A larga maioria dos atores setoriais ouvidos esta semana na última audição parlamentar da Comissão de Educação e Ciência mostrou-se favorável à futura outorga de doutoramentos pela rede politécnica portuguesa, bem como à mudança de designação dos institutos para “Universidades Politécnicas”. Entre eles estão as associações de estudantes do ensino superior, quer dos politécnicos quer das universidades, e os sindicatos mais representativos do setor, presentes na sessão pela Fenprof – Federação Nacional dos Professores e o SNESup – Sindicato Nacional do Ensino Superior.
Em mais uma conferência no Parlamento destinada a apreciar na especialidade os projetos de lei sobre o ensino superior politécnico, vários representantes do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) vincaram que o foco da iniciativa [legislativa] é “permitir aos politécnicos crescer de uma forma sustentável”; “ter um impacto internacional muito maior”; e ir à procura de outros públicos, considerando não só os objetivos do país ao nível do crescimento e afirmação do Ensino Superior, mas também reconhecendo as dificuldades acrescidas nos próximos anos decorrentes da evolução demográfica do país”, reforçaram na ocasião.
No topo das preocupações e na mira do CCISP estão os desafios sociais e económicos que as regiões, em particular, e Portugal, de uma forma geral, têm pela frente. “Todo este processo resulta de uma profunda reflexão das instituições politécnicas, iniciado há mais de uma década”, sublinhou-se, para ir ao encontro do que “precisam as empresas” de cada uma das regiões com implantação de politécnicos.
A decisão final sobre a mudança poderá sair do Parlamento entre final de janeiro e início de fevereiro.
“Não queremos, de todo, fugir àquela que é a nossa missão; o que queremos é ter a possibilidade de dar um passo maior”, inclusive para ultrapassar as “muitas dificuldades” em fazer passar no estrangeiro a mensagem. Porque, como foi frisado na sessão, a “sociedade interpreta que o patamar mais alto do ensino é a universidade, e qualquer ‘ruído’ à volta do termo tira legibilidade ao sistema”. Ou seja, claro que “o nome é também um problema”, mas apenas no sentido de transportar uma “legibilidade maior” para o ensino superior como um todo, e nunca para colocar em causa a missão de cada um dos subsistemas.
Um aprofundamento do sistema numa perspetiva moderna para o País
Com a atual pretensão em debate, garantiu o CCISP, “estamos tão longe de vir a colocar em causa o atual sistema binário que nem vale a pena perder tempo a discutir isso”. Para o organismo máximo que coordena a ação da rede politécnica portuguesa é muito simples: o sistema politécnico evoluiu muito e aproximou-se das necessidades das regiões e das empresas. E se houver “mais doutorados a produzir trabalho nas instituições estaremos todos a produzir mais ciência”. O que consideram benéfico para o País.
O que se está a propor neste momento, notou-se nesta última audição parlamentar, é um “aprofundamento do sistema”, e não só politécnico, “mas numa perspetiva moderna”. “Estamos implantados nas nossas regiões a fazer investigação aplicada às questões dos territórios e a resolver problemas efetivos, contribuindo com isso de forma indelével para o desenvolvimento do país de forma integrada. E com isto estamos a conseguir promover a reversão da perda demográfica de muitas zonas do interior. Porque temos capacidade científica. E não há qualquer risco nesta progressão” do sistema, asseverou-se.