Área da Investigação

   
Olá, estou neste momento no 12° ano e tenho andado um pouco "perdida" em relação ao curso que devo escolher. Eu estou em ciências e sempre sonhei em trabalhar em investigação científica, um trabalho mais em laboratório, sendo a área da genética e a parte da cura para certas doenças, a virulogia e a microbiologia as que me chamam mais à atenção... Tendo em conta isto eu tenho andado bastante indecisa entre 3 cursos que são Biologia na FCUL, Biologia molecular e celular na Nova de Lisboa (infelizmente não sei se vou ter média, uma vez que as médias subiram muito) e ciências biomédicas laboratoriais no politécnico de Lisboa. Entre estes 3 cursos eu não sei qual é que será o mais indicado para mim e sem ser estes cursos também não sei se haverá algum que seja mais indicado (aceito sugestões!!!)
Para além disto também gostava que alguém me conseguisse esclarecer se todos estes cursos têm acesso depois a um mestrado como o de biomedicina e genética ou o de Biologia molecular e genética.
Se alguém me souber dizer qual era o melhor "percurso" que eu poderia fazer de de forma a entrar na área da investigação, aceito mais uma vez as sugestões!
Olá,
Eu quero ir para essa área e escolhi Ciências Farmacêuticas.
É um mestrado integrado que dá acesso a várias áreas incluindo investigação. Fazes um doutoramento a seguir ao curso na área que mais te interessa.
Se quiseres saber mais sobre o curso podes mandar mensagem.
Boa sorte!
 
Olá,
Eu quero ir para essa área e escolhi Ciências Farmacêuticas.
É um mestrado integrado que dá acesso a várias áreas incluindo investigação. Fazes um doutoramento a seguir ao curso na área que mais te interessa.
Se quiseres saber mais sobre o curso podes mandar mensagem.
Boa sorte!
Também já tive a ver como é que era esse curso e as cadeiras, mas não me chamou muito à atenção, deu-me a entender que era um curso com mais química que biologia (posso estar enganada) e eu queria algo que tivesse mais biologia e para além disso, penso que um dos exames que teria de ter era físico-química e os exames que eu tenciono usar são biologia e matemática.
 
Também já tive a ver como é que era esse curso e as cadeiras, mas não me chamou muito à atenção, deu-me a entender que era um curso com mais química que biologia (posso estar enganada) e eu queria algo que tivesse mais biologia e para além disso, penso que um dos exames que teria de ter era físico-química e os exames que eu tenciono usar são biologia e matemática.

Podes seguir investigação com qualquer um dos cursos que referiste e qualquer um deles dá acesso (creio eu) aos mestrados que procuras. No entanto Ciências farmacêuticas tem a vantagem de ter um leque de saídas maior caso a investigação acabe por não te agradar, acabando por ser um curso mais seguro nesse sentido. Quanto à química, é sem dúvida o curso de saúde com mais química, por razões óbvias (e se realmente não gostares de química, talvez não seja a melhor opção), mas também tem uma elevada componente de biologia humana, que é essencial para compreender a interação entre o organismo saudável/doente e o medicamento.
 
Olá, eu sinto que já fiz esta pergunta mas sinceramente não me lembro se alguém respondeu.
Os enfermeiros podem trabalhar na área de investigação? Por exemplo em diabetes?
Obrigado.
 
Olá!
Eu frequento o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, e neste sentido tenho algumas perguntas nesta temática da investigação.
- primeiramente, é imperativo possuir um grau de doutoramento para conseguir fazer investigação? Por exemplo, sei que a nível académico, para conseguir fazer investigação (e dar aulas) é necessário fazer doutoramento. Mas um mestrado na área pretendida não chega?
- seguidamente, para fazer investigação em Portugal, é necessário ficar vinculado às universidades? Não existem empresas na área científica que façam investigação? ( e que sejam até mais estimulantes e vantajosas que nas universidades?) Esta é uma pergunta à qual não tenho mesmo ideia, uma vez que apenas tenho a noção de investigação em universidades.
- por fim, estando eu me a formar na área farmacêutica (mestrado integrado), e tendo em conta a ambiguidade de áreas científicas que abordo no meu curso, seria mais vantajoso fazer um mestrado complementar ao plano de estudos que levo ao longo da formação (numa área específica) , ou tentar ingressar num doutoramento assim que termine o curso?

Sei que estou no curso certo, visto que para além de investigação, as restantes possíveis saídas profissionais do curso também são do meu agrado, como indústria farmacêutica, análises clínicas e até mesmo farmácia comunitária. E para além disso, tanto a área da biologia humana, como da Química farmaceutica agradam me bastante. No entanto, está a chegar a altura de escolher as cadeiras opcionais e convém ter noção do que escolher para melhorar a minha formação.

Agradeço a vossa atenção!!
 
- seguidamente, para fazer investigação em Portugal, é necessário ficar vinculado às universidades? Não existem empresas na área científica que façam investigação?

Posso estar enganado, mas creio que boa parte da investigação feita em Portugal é a nível académico e não a nível de empresas (ainda que exista alguma).
 
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Isto é a minha experiência e pode não ser exatamente correta...

Olá!
Eu frequento o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, e neste sentido tenho algumas perguntas nesta temática da investigação.
- primeiramente, é imperativo possuir um grau de doutoramento para conseguir fazer investigação? Por exemplo, sei que a nível académico, para conseguir fazer investigação (e dar aulas) é necessário fazer doutoramento. Mas um mestrado na área pretendida não chega?

Segundo sei, na academia para poderes seguir o tenure track e a carreira académica plena, terás de ter doutoramento. Com mestrado podes trabalhar em funções de research assistant, lab manager, coisas assim, mas não é expectável que sejas um Investigador Principal ou assumas a principal responsabilidade pelos teus projetos. @Rafael. percebes mais disto vê lá se não estou a meter nenhuma argolada.

- seguidamente, para fazer investigação em Portugal, é necessário ficar vinculado às universidades? Não existem empresas na área científica que façam investigação? ( e que sejam até mais estimulantes e vantajosas que nas universidades?) Esta é uma pergunta à qual não tenho mesmo ideia, uma vez que apenas tenho a noção de investigação em universidades.

A fazer investigação semelhante às universidades não sei se há muita coisa, e muitas são spin-offs de universidades ou possuem outro tipo de relações estreitas com estas. Conheço algumas tipo FairJourney Biologics, IMMUNETHEP, AIBILI, ou o Biocant Park que engloba várias empresas de biotec. Sei muito pouco sobre isto conheço 2 colegas de curso que se bem me lembro estão como cientistas na FairJourney (após tirarem PhD), e algumas pessoas que passaram pela AIBILI mas na parte de operacionalização de ensaios, não da investigação fundamental. Existe alguma coisa portanto, mas muitas parecem ter ligação estreita com a academia.

Existe também a investigação ligada à indústria farmacêutica, biotecnológica e de dispositivos médicos. Portugal não é um país com muita tradição na parte de "research" de medicamentos fora das universidades (grande parte das indústrias localizadas aqui focam-se na produção ou então no apoio e implementação local de projetos de desenvolvimento clínico e estudos clínicos pré e pós-AIM), mas há empresas farmacêuticas que se dedicam ao I&D de medicamentos desde o seu início, tipo Bial. De qualquer forma, o mercado europeu tem muito mais oferta nestas vertentes de investigação de bancada biofarmacêutica.

- por fim, estando eu me a formar na área farmacêutica (mestrado integrado), e tendo em conta a ambiguidade de áreas científicas que abordo no meu curso, seria mais vantajoso fazer um mestrado complementar ao plano de estudos que levo ao longo da formação (numa área específica) , ou tentar ingressar num doutoramento assim que termine o curso?

Depende do que queiras fazer. Se quiseres investigação fundamental, acho que faria mais sentido seguires doutoramento para poderes ter as credenciais que te abram todas as portas. Agora se por exemplo quiseres seguir alguma coisa na indústria, há áreas onde só seres farmacêutico é suficiente.

Sei que estou no curso certo, visto que para além de investigação, as restantes possíveis saídas profissionais do curso também são do meu agrado, como indústria farmacêutica, análises clínicas e até mesmo farmácia comunitária. E para além disso, tanto a área da biologia humana, como da Química farmaceutica agradam me bastante. No entanto, está a chegar a altura de escolher as cadeiras opcionais e convém ter noção do que escolher para melhorar a minha formação.

Agradeço a vossa atenção!!

A tua faculdade tem gabinetes que fazem aconselhamento para entrar no mercado de trabalho? E a associação de estudantes (por vezes têm programas que colocam as pessoas em contacto com alumni e profissionais da área)? Pode ser uma ideia falares com alguém de lá, ou com professores.



Olá, eu sinto que já fiz esta pergunta mas sinceramente não me lembro se alguém respondeu.
Os enfermeiros podem trabalhar na área de investigação? Por exemplo em diabetes?
Obrigado.

A minha área é a investigação clínica, mas sei de enfermeiro que prosseguiram estudos para fazer investigação. A coordenadora de um curso de epidemiologia que fiz há uns anos é enfermeira, prosseguindo estudos em saúde pública, é uma questão de veres se existem programas de formação pós-graduada que te interessam e se abrem candidaturas a enfermeiros. Mas mesmo dentro da enfermagem existem programas de doutoramento onde podes trabalhar no desenvolvimento da prática profissional (exemplos de teses de doutoramento desenvolvidas no ESEP). Desconheço como é o panorama profissional da investigação em enfermagem em Portugal, mas suspeito que seja tão fácil/difícil como em qualquer outra área. Acho que essa é uma questão que podes colocar aos teus professores ou coordenação do curso, pois a própria escola pode ter programas de introduçâo à investigação.
 
Isto é a minha experiência e pode não ser exatamente correta...



Segundo sei, na academia para poderes seguir o tenure track e a carreira académica plena, terás de ter doutoramento. Com mestrado podes trabalhar em funções de research assistant, lab manager, coisas assim, mas não é expectável que sejas um Investigador Principal ou assumas a principal responsabilidade pelos teus projetos. @Rafael. percebes mais disto vê lá se não estou a meter nenhuma argolada.

Sim, é essencialmente isso

Antes ainda era "possível" ter mestrado e fazer candidaturas a bolsas de investigação (um pouco como caça às bolsas), mas agora com as alterações nos últimos 2 anos, só se pode candidatar a essas bolsas aqueles que estejam inscritos num curso conferente de grau ou não conferente de grau. O que algumas universidades fazem é criar "cursos" nao conferentes de grau (como Iniciação à Investigação) para que o pessoal se consiga inscrever nesse curso nao conferente de grau e, assim, conseguir candidatar à bolsa de investigação. De resto, para quem tem mestrado, é realmente essas funções mais técnicas (técnico de laboratorio, lab manager, etc, como referiste).

Para tenure track é realmente necessário doutoramento (e cada vez mais pos-doc).
 
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Sim, é essencialmente isso

Antes ainda era "possível" ter mestrado e fazer candidaturas a bolsas de investigação (um pouco como caça às bolsas), mas agora com as alterações nos últimos 2 anos, só se pode candidatar a essas bolsas aqueles que estejam inscritos num curso conferente de grau ou não conferente de grau. O que algumas universidades fazem é criar "cursos" nao conferentes de grau (como Iniciação à Investigação) para que o pessoal se consiga inscrever nesse curso nao conferente de grau e, assim, conseguir candidatar à bolsa de investigação. De resto, para quem tem mestrado, é realmente essas funções mais técnicas (técnico de laboratorio, lab manager, etc, como referiste).

Para tenure track é realmente necessário doutoramento (e cada vez mais pos-doc).


Obrigado pela resposta!
Já agora, não sei se me consegues ajudar, mas pergunto à mesma. O que achas da investigação em indústria? É aconselhável, ou relativamente prestigiada como a académica? É que efetivamente estou a criar um gosto enorme pela parte da indústria farmacêutica, e sei que há farmaceuticas cá em Portugal que têm laboratórios de investigação também, e gostava de explorar melhor essa área.
 
Obrigado pela resposta!
Já agora, não sei se me consegues ajudar, mas pergunto à mesma. O que achas da investigação em indústria? É aconselhável, ou relativamente prestigiada como a académica? É que efetivamente estou a criar um gosto enorme pela parte da indústria farmacêutica, e sei que há farmaceuticas cá em Portugal que têm laboratórios de investigação também, e gostava de explorar melhor essa área.

*testamento incoming*

Essa pergunta tem pano para mangas. Vou responder o que sei da minha experiência, e peço desculpa se houver algum erro, é a visão que tenho da indústria em Portugal de momento.


O que é ao certo investigação na indústria farmacêutica e o que existe em Portugal?

É difícil responder a esta questão porque o conceito de investigação na indústria significa muitas coisas para pessoas diferentes. Simplificando o máximo possível, a indústria trabalha na I&D de medicamentos desde a sua conceção até vigilância pós-mercado, e para isso não trabalha em isolamento. Colabora com academia, autoridades e empresas de prestação de todo o tipo de serviços (desde laboratórios a arquivística) ao longo de muitos anos para colocar um medicamento no mercado É um procedimento altamente complexo que envolve processamento de grandes volumes de informação sobre a doença, o desenvolvimento farmacêutico, não clínico e clínico, que continua depois da aprovação.

Em Portugal, não me parece nada que a indústria tenha uma presença forte na componente de investigação laboratorial. Regra geral, as grandes farmacêuticas (Lilly, Roche, Pfizer, etc) têm os seus laboratórios de investigação nas casas mãe e/ou trabalham com universidades/empresas nas fases iniciais de identificação do alvo, lead design e lead optimization. Em Portugal, montam principalmente escritórios operacionais para condução de estudos clínicos no país, submissões e interações regulamentares, market access, vendas, farmacovigilância, etc, porque são essas as funções que lhes interessam no nosso terreno. A outra parte é a da produção e fabrico. Aqui temos laboratórios que trabalham com titulares de AIM, mas o foco não é a investigação de novas moléculas e sim garantir que as que estão em produção são feitas de acordo com as especificações. Existem também empresas de genéricos, onde é necessário algum trabalho de desenvolvimento farmacêutico e clínico a nível de segurança e bioequivalência, mas muito deste trabalho é assegurado em meio clínico.

Claro que tens a Bial que faz investigação in-house em Portugal e podes encontrar lá algo para ti, mas este tipo de empresas é pouco presente aqui. Assim, diria que a oferta de investigação laboratorial 100% em meio de indústria farmacêutica em Portugal é muito pequena. Importante também referir que para muitas posições de maior responsabilidade no espectro da investigação, um PhD relevante na área pode muito bem ser pedido, juntamente com extensa experiência.


Empregabilidade:

Não é fácil entrar, muitas posições pedem experiência prévia e para quem não tem é o cabo dos trabalhos. Estágios e projetos de campo são uma forma de adquirir essa experiência. Há quem também tenha ou adquira connects na indústria e consiga entrar assim.

Uma forma de aumentar as hipóteses é estar disponível para o mercado europeu, onde vários países albergam grandes grupos farmacêuticos (Alemanha, França, Suíça). Aumenta o leque de oportunidades, ganhas mais (em termos salariais a indústria compensa mais a longo prazo) e com experiência tornas-te muito mais atrativo para o mercado, sendo mais fácil encontrares posições que te agradem em Portugal, caso queiras voltar.


Estabilidade (comparado com academia):

É difícil entrar na indústria. Depois de entrares, no geral, a vida é mais estável que a academia, e com boas perspetivas de carreira a longo prazo. Mesmo que com uma aquisição ou subcontratação, o teu trabalho se torne redundante, um profissional experiente não costuma ter dificuldades em ter trabalho.


Prestígio:

Dependendo da área de trabalho, podes estar envolvido em publicações científicas. Em fases mais precoces, cientistas da indústria publicam em conjunto com outros laboratórios, normalmente a descrever propriedades do fármaco, PK/PD, mecanismo de ação, atividade/toxicidade iniciais, etc. trabalhando em simulações computacionais ou modelos in vitro ou in vivo. Nas fases clínicas, quem tem o nome nos artigos são os investigadores médicos que conduzem os ensaios nos hospitais, o bioestatista, o monitor médico e pouco mais. Os restantes envolvidos são representados pela indústria promotora.

Alerto no entanto que, independentemente da função, cada projeto é uma máquina com muitas rodas dentadas, todas elas essenciais, mas nenhuma se destaca. Um bom profissional é valorizado no seu meio, mas fora dele, ninguém sabe quem és nem o que fazes, e como profissional da indústria, tens um dever de confidencialidade. Não é uma área boa para queira ser um cientista reconhecido no Mundo inteiro, mas sempre ficas com a satisfação que trabalhas em algo que está a ajudar muitas pessoas (apesar de todos criticarem).
 
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Uma breve (e necessária) reportagem da SIC sobre a precariedade da Investigação em Portugal apresentando o meio cheio de incongruências e "politiquices" em que os nossos investigadores (sobre)vivem. Mão de obra altamente qualificada a realizar avanços cientificos de topo a troco de uma mão cheia de nada. - Essencial: a situação precária dos investigadores portugueses

"Teresa Barata, 2/3 dos mais de 20 anos de trabalho depois do doutoramento foram pagos através de bolsas" - Não quero que este seja um tópico para desmotivar ninguém a seguir a área da investigação, quero apenas deixar estas informações (que também gostaria de as ter tido quando me candidatei à universidade) para que consigam avaliar se a investigação (pelo menos em Portugal) é algo que realmente querem fazer
 
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Essa pergunta tem pano para mangas. Vou responder o que sei da minha experiência, e peço desculpa se houver algum erro, é a visão que tenho da indústria em Portugal de momento.


O que é ao certo investigação na indústria farmacêutica e o que existe em Portugal?

É difícil responder a esta questão porque o conceito de investigação na indústria significa muitas coisas para pessoas diferentes. Simplificando o máximo possível, a indústria trabalha na I&D de medicamentos desde a sua conceção até vigilância pós-mercado, e para isso não trabalha em isolamento. Colabora com academia, autoridades e empresas de prestação de todo o tipo de serviços (desde laboratórios a arquivística) ao longo de muitos anos para colocar um medicamento no mercado É um procedimento altamente complexo que envolve processamento de grandes volumes de informação sobre a doença, o desenvolvimento farmacêutico, não clínico e clínico, que continua depois da aprovação.

Em Portugal, não me parece nada que a indústria tenha uma presença forte na componente de investigação laboratorial. Regra geral, as grandes farmacêuticas (Lilly, Roche, Pfizer, etc) têm os seus laboratórios de investigação nas casas mãe e/ou trabalham com universidades/empresas nas fases iniciais de identificação do alvo, lead design e lead optimization. Em Portugal, montam principalmente escritórios operacionais para condução de estudos clínicos no país, submissões e interações regulamentares, market access, vendas, farmacovigilância, etc, porque são essas as funções que lhes interessam no nosso terreno. A outra parte é a da produção e fabrico. Aqui temos laboratórios que trabalham com titulares de AIM, mas o foco não é a investigação de novas moléculas e sim garantir que as que estão em produção são feitas de acordo com as especificações. Existem também empresas de genéricos, onde é necessário algum trabalho de desenvolvimento farmacêutico e clínico a nível de segurança e bioequivalência, mas muito deste trabalho é assegurado em meio clínico.

Claro que tens a Bial que faz investigação in-house em Portugal e podes encontrar lá algo para ti, mas este tipo de empresas é pouco presente aqui. Assim, diria que a oferta de investigação laboratorial 100% em meio de indústria farmacêutica em Portugal é muito pequena. Importante também referir que para muitas posições de maior responsabilidade no espectro da investigação, um PhD relevante na área pode muito bem ser pedido, juntamente com extensa experiência.


Empregabilidade:

Não é fácil entrar, muitas posições pedem experiência prévia e para quem não tem é o cabo dos trabalhos. Estágios e projetos de campo são uma forma de adquirir essa experiência. Há quem também tenha ou adquira connects na indústria e consiga entrar assim.

Uma forma de aumentar as hipóteses é estar disponível para o mercado europeu, onde vários países albergam grandes grupos farmacêuticos (Alemanha, França, Suíça). Aumenta o leque de oportunidades, ganhas mais (em termos salariais a indústria compensa mais a longo prazo) e com experiência tornas-te muito mais atrativo para o mercado, sendo mais fácil encontrares posições que te agradem em Portugal, caso queiras voltar.


Estabilidade (comparado com academia):

É difícil entrar na indústria. Depois de entrares, no geral, a vida é mais estável que a academia, e com boas perspetivas de carreira a longo prazo. Mesmo que com uma aquisição ou subcontratação, o teu trabalho se torne redundante, um profissional experiente não costuma ter dificuldades em ter trabalho.


Prestígio:

Dependendo da área de trabalho, podes estar envolvido em publicações científicas. Em fases mais precoces, cientistas da indústria publicam em conjunto com outros laboratórios, normalmente a descrever propriedades do fármaco, PK/PD, mecanismo de ação, atividade/toxicidade iniciais, etc. trabalhando em simulações computacionais ou modelos in vitro ou in vivo. Nas fases clínicas, quem tem o nome nos artigos são os investigadores médicos que conduzem os ensaios nos hospitais, o bioestatista, o monitor médico e pouco mais. Os restantes envolvidos são representados pela indústria promotora.

Alerto no entanto que, independentemente da função, cada projeto é uma máquina com muitas rodas dentadas, todas elas essenciais, mas nenhuma se destaca. Um bom profissional é valorizado no seu meio, mas fora dele, ninguém sabe quem és nem o que fazes, e como profissional da indústria, tens um dever de confidencialidade. Não é uma área boa para queira ser um cientista reconhecido no Mundo inteiro, mas sempre ficas com a satisfação que trabalhas em algo que está a ajudar muitas pessoas (apesar de todos criticarem).

Um muito obrigado pela resposta. Mesmo!
Eu desde pequeno que tenho contacto com uma das maiores empresas nacionais e uma das grandes farmaceuticas internacionais, a Hovione. O meu pai trabalha lá em indústria, e pelo que sei fazem investigação também. Eu entretanto irei fazer lá uns estágios, para ganhar experiência e currículo, e irei investigar um pouco melhor esta questão. No entanto, queria saber um pouco mais sobre o panorama geral e daí a minha questão. Porque apesar de tudo, quero colocar todos os pesos na balança e analisar qual o tipo de formação/ eventuais pós-graduaçoes que quero fazer quando terminar o meu curso, e também ter uma perspectiva das diferentes saídas.
Mas já agora coloco uma última questão (uma questão puxa outra xD), têm noção se o tipo de investigação realizado é semelhante ao académico (áreas de investigação)? E o financiamento, nesse caso, seria feito pela própria empresa certo?
Muito obrigado pela ajuda!
 
Um muito obrigado pela resposta. Mesmo!
Eu desde pequeno que tenho contacto com uma das maiores empresas nacionais e uma das grandes farmaceuticas internacionais, a Hovione. O meu pai trabalha lá em indústria, e pelo que sei fazem investigação também. Eu entretanto irei fazer lá uns estágios, para ganhar experiência e currículo, e irei investigar um pouco melhor esta questão. No entanto, queria saber um pouco mais sobre o panorama geral e daí a minha questão. Porque apesar de tudo, quero colocar todos os pesos na balança e analisar qual o tipo de formação/ eventuais pós-graduaçoes que quero fazer quando terminar o meu curso, e também ter uma perspectiva das diferentes saídas.
Mas já agora coloco uma última questão (uma questão puxa outra xD), têm noção se o tipo de investigação realizado é semelhante ao académico (áreas de investigação)? E o financiamento, nesse caso, seria feito pela própria empresa certo?
Muito obrigado pela ajuda!

A Hovione é um bom exemplo e se tiveres forma de lá entrar vai-te ajudar imenso a conseguires estabelecer uma carreira na indústria. O tipo de formação adicional que terás de fazer do percurso que quiseres seguir porque a indústria é muito variada. Tanto podes precisar de um PhD como podes não precisar de nada. O teu pai até te pode ajudar a perceber melhor isso e o que a empresa pode valorizar, visto que está lá.

Sobre o tipo de investigação, como disse no outro post a indústria trabalha com a academia e algumas (como a Hovione) recebem estagiários e estudantes de doutoramento para trabalhar em projetos científicos. Estudantes de doutoramento são pagos por bolsas FCT, não estando sob contrato com a empresa onde estão colocados. Fora isso, os colaboradores (investigadores ou não) por regra são contratados.

O trabalho de I&D feito por uma empresa farmacêutica é financiado pela própria, exceto em situações muito pontuais que exigem um certo capital de risco (ex: vacinas COVID-19). Assim, os investigadores trabalham nos projetos delineados pela empresa com objetivos pré-definidos e prazos definidos pelo programa de I&D do produto (normalmente mais apertados que a academia). É uma forma de fazer as coisas diferente da academia, e existe a ideia de que um investigador que vai para a indústria perde a sua independência e a possibilidade de ser criativo, pois passa a trabalhar dentro de tópicos e para o cumprimento de metas estabelecidas fora do seu controlo. No entanto, dependendo da cultura da empresa, criatividade e pensamento disruptivo podem (e devem) ser incentivados, desde que tenham como objetivo melhorar a eficiência dos serviços.
 
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Boa tarde, será que alguém de Biologia Molecular/ Bioquímica/ Ciências Biomédicas me consegue elucidar acerca dos planos curriculares destas áreas e do seu grau de dificuldade/ exigência? Lato sensu, estes cursos envolvem muita Química e Física, ou são sobretudo à base da Biologia? Para além disso, todos eles abrem portas para um futuro na investigação forense ou médica? Obrigada, desde já, pela atenciosidade!
 
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Boa tarde, será que alguém de Biologia Molecular/ Bioquímica/ Ciências Biomédicas me consegue elucidar acerca dos planos curriculares destas áreas e do seu grau de dificuldade/ exigência? Lato sensu, estes cursos envolvem muita Química e Física, ou são sobretudo à base da Biologia? Para além disso, todos eles abrem portas para um futuro na investigação forense ou médica? Obrigada, desde já, pela atenciosidade!
Eu estudo Bioquimica no Porto e o curso é muito mais virado para a Química, de certa forma recebes bases químicas para conseguir entender alguns processos sendo que física nao tens muito a fundo. Depois a área da investigação nao depende tanto do curso base mas sim daquilo que vais trabalhando em tese de mestrado e depois em doutoramento, no entanto Bioquímica (que é a unica que posso falar) é interessante, mas tambem bastante challenging e abre-te as portas para uma variedade muito grande de mestrados.
 
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Novas alterações para investigadores e docentes do ensino superior - Acesso ao topo da carreira docente no superior vai deixar de depender de concurso

Sumário do artigo (uma vez que é apenas para assinantes):
  • Para investigadores
    • Garantir recrutamento de investigadores de outras instituições, evitando assim possível "endogamia" (i.e. evitar o "quem lá está, é quem lá fica") (1)
  • Para docentes
    • Regulamentação de contratação de professores no privado
      • Constituição de categorias (investigadores, docentes universitários e politecnicos) à semelhança do que ocorre nas públicas. O doutoramento continuará a ser necessário para ingresso na carreira como docente no ensino superior para o privado com a exceção de professores convidados ou assistentes que poderão ter licenciatura ou mestrado (2)
    • A subida na carreira no ensino superior passa a basear-se por mérito e não por concursos públicos, distinguindo assim o processo de recrutamento de novo pessoal docente de progresso na carreira. Atualmente, se uma instituição quiser promover um determinado docente, terá que abrir concurso público, podendo correr o risco de ter que contratar um docente externo que tenha melhor desempenho. Isto leva a um transtorno financeiro uma vez que a instituição teria de 1) continuar a pagar ao candidato interno que não conseguiu subir de estatuto enquanto docente do ensino superior e 2) pagar ao novo candidato admitido, desta vez, num estatuto docente superior ao candidato interno referido no ponto 1). Com consequência, isto irá também ajudar a chegar à % prevista de professores catedráticos e associados que deveria rondar os 50-70% do tecido docente no ensino superior. Isto ainda não acontece precisamente porque as instituições têm evitado abrir concursos públicos de modo a não correr o risco de contratar outro docente externo (que pode muito bem não ser necessário para as atividades docentes atuais de uma determinada instituição) (3).
    • Algo semelhante será feito para os investigadores. Estas alterações pretendem estimular o emprego cientifico que, claramente, não tem sido bem sucedido apesar dos esforços anteriores como os CEEC (4).
    • Acabar com as aulas "grátis" (como professores convidados), reservando-as apenas para professores jubilados e aposentados. Infelizmente, ainda é comum ver professores convidados que assim ficam durante 6 anos. A partir daqui, algumas universidades "optam" por despedir os docentes para que não os tenham de converter a contrato sem termo. Existe algo "semelhante" com os pos-doutorados - No fim dos 3 anos de pós-doutoramento, o investigador já não pode ser novamente recebido (como pos-doutorando, no fundo, renovando a bolsa ou dando inicio a uma nova bolsa de pos-doutoramento) pela mesma instituição onde ele realizou essa bolsa pos-doutoral, precisamente para evitar um ciclo vicioso de contratações precárias. O grupo de investigação que recebeu esse investigador junior pode, desde as alterações feitas em 2019, contratar esse mesmo investigador no fim da bolsa pos-doutoral, no entanto, é mais "barato" para uma instituição não contratar esse pos-doutorando como investigador, e sim fazer contrato com um novo pos-doutorando (5,6,7)
Vamos ver se as coisas ficam em stand-by ou se desta vez é realmente para avançar 🙃
 
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Foram publicados os resultados provisórios para as Bolsas de Investigação para Doutoramento (1450 bolsas em 3381 candidaturas, 49% apovação em 2021 vs 1360 bolsas em 3797 candidaturas em 2020) (1,2). Por outro lado, o investimento em I&D está estagnado. Neste momento, uma carreira académica já não é o percurso "certo" para grande parte dos doutorandos, em parte pelo aumento constante anual de doutorados em Portugal (+2000/ano, Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência) e com as vagas para docentes e investigador cada vez mais escassas. A grande maioria dos doutores está no ensino superior (>80%), uma área claramente saturada e 10% no Estado (3, 4). Por outro lado, e apesar da % de doutorados em empresas ter vindo a aumentar (38% desde 2015) (5), apenas 8% dos total dos doutorados residentes em Portugal estão em empresas (6). É possível ver a aposta e intenção que o governo tem em querer continuar a aumentar o número de estudantes de doutoramento, mas ainda falta muito a fazer para estimular carreiras fora da academia. Somos dos países com mais doutorados diplomados por ano, mas também dos países com % de representação de doutores em empresas mais baixa da UE. Muitos simplesmente acabam por sair da investigação cientifica por completo.

IMG_20210731_164557.jpgInvestimento PT vs UE.pngDoutorados.pngImage 10.png
 
Para além disto, têm sido também criados contratos de trabalho para dar mais estabilidade (passando a ser considerados trabalhadores e não bolseiros) e as bolsas de investigação (Este é o principal site para procurar as bolsas -> eracareers ) são agora para estudantes inscritos em cursos conferentes de grau (ou alumni inscritos em cursos nao conferentes de grau academico), ou seja, licenciatura (Bolsas de iniciação à investigação), mestrado e doutoramento (bolsas de investigação) e, por fim, as bolsas de pos-doutoramento que já te falei (apesar da bolsa de pós-doutoramento nao conferir nenhum grau, mas serve como preparação para atividade cientifica independente).
Aproveitando este post anterior, deixo esta página sobre um recente inquérito realizado a investigadores sobre a precariedade na investigação académica sendo um dos indicadores a escassez dos contratos de trabalho que, apesar de ser um avanço para o combate contra esta situação precária, ainda não é suficiente - Cientistas precários só perspetivam futuro fora de Portugal, conclui inquérito da Associação de Bioquímicos
 
Aproveitando este post anterior, deixo esta página sobre um recente inquérito realizado a investigadores sobre a precariedade na investigação académica sendo um dos indicadores a escassez dos contratos de trabalho que, apesar de ser um avanço para o combate contra esta situação precária, ainda não é suficiente - Cientistas precários só perspetivam futuro fora de Portugal, conclui inquérito da Associação de Bioquímicos
Desculpa importunar-te, mas tens dados estatísticos que discriminem a atribuição de Bolsas de Doutoramento, consoante a área científica? Isto é, entre Física, Matemática, Informática, Humanidades em geral, etc. Gostaria de ter acesso a essa informação para melhor planeamento do futuro.

Se não tiveres esses dados também não faz mal, o que forneceste até agora já é muito relevante e melhora a perspectiva geral que uma pessoa tem sobre a realidade dos 3ºs Ciclos de Estudos.
 
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Desculpa importunar-te, mas tens dados estatísticos que discriminem a atribuição de Bolsas de Doutoramento, consoante a área científica? Isto é, entre Física, Matemática, Informática, Humanidades em geral, etc. Gostaria de ter acesso a essa informação para melhor planeamento do futuro.

Se não tiveres esses dados também não faz mal, o que forneceste até agora já é muito relevante e melhora a perspectiva geral que uma pessoa tem sobre a realidade dos 3ºs Ciclos de Estudos.
Olá,

Podes encontrar as estatisticas aqui: FCT — Bolsas — Estatísticas

Relativamente a financiamento das bolsas de doutoramento, esta é a distribuição do financiamento por dominio cientifico (de 2016):
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O financiamento para 2021 ronda os 109 milhoes (substancialmente superior ao fianciamento de 2016), mas nas estatisticas mais recentes da FCT apenas apresentam a distribuição pelo numero de candidatos e nao por financiamento ou bolsas atribuidas (uma vez que os resultados ainda são provisórios). Entretanto, deixo aqui a distribuição de candidatos para 2021 e assim que encontrar os dados mais recentes atualizo esta publicação:

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Para dados de 2020, as bolsas atribuidas por dominio cientifico, foram as seguintes:
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As bolsas concedidas por dominio cientifico, até 2015, foram estas:
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