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Eu, a depressão e a sociedade

A depressão é a chamada doença do século XXI. Cada vez mais vemos pessoas a sofrer desta terrível doença. No entanto, parece que o estigma social não tem meio de acabar. Tenho depressão deste os 15 anos e nunca me senti confiante o suficiente para falar com algum sobre o meu problema até há muito pouco tempo.

Lembro-me de ouvir uma professora dizer que as pessoas que se suicidavam eram apenas pessoas tolas e fracas. Ela dizia que todos temos problemas e que não é por isso que se justifica chegar a esse extremos. Naquela altura era apenas uma jovem a tentar perceber o que passava comigo. A ouvir estas palavras fechei-me ainda mais da sociedade. Passei a sentir-me sozinha, acreditava que todos os adultos pensavam como essa professora, e que portanto era em vão falar dos meus sentimentos. Para além disso, não queria mostrar a minha “fraqueza” aos jovens da minha idade. Não queria ser a coitadinha que está deprimida.



Quer dizer tenho uma casa, uma família, a oportunidade de estudar e e mesmo assim não sei porque estou viva. Mesmo assim acordo triste todos os dias da minha vida. Mesmo assim sinto-me uma fracassada e um desperdício de oxigénio neste planeta. A professora tem razão, eu sou fraca. Posto isto, fechei-me completamente. Deixei de sair com as minhas amigas, achava que o meu valor era tão pequeno que eu nem merecia estar com elas. Deixei de fazer os meus passatempos preferidos (voleibol, cantar,dançar). Passei a viver completamente isolada da sociedade. Já nem me dava ao trabalho de vestir bem. Para que vestir bem se sou uma fraca e nunca ninguém vai gostar de mim?

 

A minha mãe, mãe solteira, trabalhava muito mas mesmo assim percebeu que algo não estava bem. No entanto consegui sempre fingir que não se passava nada. Poderia estar a sofrer por dentro mas sempre fui boa a esconder os meus sentimentos.

Durante 4 anos vivi isolada, e extremamente deprimida. Aliviava a minha dor a comer e ver vídeos na Internet. O que a longo prazo apenas serviu para prejudicar a minha saúde física. Na verdade, os sentimentos negativos rapidamente retornavam.

No final do meu 12º ano não aguentava mais o sofrimento, durante muitas vezes pensei em acabar com a minha vida, mas felizmente nunca o concretizei. Nesta altura estava tão em baixo que até não conseguia fingir. Pelo menos não à minha família. A minha mãe apercebeu-se da situação e fez tudo para me ajudar. Ela mostrou-me que a depressão é uma doença e portanto para ficarmos melhores temos que arranjar um tratamento adequado.

Podemos comparar a depressão a uma ferida aberta. Quanto mais tempo passas sem a tratar pior ela fica. Chegando até mesmo a infetar e podes acabar por arranjar outros problemas ainda mais graves por não tratares dela. Neste caso não podes simplesmente esperar que sare sozinha.

 

Ninguém diz a alguém com uma ferida que é um fraco ou que esta a fingir. O facto de a doença não ser tangível não impede a sua existência. O stress da vida universitária pode muitas vezes levar a depressão ou piorar a situação daqueles já vivem com a doença.

Por isso digo a todos os estudantes que estiverem a sofrer de depressão neste momento: sejam fortes e peçam ajuda. Agora pode parecer tudo tão escuro mas a luz ao fundo de túnel existe. Não deixem que ninguém desvalorize o vosso problema. Não se sintam estranhos por terem esta doença. Lembrem-se de que nada é permanente nesta vida. Isto inclui o sofrimento.

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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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