Quando entramos na Universidade ouvimos dois tipos de opiniões: “estuda, que vai dar frutos!” ou então “isso é fácil, quando tiveres de trabalhar é que vai ser!”. E assim, os semestres vão passando com maior ou menor facilidade, mais ou menos tempo livre, e mais ou menos gosto pela área onde estamos. Eventualmente fazem-se os exames, as frequências e os trabalhos, e vamo-nos desdobrando para conseguir conciliar a universidade com tudo o resto.
Depois, chega o estágio… que inicialmente pode ser aterrador, mas que se correr bem vem confirmar o nosso interesse pelo que andámos a estudar durante os anos todos. A seguir, vem o sprint final: a tese de mestrado que avança sempre com solavancos, onde surgem sempre modificações de última hora e onde o ritmo que nos é imposto parece sempre ser impossível de acompanhar. Finalmente, chega a data da entrega, e lá vai! “Parabéns! Conseguiste! Acabou! Vamos festejar!”. A plateia aplaude, os amigos recordam que sempre tivemos a capacidade de conquistar “o canudo”, a família sorri bem orgulhosa, e o recém-mestre só quer descansar, festejar, descansar outra vez e adaptar-se ao título que ganhou: MESTRE. Parece que conquistámos a Champions. E depois? E agora?
Agora já não pertencemos a lado nenhum. Já não temos o carimbo de estudante. “O que andas a fazer?”, parecem perguntar todos. E as respostas repetem-se: “estou à procura de alguma coisa. Tenho de arranjar um estágio profissional”. Subitamente, as oportunidades que nos foram falando sobre o mundo do trabalho parecem não ser bem assim. De repente vemo-nos confrontados com a mesma resposta: “Não estamos a recrutar.”. Ou somos confrontados com algo bem pior – o vazio. Batemos a todas as portas, procuramos perceber se temos a mínima hipótese, mas o feedback é quase sempre inexistente.
A sensação é de revolta e de frustração. Principalmente quando ouvimos “precisamos de pessoas mas não podemos pagar.”. É suposto sermos voluntários toda a vida? Toda a nossa experiência parece não servir: “experiência mínima de 3 anos”. E agora? Agora temos outro carimbo, e este custa-nos mais a aceitar: “Não trabalha nem estuda”. Este carimbo não foi uma escolha nossa, foi-nos imposto. E até quando?
Há tempos, Tiago Bettencourt escrevia: “Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz / Não me fazem ver que a luta é pelo meu país / Eu não quero pagar depois de tudo o que dei / Não me fazem ver que fui eu que errei”. Muito antes, José Afonso avisava “eles comem tudo”. Ainda hoje, os números não mentem.
Eu Consegui. E agora?
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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