Chamo-me Vasco Medeiros, tenho 17 anos. Frequento o 12º ano no Curso de Ciências e Tecnologias, na Escola Secundária Vergílio Ferreira, sita em Telheiras, Lisboa.
No âmbito da palestra “unconference” organizada pela Space Up, no passado dia 9 de Fevereiro de 2019, tive a oportunidade, inesperada, de fazer uma “unpresentation” sobre o tema: “The Future and the Challenges of Education and the Young Generations”.
O futuro da educação? Como o podemos enfrentar? Como será? O que fazer? Muitas, e muitas perguntas poderão surgir no desenvolvimento deste tema, não havendo, portanto, uma resposta óbvia capaz de responder a um tema que tem tido um maior interesse público, e sempre muito presente na vida dos professores e dos jovens estudantes. No meio das imensas incertezas, que o futuro nos reserva, há apenas uma certeza. A certeza de que a tecnologia tomará um lugar de destaque no ensino.
Há muito tempo que todos sabemos isso! No entanto, arrisco-me a dizer que não sabemos como introduzir o tema na comunidade educativa. A ideia com que fico, é que, no momento em que estamos a iniciar esse passo de gigante, já os avanços tecnológicos foram feitos, os alunos evoluíram nos seus saberes sobre as mais inovadoras formas tecnológicas, acabando, as escolas e os professores, por não acompanharem este avanço tecnológico, estando pois “desatualizados” sobre esta temática. Paralelamente, e atendendo ao subfinanciamento escolar, as infra estruturas e os equipamentos escolares em termos tecnológicos, ficam aquém do necessário e subsequentemente, não satisfazem as necessidades dos docentes e dos alunos. Assim, parece-me bastante complicado abordar e discutir este tema, até porque tenho apenas 17 anos e não sou um “expert” na temática.
Fazendo agora uma reflexão, entendo que, relativamente ao futuro, deveria haver uma grande mudança, a qual deveria abranger não só os jovens, como os futuros cidadãos de amanhã, e também, os professores e as instituições de ensino. Constato que cada vez menos jovens se encontram interessados em participar civicamente na sociedade, seja através, por exemplo, da participação em palestras e conferências, ou até em atividades nas instituições de apoio social. Esta constatação é real, pois da minha experiência, ainda pequena, tenho reparado na escassez e na diminuta participação de jovens da minha idade nas mais diversas conferências. O meu percurso nestas palestras é já bastante assíduo, pois desde muito cedo tenho interesse em variadíssimos temas, e por conseguinte participo com regularidade, nestas conferências e verifico, infelizmente, a escassez de jovens nestes espaços.
Este paradigma tem que mudar! Se queremos formar jovens capazes de tomarem decisões conscientes e capazes de refletirem sobre os problemas da sociedade, temos que estimular, desde prematura idade, hábitos cívicos, isto é, hábitos de participação na comunidade que abranjam todo o processo de crescimento dos jovens, levando a um melhor desenvolvimento psicológico, emocional, social e intelectual. Essa mudança passa, não só pelas escolas, mas também pelos pais que são, no início de vida das crianças, as grandes referências, favorecendo e estimulando ao desenvolvimento de uma personalidade proactiva. Por outro lado, as escolas deverão, junto dos professores, fomentar e estimular igualmente, nos jovens alunos, esse espírito de “civismo”.
Sabemos, muito bem, que as escolas têm como principal objetivo transmitir conhecimentos aos alunos de forma a melhor prepará-los para o futuro. Essas aprendizagens vão desde o ensino básico até à formação final, preparando-os para o mercado de trabalho. Mas questiono, “não será essa uma versão desatualizada do significado?” Há muito que reflito sobre o tema, e facilmente a resposta que me surge na mente é: “Sim, é!!!”.
Na atualidade, a informação, nunca esteve tão próxima do ser humano, estando mesmo, apenas, a uma distância de alguns cliques. Assim, numa sociedade futurística é mais importante fomentar jovens capazes de pensarem de forma crítica sobre aquilo que os rodeia, do que formar “enciclopédias andantes”. Mas tal ideia leva-nos a mais uma questão: “Então, e os programas de ensino de cada disciplina? Como ficarão?”.
Pois bem, nessa questão, considero que muitas vezes alguns conhecimentos transmitidos em cada disciplina poderiam ser ignorados ou agrupados. Sim, o conhecimento é importante, mas dada a facilidade em obter informação, deveríamos dar ênfase a outras perspetivas. De forma a tornar os programas mais interessantes, para todos os membros da comunidade educativa, poder-se-ia fazer mais “pontes” entre as várias disciplinas. Por exemplo, as disciplinas de Física e Matemática apresentam temas “quase comuns” como as derivadas e a cinemática. Se fizermos essa ponte, os alunos facilmente irão compreender, não só, a beleza das ciências, mas entender de forma mais facilitada a aplicabilidade de cada disciplina. Desta forma, penso que os alunos poderiam estar mais motivados e interessados sobre as temáticas a abordar, facilitando o processo de aprendizagem e de ensino, por um lado, e por outro, estimulando nos jovens a curiosidade e a capacidade de refletirem sobre temas diversos.
Considero que de forma inconsciente, poderemos ser capazes de transferir e aplicar os mesmos métodos de pensamento em outras matérias como as disciplinas de história e português, entre outros. Assim, estaríamos a estimular nos jovens a capacidade de pensarem “out of the box”.
Para além disso, considero interessante a criação de um grupo de trabalho, tipo uma comissão de representantes de alunos, professores e encarregados de educação, que teriam como responsabilidade, informar a comunidade de alunos acerca de eventos científicos, conferências, palestras sobre os mais variadíssimos temas, deste literatura, passando pela cultura, música, ciência e economia. Por exemplo, no início de cada semana essa informação deveria estar disponível para partilhar à comunidade de alunos, o que tornaria a divulgação da informação mais próxima e facilitada, e sempre atualizada, recorrendo para o efeito, à tecnologia e às redes de informação, meio preferencial de divulgação.
Assim, penso que desta forma, conseguíamos incentivar os jovens a uma participação ativa na sociedade, desenvolvendo neles o espirito de procura e reflexão, ampliando, consequentemente a auréola do conhecimento que os rodeia. Esta medida, para além de ser fácil a sua execução, seria de extrema importância, pois poderia mobilizar as instituições de ensino a desenvolverem projetos, o que contribuía para que o ensino não se tornasse uma obrigação, mas antes um prazer, abrangendo desta forma toda a comunidade educativa escolar e também a sociedade.
Considero assim que algumas mudanças poderão estar mais perto de nós, do que o previsto e que tal apenas depende da “boa vontade” daqueles que se encontram nos órgãos de liderança e coordenação do sistema de ensino.
Foi no final do mês de janeiro, que tive a feliz oportunidade de estar presente, durante dois dias, nas conferências organizadas pelo Conselho Nacional de Educação, na Fundação Gulbenkian. Aqui foram discutidos vários temas, que compreendem as neurociências, a inteligência artificial, o futuro do trabalho, e, finalmente, a educação. No meio, de tão notáveis palestras e palestrantes, tive o prazer de ouvir, e mais tarde questionar, o professor Cees Hamlink.
Na sua intervenção, o professor Hamlink falou daquilo que seria a escola ideal, onde enfatizou a importância de uma “mais intensa” participação dos jovens em debates e seminários, conforme referido anteriormente. Esta participação ativa, tão fortemente referida neste texto, deverá assentar em alguns pilares. Um desses pilares é a diversidade de conhecimento. Se incentivarmos nas escolas, e em outras instituições, o ensino de temáticas diversificadas, estaremos, sem dúvida, a consciencializar da melhor forma os jovens sobre o mundo que os rodeia.
Considero não ser suficiente o ensino, num Curso de Ciências, de apenas e só disciplinas de ciências. É preciso introduzir outras disciplinas, nomeadamente, filosofia, ou outros temas mais atualizados que favoreçam novas aprendizagens e novas reflexões sobre temáticas atuais da sociedade e do seu ecossistema. Só desta forma seremos capazes de formar jovens curiosos, interventivos e plurais nos seus conhecimentos.
No ensino básico, por exemplo, a disciplina de “oferta complementar” deverá, igualmente, ser um espaço de discussão e reflexão de ideias. Vemos hoje em dia, por exemplo, que os grupos de investigação e trabalho são cada vez mais heterogéneos em termos de conhecimento, pelo que é fulcral, a existência de um ensino diversificado, capaz de responder aos desafios futuros das sociedades mundiais, favorecendo a realização de mais e melhores “sinapses” nas mentes jovens, contribuindo, inevitavelmente, a uma maior adaptabilidade dos jovens ao futuro mercado de trabalho.
Assim, a estimulação de aprendizagens de outras valências, para além das adquiridas, apresenta um papel essencial no desenvolvimento intelectual dos jovens. Essa diversidade leva-nos a dois pilares: a cooperação e a inclusão. Aqui, a educação e o ensino deverão ter um papel de destaque. Se é verdade que nunca conseguimos incluir mais jovens na sociedade e estimular a cooperação, nomeadamente, fora das escolas (devido em muito á tecnologia), também é verdade, que a tecnologia levou à “discriminação involuntária” de tantos outros. Cada vez mais, sabemos, por intermédio dos meios de comunicação (televisão e jornais), a dependência que os jovens têm da tecnologia, pondo em risco a sua saúde física e mental e comprometendo o sucesso escolar. Esta é uma realidade que tende a aumentar e que todos temos a obrigação de dizer “Basta!”.
O ensino terá, cada vez mais, que ser uma ferramenta que vai para além de fornecer conhecimentos; deverá também, estimular a mente dos jovens estudantes, constituindo uma ferramenta que promova a respetiva inclusão independentemente das suas diferenças.
Assim, e tal como já vimos, a participação cívica dos jovens apela à resolução deste problema; mas também, é precisamente nas diferenças dos outros que deveremos olhar de forma curiosa e pertinente, para que, através dessas diferenças possamos aumentar as nossas aprendizagens. Assim, um sistema de educação mais eficaz, no capítulo da cidadania, trará junto dos jovens uma ideia de cooperação, sem limites, o que contribuíra para mais e melhores conhecimentos entre todos os membros da sociedade.
Como vimos, todas as ideias, encontram-se, inevitavelmente relacionadas, e sabemos que aquando da introdução de uma delas, as outras seguir-se-ão em cadeia.
Pois bem, mas se estas simples ideias são de tão fácil implementação, porque ninguém as introduz? A primeira, e a mais plausível resposta a esta questão, é o tema abordado logo no início desta apresentação: os extensos programas de ensino. Para além daquilo que tive oportunidade de aqui refletir, o professor Cees Hamelink defendeu na sua intervenção, que para o alcance desse “ideal ensino”, é preciso criar entre todos os membros da comunidade educativa uma hierarquia de “confiança”.
Todos sabemos que vários professores motivados e com novas ideias são privados na implementação dos seus projetos, ora por pressões dos encarregados de educação, por causa das metas curriculares, ora pelos serviços executivos/chefias das escolas, devido às suas posições nos rankings.
Tendo em consideração as variadíssimas limitações dos professores nas técnicas de ensino, aliadas à forma “clássica” do número de alunos em sala de aula e à sua configuração em termos estruturais, isto é, vinte e oito (ou mais) jovens numa sala de aula, em que um professor, desmotivado e cansado por perceber que nunca será capaz de dar expressão às suas ideias de educação, mandatos após mandatos, tenta cativar os jovens (também eles desinteressados) para o tema que está a ler com a ajuda de um suporte digital ou físico. Essa estratégia designada por “old fashioned” poderia ser facilmente derrubada, se os responsáveis desses estabelecimentos de ensino dessem autonomia e liberdade aos professores na concretização das suas ideias e projetos, o que, em meu entender, mais e melhores respostas positivas resultariam dessas medidas introdutórias.
Assim sendo, facilmente posso concluir, que o futuro da educação depende mais de nós, do que das tecnologias. Apenas aplicando medidas que promovam o interesse dos jovens, é que será possível formar uma sociedade mais intelectual e próxima do “quinto império”, paradigma defendido por grandes nomes da literatura nacional. Neste contexto, considero não ser necessário a mudança de governação ou de liderança do estado com a periodicidade de quatro ou cinco anos, para percebermos que os problemas da educação encontram-se na génese da sua implementação.
Considero pois, que este tema está longe de estar completo e discutido. É preciso inovar e diversificar apelando à curiosidade latente existente no ser humano desde tenra idade. Termino este texto com duas citações feitas pelos professores Hamelink e Alexandre Quintanilha, as quais, acabam por resumir aquilo que aqui abordei e que passo a citar: “Education is not about transmiting information, is about making people happy” e “ a educação tem o poder de transformar espelhos em vidros”.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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