Os estudos já mostram que as notas dos exames são tendencialmente mais baixas do que na avaliação contínua, mas uma nova análise da Nova SBE vem mostrar que essa diminuição é menor para os rapazes do que para as raparigas e maior quando o professor é homem.
A literatura anterior já tinha identificado uma diferença de género entre a avaliação contínua feita pelo professor e as notas dos exames nacionais. Mas agora este estudo da Nova SBE vem juntar duas análises do impacto da avaliação dos alunos do secundário no acesso ao ensino superior: o género dos alunos e o sexo dos professores. Para isso, as duas investigadoras, Catarina Ângelo e Ana Balcão Reis, utilizam dados de 12 disciplinas – das humanidades às ciências – de todos os alunos do ensino secundário público que foram a exames nacionais, entre 2009 e 2017.
Da análise dos dados, as autoras chegaram a duas conclusões. “Os exames são relativamente mais favoráveis para os rapazes, qualquer que seja o sexo do professor”, lê-se no estudo em pré-publicação. E, além disso, os resultados sugerem que ter um professor homem “parece aumentar” a descida entre a nota da avaliação contínua e a nota do exame. E esse “impacto é menor para os rapazes, dizem as autoras.
Embora tanto rapazes como raparigas tenham, em média, notas mais baixas nos exames nacionais do que na avaliação contínua, o ‘paper’ das investigadoras da Nova SBE mostra que a diferença entre essas duas notas é menor para os rapazes na maioria das disciplinas analisadas.
Em quanto? A professora Ana Balcão Reis diz que varia entre 0,1 e 0,8 pontos, em média. “Quando estamos a falar para entrar na faculdade, todas as décimas fazem diferença”, diz.
Esta diferença surge em vários países e Ana Balcão Reis diz que pode estar relacionada com as raparigas pontuarem melhor nos vários elementos comportamentais exigidos na avaliação continua. “Para a avaliação do professor contam várias componentes, os trabalhos de casa, a pontualidade. Nisso as raparigas parecem ser mais certinhas e persistentes – e se calhar portam-se melhor. Os rapazes parecem falhar mais [nestes pontos], mas alguns estudos mostram que conseguem dar-se melhor nos exames”, descreve.
Ao mesmo tempo, a diferença entre a nota no exame e a da avaliação contínua é maior ” em 0,13 em Português a 0,82 em Economia”, quando o professor é homem, lê-se no estudo. Quanto ao impacto do sexo do professor, a professora admite que são necessários mais estudos.
Para Ana Balcão Reis, este estudo vem mostrar certo tipo de políticas, como a redução do peso dos exames nacionais no acesso ao ensino superior, “pode estar a reduzir-se o acesso de alunos quando se quer fazer o contrario”. É que, “quando se fala em reduzir muito o peso do exame ou mesmo eliminá-lo, estaríamos só a focar o acesso nos alunos que se dão bem na avaliação das aulas, esquecendo alunos mais irregulares, cortando possibilidades no futuro”, considera a investigadora.
Por isso, defende, faz sentido contar com os vários tipos de avaliação no acesso ao ensino superior.