Sei bem como surgiu esta minha paixão assolapada pela Obstetrícia. Foi aos 7 anos, quando soube que ia ter um irmão e comecei a acompanhar a minha mãe nas consultas e ecografias. Li o boletim de grávida, as revistas e folhetos sobre cuidados pré natais que ela tinha sobre o desenvolvimento fetal e achei aquilo tão bonito e interessante que defini automaticamente que queria trabalhar nesta área um dia mais tarde.
Os anos passaram, cheguei ao ensino universitário e, embora o sonho fosse Medicina, dei por mim a entrar em Enfermagem. Concluí a minha Licenciatura com uma ótima média. Nos anos seguintes, e após muitos mini cursos de enriquecimento curricular, as oportunidades profissionais passaram por lares de idosos, unidades de cuidados continuados, formações no âmbito da saúde, primeiros socorros, entre outros. O foco, porém, mantinha-se na Obstetrícia. Sentia que me faltava qualquer coisa e nada me satisfazia por inteiro.
Ingressei na Especialidade de Enfermagem Obstétrica dois anos depois de concluir a Licenciatura e mais uma vez confirmei que era aquilo que eu ambicionava fazer. No entanto, a minha área de residência era a mais de 300km da universidade onde estava a estudar. Eu estava a pagar as despesas com o que ganhava da empresa de saúde e estética que criei com a minha mãe, que precisava de mim para manter o negócio, e para facilitar as coisas pedi para realizar o estágio perto de casa, mas não me foi concedido, pelo que resolvi deixar essa parte para concluir mais tarde, quando surgisse então uma vaga no serviço de Obstetrícia do Hospital mais próximo.
Mas como sempre fui “estudantólica”, sabia que não ia conseguir ficar muito tempo sem outro projeto académico. Inscrevi-me e ingressei no Mestrado de Ciências da Educação e da Formação numa Universidade mais próxima de casa, e em dois anos especializei-me em Formação de Adultos, área que também muito aprecio e na qual já tinha trabalhado. Adorei a experiência. Ainda assim, o bichinho da Obstetrícia continuava a puxar por mim.
Mais uns anos se passaram. Entretanto fui mãe, casei-me, e após muitos currículos, a tão sonhada vaga de emprego na Obstetrícia surgiu, e fui trabalhar para o puerpério de um Hospital. Entrei de imediato em contacto com a Universidade da Especialidade de Enfermagem para tratar de concluir o estágio. Mas não foi preciso passar muito tempo para perceber que, muito embora gostasse do que fazia, não era o que realmente ambicionava. Eu queria estar lá desde o primeiro momento, queria acompanhar as gravidezes, aconselhar, ajudar a tomar decisões, fazer partos, ser a primeira a conhecer bebés acabados de chegar ao mundo, ter o prazer de apresentá-los aos pais. E ali só estava participar no pós-parto, não estava a conseguir sentir a realização que há muito procurava. Escusado será dizer que acabei por sair e continuar à procura da derradeira oportunidade.
Tinha 31 anos, e uma filha de 3, quando olhei para o meu marido e disse: “E se eu tentasse entrar em Medicina este ano?”. Já conhecia o Mestrado Integrado em Medicina para licenciados da área da saúde da UAlg há vários anos, e aquele parecia ser um momento oportuno, embora com diversas condicionantes, para avançar finalmente com a ideia. Seria a concretização de dois sonhos, Medicina e Obstetrícia. A minha família apoiou-me desde o início, e eu fui em frente. E entrei!
Atualmente, tenho 33 anos, sou mãe a tempo inteiro, Enfermeira em part-time e futura Médica, a terminar o segundo ano de curso. Estaria a mentir se dissesse que tem sido fácil gerir tudo isto, mas a verdade é que me sinto cada vez mais realizada e próxima de alcançar os meus objetivos. Não tenho a menor dúvida que este é o meu caminho, a minha vocação, e que não quero mais abdicar do que me faz feliz. Voltar a estudar depois de ter constituído família é sem dúvida um enorme desafio, mas não é impossível. Impossível, para mim, seria viver uma vida inteira a sentir-me incompleta em termos profissionais, sabendo que poderia dar muito mais de mim, e deixar os meus sonhos de lado. O tempo iria passar de qualquer maneira, então porque não passá-lo a tentar realizá-los?
Gostaria que a minha história pudesse inspirar e motivar outras pessoas a tentar, independentemente da idade, da área académica ou profissional. Penso que os melhores profissionais nascem de grandes paixões e que é de pessoas apaixonadas pelo que são e pelo que fazem que o mundo precisa. Nunca é tarde para tentarmos algo diferente, ou simplesmente para tentarmos o que queremos mais uma vez. Se nunca desistirem, garanto-vos, um dia, será de vez.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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