união familiar. É um lema de todos por um e um por todos. Claro que há sempre desavenças, até porque as personalidades são diferentes, mas conseguimos pôr isso para trás das costas e defendermo-nos quando necessário. Acho que também é positivo o facto de termos cadeiras diferentes. Aprendemos um pouco de tudo e queremos saber mais (o que convém, pois um artista tem sempre que pesquisar o seu trabalho).

Negativamente diria que talvez as condições nas salas de aula, pois existem cadeiras que requerem outro tipo de condições (por exemplo, a cadeira de caracterização e maquilhagem), e nem sempre nos é possível ter uma sala apropriada.



 

M.: Como tem sido a experiência de estudar nesse curso? O que é que te marcou mais?

C. C. F.: A própria experiência é marcante. É o contacto, é o toque, é a vontade que te faz. Conhecer pessoas é estimulante e o Teatro permite-te conhecê-las (desde os seus receios, aos seus desejos) até parece Psicologia mas vai muito além de qualquer “termo fechado”. O que me tem marcado mais é mesmo a expressão “dar o corpo ao manifesto”, com isto o que eu quero dizer é, tens uma carga horária brutal o que torna difícil de conciliares a tua Vida Pessoal com a tua Vida Profissional. E isto é o cumprir, é o sacrifício que nem todos estão dispostos a aceitar.

L. C.: Tenho tido uma experiência muito positiva e estou muito contente por estar neste curso, as pessoas que o integram formam um corpo muito familiar o que ajuda muito. Neste género de curso somos todos dependentes uns dos outros, porque as disciplinas nos obrigam a realizar um trabalho de equipa muito grande, não existem egocentrismos extremos porque isso não ajuda a equipa nem permite a realização de um trabalho que seja considerado bom.

M. P.: Em suma, a experiência tem sido positiva. O que me marcou mais até à data, foi o ambiente de turma , o convívio e o esforço que alguns professores têm para sustentar TAP.

 

M.: Como descreverias a tua adaptação ao ensino superior? Quais foram os teus principais desafios?

C. C. F.: Eu sou uma pessoa que me adapto, seja à Cidade ou ao Campo, portanto esta tarefa torna-se fácil (mas esforço-me também, porque estar longe dos papás, é árduo, é um trabalho diário). Os meus principais desafios são sem dúvida o ser “dona de casa”. Ainda hoje, não separo a roupa clara da roupa escura. Por outro lado, sou uma chef de cozinha, os meus dotes culinários estão bem desenvolvidos e tenho andado a pensar em escrever um livro de receitas destinado aos alunos que só comem arroz com atum ou massas ahahah!

L. C.: Tive uma adaptação muito fácil ao ensino superior, tive ajuda de muitas pessoas que se encontraram sempre disponíveis para me auxiliar fosse no que fosse. Acho que a maior dificuldade é o ritmo que o curso nos obriga a ter, temos ensaios fora das horas letivas e isso torna-se um pouco esgotante, tendo em conta que temos ao longo dos semestres diversos trabalhos, frequências e apresentações.

M. P.: A minha adapatação não foi muito difícil, pelo menos em termos académicos. Consigo conciliar bem as cadeiras e os trabalhos que tenho, mesmo que às vezes, os faça a correr. Diria que o principal desafio, em relação ao ensino superior, tem sido viver sozinha e o facto de me sustentar a mim própria.

 

M.: Achas que o teu curso te prepara para o exercício da profissão, isto é, que adquires as principais competências que um profissional dessa área deve ter?

C. C. F.: Acho que isto é um trabalho constante e que nunca está terminado. Não é e nunca vai ser em 5 semestres que sais de uma licenciatura pronto para este mundo… Este curso é de experiência, como todos os outros, porém tem particularidades. Técnicas que têm que ser muito trabalhadas para depois saírem fluentemente em palco, enfim, toda uma panóplia por descobrir!

L. C.: Sim, acho que com este curso tenho oportunidade de entrar no mercado de trabalho de forma consciente e a saber fazer o que é necessário na profissão.

M. P.: Acho que o meu curso, não ensina profundamente, pois abrange um pouco de tudo e pretende oferecer uma base de conhecimentos. Porém, se essa base for bem utilizada e empregue, acredito que é possível ser um bom profissional com as competências necessárias.



 

M.: Consideras o teu curso difícil? Porquê?

C. C. F.: Antes de entrar há que considerar que vais ter de abdicar de muita coisa para sagrares, isto é, visitas a casa todos os fins de semana não dá, saídas à noite quando tens texto para decorar também é difícil de conciliar…

Tudo parte da organização que tens. Até hoje estudo e divirto-me porque também é preciosa a diversão!

L. C.: Acho que todos os cursos universitários têm alguma dificuldade. O curso de Teatro em Évora não é um curso extremamente difícil, acho que todos os semestres há uma disciplina que exige mais de nós e que nos ocupa mais tempo e que é mais difícil, mas no geral o curso é bastante fácil e ainda mais para quem gosta realmente daquilo que está a fazer.

M. P.: Não é difícil, mas também não é muito fácil. Uma das coisas que sempre me dizem, é que escolhi TAP, por motivos de ociosidade. Claro que o trabalho dos artistas, pode até não ser tão puxado como os outros, mas isso não quer dizer que temos tudo de mão beijada. Qualquer pessoa que escolha trabalhar no ramo das artes, tem que ter consciência que tem que ter muito trabalho de pesquisa e praticar bastante. O talento por si só, não leva a lado nenhum (obviamente que dá uma ajuda enorme): se não trabalharmos bastante e nem praticarmos o suficiente, corremos o risco de ficar estagnados num só modo de efetuar o trabalho. Com esse tipo de esforço e essa dedicação para sermos melhores, o resto faz-se com muito amor à camisola.

 

M.: Quais são as tuas expectativas no que toca à entrada no mercado de trabalho? Que perspectivas tens?

C. C. F.: As perspectivas que tenho face a este mundo é que é difícil (mais uma vez). Mas não tenho medo, o que importa é chegar ao fim do dia e sentir uma sensação de plenitude contigo e para com os outros. Por isto, não tenho medo! Faço aquilo de que gosto e sinto harmonia!

L. C.: Acho que esse é o aspeto mais complicado a ter em conta em qualquer curso de Artes, o curso de teatro, seja em que instituição for, não é exceção. Gosto de acreditar que aqueles que são realmente bons conseguem, mas é o produto de 99% de trabalho, de foco, de concentração e 1% de talento nato. O mercado de trabalho é um mar muito vasto mas que é difícil de navegar, vamos dizer assim.

M. P.: A minha perspetiva face ao ramo de trabalho, é que não vai ser fácil fazer aquilo de que gosto. A área musical é extremamente competitiva e sei que exige muito esforço e batalha, para conseguir ser cantor. Sei, que provavelmente, não vou conseguir facilmente um emprego nessa área, o mais provável é obter trabalho noutra área completamente diferente. Mas com persistência, acredito que um dia consiga ter trabalho no mundo da música.

 

M.: Pensas em continuar a estudar para um mestrados/doutoramentos ou pós-graduações?

C. C. F.: Talvez sejam opções. Um mestrado, um dia mas não muito breve… Estou no 2º ano e quando acabar a licenciatura quero “jogar-me aos lobos”.

L. C.: Sim, tenciono prosseguir os estudos, quero primeiramente frequentar um mestrado.

M. P.: Sim, são opções que tenho em mente, porém não vou fazer Mestrado logo após concluir a licenciatura. Pretendo tirar Mestrado em Voz e Produção musical em Londres e para isso, pretendo trabalhar dois anos aqui em Portugal, para conseguir alguns trocos para Londres.

 

M.: Se soubesses o que sabes hoje, candidatavas-te para o mesmo curso novamente? Porque?

C. C. F.: Se soubesse o que sei hoje teria feito o mesmo. Iria cair da mesma forma com que caí nas Caldas da Rainha: de para-quedas! O bestial é que eu escolhi esta cidade sem a conhecer. O belo é que fui para Teatro decidida mas um furacão por dentro. O lindo da vida é isto: quando vais e decides ir mesmo que não saibas aquilo que vais fazer!

L. C.: Completamente, aliás seria a minha primeira escolha. Como disse este é um curso estruturado para qualquer pessoa que queira estudar e trabalhar na área, dá-nos oportunidade de aprender muitas coisas diferentes, e isso torna-nos profissionais flexíveis.

M. P.: Sim faria, porque estou num curso de que gosto e não faria sentido tirar outro!



 

M.: Que recomendações deixas aos futuros candidatos ao ensino superior?

C. C. F.: Façam aquilo que realmente querem e vos faz sentido nesse agora! Se quiserem parar de estudar, parem! Só têm 17/18 anos para decidir algo bem maior… Façam voluntariado porque precisamos de mais HUMANOS! Mas instruam-se também, essa é a maior lição.

L. C.: Escolher um curso superior não é fácil, temos de ter em conta sempre tantos fatores, pensar no futuro, nas saídas profissionais, no prestígio do curso e da instituição, naquilo que os nossos pais gostariam que fôssemos… e por vezes esquecemo-nos do mais importante, gostar daquilo que fazemos. Essa é a minha recomendação, escolher aquilo de que realmente gostamos e que sabemos que vamos gostar de estudar e de trabalhar, porque só assim conseguiremos ter um futuro em que nos sintamos realizados.

M. P.: A minha vontade é de recomendar, que os próximos candidatos, escolham TAP e venham para a UTAD estudar. Mas não vou fazer isso, por mais que me custe.

O que tenho a recomendar aos futuros candidatos, é que escolham um curso que realmente apreciem, porque há poucas escolhas que temos na vida, e escolher a profissão é uma delas. Por isso escolham algo que realmente amem ou por que tenham interesse genuíno. E não liguem a opiniões alheias sobre como o curso é assim e assado e que não presta, o que importa é o vosso bem estar e o vosso ponto de vista.

 

M.: O que dizem… as tuas notas?

C. C. F.: As minhas notas não dizem nada, certamente irão influenciar, uma entrada em mestrado ou algo do género. Mas não me servem, não me dizem nada. Já lá vai o Tempo em que me preocupava, agora quero é aproveitar!

L. C.: As minhas notas dizem que vou num bom caminho, acabei o primeiro ano com média de 16 e com notas muito boas nas cadeiras práticas com mais valores, e isso é muito importante, sentires que o teu trabalho está a ser valorizado.

M. P.: Em relação às minhas notas, considero que é muito fácil ter valores elevados em TAP. Claro, que algumas notas poderiam ter sido melhores, mas geralmente são boas. Não acho que influenciem de modo algum, a forma como o vejo o meu curso e relativamente à licenciatura acho que a única coisa que afetam, é a média necessária para entrar em mestrado.

Num futuro próximo (se for possível), gostaria de arranjar trabalho e tirar mestrado em Londres e o que desejo é ter uma carreira no mundo da música. Para já, o que pretendo é concluir a licenciatura em Teatro e Artes Performativas.

 

Carolina Cardoso Faias é aluna de Teatro na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha, Lúcia Caroço da Escola de Artes da Universidade de Évora e Marlene Pinheiro frequenta a licenciatura em Teatro e Artes Performativas da Universidade de Trás-os- Montes e Alto.