Ser madrinha é ser o medo e a ânsia apoderar-se de um corpo, que não é tão menos frágil que o corpo de caloira como parece. Ser madrinha é o medo de falhar a gritar alto todos os dias. É a vontade de abraçar com mil braços os seus rebentos, de os esmagar de mimos. Na academia, ser madrinha é a maior responsabilidade e a maior bênção. É olhar para aqueles seres recém chegados e frágeis e não saber exatamente o que fazer com eles. Abraçá-los ou praxá-los? No fundo, é a mesma coisa.
É tão bom que os que vêm depois nem sempre se apercebam que uma madrinha também sofre, também tem medos e também é insegura. Uma madrinha, queridos, também se sente perdida, especialmente quando lhe caem afilhados do céu que a conquistam de uma forma especial todos os dias.
Tal como os caloiros, as madrinhas, aos poucos, na nova etapa, vão crescendo, vão perdendo o medo e percebendo os mapas. A diferença entre as madrinhas e os caloiros é que os caloiros podem errar. As madrinhas não podem. Mas erram. Erram porque são humanas, porque ninguém está 100% preparada para ser madrinha sem nunca o ter sido antes, erram porque tentam tanto não errar que só isso já é um erro.
É claro que é utopia pensar que se pode escrever tudo sobre ser madrinha. Não se pode, na realidade, escrever nada. Porque não é algo que se escreva, é algo que se sente, ainda que isto seja cliché. Tentamos, pois, escrever sobre o sentimento que é ser madrinha. É tão forte. É ter a preocupação de arranjar para afilhada resumos que nunca se teve, é dar-lhe as praxes que sempre quis ter, é abrir-lhe a capa mesmo quando a afilhada também já traja porque a capa da madrinha é sempre melhor que a minha. Olhando assim, ser madrinha é bom. Ou talvez não.
Ser madrinha é péssimo! É a dor e a saudade em união. Como é que deixamos para trás os nossos rebentos? Como é que os abandonamos, aqui, na cidade onde os acolhemos e que eles não conhecem sem nós? Como é que ficamos sem sabermos se têm ido às praxes e se têm as posturas corretas, sem sabermos como é que se andam a alimentar, sem os obrigarmos a convidarem-nos para um café? Como é que ficamos quando temos que dizer adeus aos nossos maiores amores da cidade dos amores? Ser madrinha finalista dói. Ser madrinha finalista é péssimo. A única dor que fica, no meio de tantas, por se deixar a academia, é a dor de abrir os braços e deixar os rebentos sair de vez.
Há madrinhas mais sortudas que outras. Rebentos mais sortudos que outros. Os meus tiveram o azar de ter uma madrinha galinha, que chora só de pensar em abrir as asas para os deixar voar sozinhos. Os meus rebentos cometeram o maior erros das suas vidas ao escolherem-me para madrinha, porque mesmo saindo da academia, não me hei de permitir sair das suas vidas. Porque são os meus rebentos, os meus orgulhos, e mesmo com lágrimas nos olhos, malas feitas e o coração a sangrar ao virar as costas, não haverá cidade nem pessoas nem contextos que me façam esquecê-los.
Ser madrinha finalista é, contudo, olhar com um orgulho incomensurável para o legado que deixa e saber que o seu nome e os seus valores vão permanecer. Saber que deixa um tesouro sustentável. E, claro, ansiar pelo regresso relâmpago só para meter os rebentinhos já crescidos e trajados dentro capa da madrinha, por uma última vez.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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