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Estudantes Covid: A Silenciosa Geração Depressiva


Volvidos os fatídicos e limitantes tempos da pandemia, a Geração Covid enfrenta agora um novo flagelo: uma silenciosa e perigosa pandemia de Saúde Mental. Embora este tema não seja novidade, os números recentemente apurados no estudo que conduzimos na Associação Académica da Universidade de Lisboa revelam uma realidade sombria na academia da maior Universidade do País.

As consequências psicológicas e emocionais provocadas pela COVID-19 são um legado preocupante para os estudantes que cresceram e se desenvolveram num período contínuo de incertezas. Segundo os nossos dados, aproximadamente 65% dos Estudantes da Universidade de Lisboa inquiridos relatam uma drástica deterioração da sua Saúde Mental após a pandemia. O impacto da ansiedade generalizada, do isolamento social, e do medo constante gerou uma pressão adicional sobre a saúde mental desta geração, resultando num cenário alarmante onde cerca de 80% dos Estudantes inquiridos revelam sentir uma forte vontade de se isolar.

Importa constatar que as causas que contribuem para esta preocupante conjuntura não se limitam ao período da COVID-19. A crise inflacionária e o contínuo aumento dos preços dos bens alimentares, levam diariamente os estudantes a optarem por opções alimentares menos nutritivas, tendo um impacto latente na sua saúde mental. Para além disso, a escassez de habitação acessível, combinada com o constante risco de despejo por aumentos sucessivos de renda, geram uma ansiedade perene entre os estudantes, que vivem na incerteza sobre a continuidade dos seus estudos. Com base nos resultados por nós aferidos, constata-se uma vontade iminente de abandono escolar, uma vez que quase metade dos inquiridos já ponderou desistir dos estudos por se sentir esgotado psicologicamente.

Na Universidade, é crucial adaptar e evoluir os modelos pedagógicos utilizados, tendo em conta que, após a implementação do Processo de Bolonha, os conteúdos das licenciaturas foram comprimidos para três anos, em contraste com os cinco anos anteriormente exigidos. Ao mesmo tempo, é primordial reconhecer que muitos desses modelos pedagógicos refletem abordagens antiquadas do século 19, enquanto lidam com estudantes do século 21. Os modelos pedagógicos devem ser sensíveis às necessidades e realidades dos estudantes, levando em consideração aspectos como a saúde mental. Esta preocupante realidade é evidente quando consideramos que 58% dos estudantes acabam por dar prioridade aos estudos em detrimento da sua saúde mental, devido às abordagens desatualizadas e aceleradas dos modelos pedagógicos vigentes.

Apesar de tudo, no contexto atual, é inegável que a saúde mental se tornou um tema amplamente debatido na academia. No entanto, a comunidade estudantil continua a apresentar uma percepção generalizada de falta de intervenção das Instituições de Ensino Superior no que toca à prevenção da Saúde Mental dos estudantes. Nesse sentido, é determinante que as Universidades e o Governo reconheçam a importância desta questão. A disponibilização de mais psicólogos e profissionais especializados em saúde mental deve ser uma prioridade, a fim de proporcionar um apoio efetivo e abrangente a todos os estudantes.

Para garantir uma abordagem preventiva em relação à saúde mental, é necessário utilizar de forma estratégica os recursos disponíveis. Nesta ótica, sugerimos que os dados de desempenho académico, já digitalizados, sejam utilizados como um sinalizador de casos de burnout. Por exemplo, se um estudante apresentar uma diminuição significativa no seu rendimento académico, por que não utilizar algoritmos que possam detetar essa queda e desencadear uma ação por parte dos serviços de psicologia das Instituições de Ensino Superior? É de notar que, quando um estudante falha no pagamento das propinas, recebe alertas e notificações para resolver rapidamente a situação. Porém, quando o rendimento académico é afetado, não existe qualquer mecanismo preventivo que alerte para a possibilidade do estudante estar a passar por uma dificuldade psicológica.

O que reivindicamos é que a Saúde Mental dos estudantes seja tratada com devida prioridade, só assim é que se estarão a formar jovens na sua plenitude. Para tal, no nosso estudo propomos um conjunto abrangente de medidas que visam garantir o bem-estar da comunidade académica. Defendemos firmemente que o futuro do Ensino Superior passa impreterivelmente por colocar o bem-estar dos estudantes no centro das decisões, reconhecendo-os como a essência da Universidade.