Como fui citado no tópico, vou responder.
Pela leitura que fiz dos vários comentários concluo que um engenheiro pode/deve ser precário, um professor pode/deve ser precário, um enfermeiro pode/deve ser precário, um jornalista pode/deve ser precário, um arquiteto pode/deve ser precário, (…),apenas e só porque tiveram o sonho de fazer essa licenciatura. Lutam, trabalham todos os dias para ver reconhecida a sua competência a fim de manter os seus empregos e de se sustentarem. Já os MÉDICOS têm de ser licenciados (mestrados) em Lisboa, Porto ou Coimbra, porque até nas outras universidades onde existe o curso houve em tempos pressões corporativas para que não abrisse, e apenas os profissionais desses três distritos, entre os 18 existentes no continente a que se somam também os arquipélagos, é que terão competência para orientar esses jovens, bem como os centros hospitalares desses distritos menos povoados e que tratam milhares de pessoas anualmente, não servem também para esses futuros senhores doutores.
? absolutamente ninguém disse isso. E fiz questão de ir ver os comentários não há nada que indique nada disto. Este tópico é sobre médicos, acho que ninguém quer ver outros profissionais precários, mas se alguém abrir um tópico sobre professores, enfermeiros, jornalistas, etc, esse será o sítio indicado para discutir essas profissões. E isso de Lisboa, Porto, ou Coimbra não está escrito em lado nenhum, portanto nem li o resto, porque só por aqui dá para ver que tens a tua narrativa e usaste uma desculpa para a empurrares para aqui.
Há falta de professores de matemática e licenciados em áreas afins podem “socorrer” a Educação nacional para que todos tenhamos acesso ao ensino, mas já um licenciado/mestrado em Medicina que não entre numa especialidade não serve para socorrer (agora sim, sem aspas) milhares de pessoas que tentam aceder à Saúde em Portugal e não conseguem. Se se dão ao luxo de poder escolher entre o particular e o SNS, escolham… Vocês querem é ficar com os dois e isso todo o português já compreendeu. Mas não tentem fazer das pessoas estúpidas.
Médicos indiferenciados têm um campo de atuação limitado e beneficiaríamos muito mais como país se tivessemos mais médicos especialistas no SNS. Se queres que os médicos indiferenciados tenham um leque mais alargado de atividades, então ótimo, qualquer dia ainda vai acontecer isso, e depois se achas que a qualidade dos cuidados de saúde é má, vamos ver como fica nessa altura.
Por algum motivo existem especialidades. São coisas complexas e os médicos são quem assume a responsabilidade final pelos doentes, logo é necessário que trabalhem durante um período de forma tutelada até adquirirem autonomia. Podes comparar o que quiseres com outras profissões, mas isso não trará nada para a discussão, porque cada profissão é diferente e existem regras estabelecidas diferentes.
globalização diz-nos que a Europa é o nosso quintal, a América é do outro lado da rua, por isso emigram portugueses professores, enfermeiros, engenheiros, jornalistas, arquitetos,… se tiver de ser, deixem também emigrar médicos porque de certeza que alguns ficarão, não se deve é deixar de perseguir o sonho.
Ninguém está a impedir os médicos de emigrar, pelo contrário, é vê-los sair porque há mais vantagens lá fora.
Mas gostaria que algum de vós falasse também em números diferentes e que contrariam a vossa tese. Quantos médicos (especialistas, ou não) é que gostam tanto do SNS, fazem férias no Verão sem se preocupar se deixam as suas unidades de saúde em número suficiente para atender a população? Quantos desviam doentes para clínicas e hospitais privados com a promessa (verdadeira) de um atendimento mais célere? Se houver mais médicos esse atendimento não será também mais célere no SNS?
Porque não falas tu nesses números, já que os mencionaste?
Os médicos não podem fazer férias no Verão? Ou achas que tiram todos férias no Verão? As escalas são feitas para tentar assegurar os serviços, mas há serviços que vivem de tarefeiros (porque não há médicos especialistas nos quadros, repito "especialistas") e se 1 médico (especialista) nos quadros tira férias e 2-3 tarefeiros não dão disponibilidade para esse mês o serviço colapsa. A tua solução é o quê? Pôr médicos indiferenciados nos quadros dos serviços de medicina, cirurgia, etc, e obrigá-los a tirar férias quando tu queres? Não estou a perceber.
Quantos desviam doentes? Tens números? Ou vais citar uma entrevista da CMTV ou alguém que conheces para generalizar?
E desde quando é que tu podes obrigar um médico a trabalhar no SNS depois de ele já ter dado 5-7 anos do seu tempo, dinheiro e trabalho para tirar a especialidade? Porque é que não pode ir para outro sítio onde recebe mais e tem mais condições para trabalhar, se tem essa opção?
A maior parte dos assistentes operacionais da função pública que trabalham 22 dias por mês há 22 anos, recebe o salário mínimo. Quanto recebe um médico a fazer uma noite no SNS? Mas a população até nem quer saber dos vossos honorários, querem, sim, alguém que, numa aflição, lhe possa fazer um diagnóstico, nem que seja um como é feito na urgência pelos enfermeiros e que se chama triagem. Mas já vi que os enfermeiros o podem/conseguem fazer, já o licenciado/mestrado em Medicina e sem especialidade parece ser um zero à esquerda, pelas palavras do @Snarky_Puppy…
Já leste aqui alguém a dizer que os assistentes operacionais ganham bem? Porque é que o tópico sendo médicos trazes tantas outras profissões à baila? Ninguém está a dizer que os outros ganham bem, mas os outros podem (e devem) lutar pelos seus direitos se se sentem injustiçados, ou queres que os médicos agora obriguem os AOs a fazer greve?
Além disso, os assistentes operacionais também fazem horas, SIGICs e outras coisas e também ganham extra com isso. E no fim quem toma as decisões, e quem assume a responsabilidade final é o médico, não é o auxiliar, logo faz sentido haver um salário diferente.
Mas a população até nem quer saber dos vossos honorários, querem, sim, alguém que, numa aflição, lhe possa fazer um diagnóstico, nem que seja um como é feito na urgência pelos enfermeiros e que se chama triagem. Mas já vi que os enfermeiros o podem/conseguem fazer, já o licenciado/mestrado em Medicina e sem especialidade parece ser um zero à esquerda, pelas palavras do @Snarky_Puppy…
Triagem não é um diagnóstico, e o campo de atuação do enfermeiro é diferente do médico.
Desculpa lá estás aqui a mandar vir com toda a gente mas se não sabes sequer os conceitos básicos nem como se processa formação médica? Se não concordas com a especialidade, queres que eles exerçam autonomamente depois da faculdade, é isso?
Queres manter os médicos no SNS? Dá-lhes condições para isso:
- Aumentem salários (que foram congelados décadas) para fixar médicos nos quadros, não dependendo tanto de tarefeiros e não gastarem rios de dinheiro em agências de recrutamento. Podem se calhar não abrir tantos cursos de medicina que vão formar médicos para emigrar porque não vão conseguir sequer fixar-se numa especialidade por cá (apesar de tu achares que isso é inútil e eles podem fazer o que querem quando acabam o curso). E sim, isto acontece com muitos outros cursos e sim eu também não concordo, mas o tópico não é sobre outras profissões, é sobre esta.
- Já agora podem também investir nos recursos materiais e informáticos, para que os médicos não tenham de estar metade do seu tempo à espera que o PC carregue,
- Podem também deixar as pessoas exercer de acordo com as melhores práticas para que não sejam obrigados a fazer consultas de 10 minutos por doente.
Os médicos ao contrário da restante função pública tem horário normal de 40 h e são a única classe profissional que tem horas extraordinárias obrigatórias por ano (não achas que isso é um sinal claro de gestão danosa?) e são apelidados de tudo e mais alguma coisa se simplesmente cumprirem o que está no seu contrato (como aconteceu no ano passado com as horas extraordinárias). Achas que é má vontade? Isto acontece há anos e anos e simplesmente as pessoas fartaram-se, como já se fartaram os enfermeiros, professores, oficiais de justiça, polícias, técnicos de diagnóstico e terapêutica, etc. As pessoas saem à rua para lutar pelos seus direitos que estão reservados nos seus contratos e na lei e tu reclamas com isso? Ou só reclamas porque são os médicos?
E por fim, escusas de meter palavras na minha boca, que eu não disse "zero à esquerda" disse e repito que têm competências clínicas muito limitadas e que isso os obrigará a procurar trabalho fora do SNS de qualquer maneira, e que não são eles que vão resolver os problemas do SNS.