Tenho vindo a ouvir falar o piorio sobre tudo o que é relativo a praxes académicas e, sem dúvida alguma, tem havido incidentes uns atrás dos outros (e cada um pior do que o anterior) com esses mesmos eventos.
Mas por outro lado…
Andamos desde os nossos inocentes 6 anos, até aos já adultos e (supostamente) conscientes, 18 anos, a estudar com o objetivo de atingir o grande e prestigiado ensino superior. Quando conseguimos chegar à grande meta a que, desde pequenos somos confrontados, nem que seja com a tradicional pergunta do “o que é que queres ser quando fores crescido?”, deparamo-nos, mais recentemente, com o fenómeno praxes violentas.
É um facto que elas existem e que algumas ainda não foram divulgadas à comunicação social e por vezes nem a família sabe o que se passa dentro das portas da tão prestigiada instituição onde o pupilo começou a estudar recentemente. Tudo isto é verdade, ninguém pode desmentir que o que se passou no Meco o ano passado, ou as mais recentes situações em Faro, foram sem dúvida graves e merecem a atenção do povo, das entidades diretivas das faculdades em causa e, sobretudo, dos pais dos alunos em questão.
Tudo isto são dados adquiridos mas, por mais que ouça os papás dos estudantes a dizer mal de todo o aparelho académico e a mandar as mães dos senhores doutores e veteranos “abaixo de Braga”, o que é certo é que se os filhos têm de ser responsáveis por poupar o dinheiro que lhes dão para durar o mês todo, ou para ir passear o cão todos os dias, não interessa, mas, acima de serem responsáveis pelo animal doméstico, têm de ser responsáveis pela sua integridade física e psicológica.
Passo a explicar, atingindo a maioridade passamos a ter um peso maior em cima dos ombros, o maior deles todos é que os pais já não são responsabilizados pelos atos dos filhos. A começar por aí e se querem participar nas praxes académicas, têm obrigatoriamente de pensar em si mesmos em primeiro lugar e não ir com a multidão. Esse tipo de pensamento conjugado com o medo de rejeição por parte de colegas de curso, doutores e veteranos, leva à atenuação de sentido de responsabilidade sobre si mesmos, desde logo. Os casos mediáticos que já referi não me sugerem que os caloiros em questão foram postos entre a espada e a parede, entre a vida e a morte e que, assim, tiveram (sem alternativa) que consumir álcool até cair em coma, ou andar até à água gelada de um mar revolto. Antes de mais nada está o facto de que, no início de cada ano escolar é-lhes posta a hipótese de se recusarem a entrar neste ritual de praxe para não falar de que, a qualquer momento, um caloiro pode desistir dessas mesmas práticas, já que não é uma atividade obrigatória.
Assim, qualquer tipo de praxe que o aluno considere que ponha em risco a sua integridade, pode ser imediatamente interrompida, sem que disso advenham consequências em qualquer aspeto fora do contexto dessa atividade.
A praxe é reconhecidamente um ritual essencial na entrada no ensino superior, sendo que é quase impossível caracterizar o mesmo sem frisar esses costumes. É um conjunto de regras, tradições e práticas das mui nobres instituições académicas que têm como objetivo fazer com que os alunos se sintam integrados e que são, por isso, coordenadas pelos alunos mais velhos dos diversos cursos. Sendo assim, deveriam quebrar esse protocolo doutor-caloiro, em prol de meia dúzia de ocorrências infelizes, apenas porque os alunos não sabem ser responsáveis e ver que (se calhar) não é boa ideia ir em direção a um mar agitado ou que talvez não será muito divertido deixar doutores e veteranos enterrar alguém até às orelhas e por uma garrafa de uma qualquer bebida alcoólica pela garganta abaixo? A praxe é uma tradição académica cada vez mais incompreendida, por parte da opinião pública e, é certo e sabido, que se faculdades públicas (maioritariamente) permitem que se realize qualquer tipo de atividade, poderá resultar da pior maneira. Na minha opinião, enquanto caloira deste ano letivo há tão pouco tempo iniciado, o que há a fazer quanto a esta situação é meter juízo na cabeça dos filhos e, para ser mais precisa, fazer saber que, tanto na praxe como para o resto da vida, ir com a multidão, qual ovelha num rebanho, não é, provavelmente uma boa ideia.
Sendo assim, deixem a praxe em paz e comecem a olhar para o que têm em casa e considerem que está nas mãos dos vossos filhos se sabem tomar conta de si mesmos ou não e que não é uma tradição antiga que tem a culpa.
Este foi o meu desabafo mais sincero e, para concluir, vivia o meu ano de caloira e todas as minhas praxes, uma e outra vez, ainda que à tão pouco tempo se tenham iniciado.
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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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