Curso de Medicina da Universidade do Porto vai incluir cadeira de Poesia

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O mestrado integrado de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto vai ter, a partir de Setembro, uma cadeira de Introdução à Poesia. A ideia é “despertar o lado humanista que se pretende que um médico tenha”.

Esta cadeira de Poesia vai ser opcional para os alunos do primeiro semestre do segundo ano do curso de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e terá um limite de alunos. É o médico-cirurgião e poeta João Luís Barreto Guimarães quem vai leccionar a cadeira. “Vamos falar, no fundo, da vida, onde se inclui a morte, que é o grande tema que a poesia cobre”, explica o médico em declarações à TSF.

“Há alguma coisa para iluminar, mas não há nenhuma verdade absoluta para ensinar”, diz ainda Barreto Guimarães, sublinhando que a ideia é “despertar consciências no sentido da dimensão humana que vai além da prescrição de um fármaco ou da execução técnica de uma cirurgia”.

O médico-poeta explica à TSF que o “desafio” surgiu numa altura em que “os cursos de Medicina estão a tentar alargar o âmbito dos temas que apresentam aos seus alunos”, sempre através de cadeiras opcionais. Porque, afinal, “o médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe”, aponta o cirurgião-poeta citando o mote do professor Abel Salazar que dá nome ao ICBAS.

 

“A cadeira foi aceite e aprovada por unanimidade e louvor”, destaca ainda, admitindo que ainda não sabe “exactamente como vai ser”. “Vai ser uma aventura”, sublinha.

Barreto Guimarães refere que não vai apenas falar de “poemas sobre medicina”, nem de poemas escritos por médicos. A ideia é “saltar de tema em tema, incluindo alguns temas médicos e poemas que versam o homem, o corpo, a anatomia, a doença, o tratamento, a vida e a morte”, resume o cirurgião.

Além disso, pretende-se ainda “abrir pistas de leitura” para depois das aulas, de modo a que cada aluno possa fazer “outras descobertas e, desejavelmente, despertar e ajudar a desenvolver o lado humanista que se pretende que um médico tenha”.

 

O médico cita a poetisa polaca Wislawa Szymborska, de quem gosta especialmente, para notar que “um poema não consegue verdadeiramente anular o sofrimento, mas permite acompanhar o processo”.

O mais difícil das aulas vai ser “dar uma nota a estes 30 alunos”, assume Barreto Guimarães, embora alertando que deve haver uma prova final.