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Da escassez à hipérbole: o lugar ótimo do conhecimento


Todo o conhecimento tem um poder de ambivalência. Aquele que revela, que desoculta, que desmistifica, eliminando as trevas dos nossos olhos, é o mesmo que esconde e torna sofrível o sentimento do nosso coração. Como o sociólogo Max Weber afirmava, trata-se de um desencantamento do mundo que ao mesmo tempo que promove a racionalidade, a ciência e a tecnologia nos retira o valor da fé e, em alguns casos, a criatividade.

Apliquemos este pensamento às motivações e expectativas que estão inerentes aos processos de acesso ao ensino superior. Muitos jovens desistem de seguir um determinado curso devido a um fator que, não deixando de ter a sua relevância, é tomado como decisório: a taxa de empregabilidade desse curso. Portanto, se uma dada área de formação não é vista como tendo saídas profissionais que assegurem a oportunidade rápida de emprego (bem remunerado) é considerado pouco útil e, desta forma, não frequentável.

No entanto, não raras vezes acontece, por um lado, um fenómeno que confunde a percentagem real de empregabilidade com uma taxa imaginária. Dou um exemplo disto: até ao ano passado, existiam apenas cerca de 6% de todos os formados na minha Licenciatura em Sociologia/Faculdade de Letras da Universidade do Porto inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Neste sentido, a ideia de que esta área do saber cria diplomados que estão “fatidicamente” destinados ao desemprego é, de acordo com os dados, falsa.

Por outro lado, mesmo perante informações verídicas relativamente às saídas de um curso e à entrada dos licenciados no mercado de trabalho, devemos encará-las como um assunto que encerra qualquer conversa sobre ingresso no ensino superior? A meu ver, obviamente que não. A ciência não pode ser empregue para desincentivar alguém a seguir aquilo de que gosta, mesmo face aos obstáculos que, mais dissimulada ou notoriamente, costumam existir; a ciência deve ser um fator mobilizador e dinamizador, que retrata a realidade de modo rigoroso, mas sem cair nas velhas agruras dos determinismos incapacitantes. Estimular a imaginação de horizontes de vida melhor não se coaduna com uma razão sem humanidade na sua aplicação.

Durante o Iluminismo o conhecimento foi visto como arma essencial para o alcance de uma primeira amostra de um mundo mais justo. Hoje em dia, tanto a sua negação como a sua hiperbolização representam inimigos que tolhem o criativo espírito dos jovens recém-descobridores de um universo enorme de possibilidades de qualificação. Deixemo-los serem livres para optar – o que também significa optarem pela sua própria liberdade!

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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