Chegou aquela altura do ano novamente...
Domingo, dia 2 de Agosto de 2015.
O dia da minha inscrição no Uniarea e o dia da minha primeira mensagem (sobre Matemática, sem qualquer surpresa).
Domingo, dia 2 de Agosto de 2020.
Cinco anos depois.
Nos últimos cinco anos a minha vida foi preenchida por bons e maus momentos, como a de toda a gente. Apesar disso, ao longo destes cinco anos, tenho sentido que têm sido mais as provações do que as conquistas. Um projecto académico que falhou, arrastando consigo uma parte importante da minha identidade e deixando-me perdido e confuso. Uma relação longa (quase, também ela, cinco anos) que morreu, deixando sequelas no presente e manchando o passado. Obstáculos na minha saúde, física e mental, os primeiros ultrapassados e os segundos… bem, os segundos são um processo em curso.
Quando me forço a olhar de frente as coisas boas, aquilo que tive de bom nos últimos cinco anos, é curioso reparar que o Uniarea teve sempre a sua mão nesses momentos. Apesar da forma como terminou o meu doutoramento, a minha paixão pela Matemática, mesmo tendo tido momentos em que esteve em risco de se apagar, foi sendo reacendida pelas muitas oportunidades que tive de a partilhar aqui. Apesar de, a nível pessoal, ter passado por momentos difíceis, encontrei aqui uma pessoa que me devolveu o atrevimento de ser feliz. Apesar de toda a minha instabilidade psicológica e emocional, encontrei no Uniarea pessoas que posso considerar, sem hesitações, amigos e amigas.
Ultimamente, tenho-me encontrado num momento da minha vida cheio de questões. Tendo em conta o papel que o Uniarea tem tido na minha vida, nos últimos cinco anos, faz sentido partilhar convosco estas questões. Questões pessoais, questões profissionais, questões existenciais. Qual será o meu futuro? Qual é o meu propósito? Quem sou eu?
Como alguns de vocês sabem, recentemente descobri um grande interesse (uma grande paixão?) pela Filosofia, a ponto de pegar no sonho de “um dia”, “quando for velho”, “quando tiver tempo”, voltar a estudar e movê-lo para o topo da minha lista de tarefas. Desculpem o comentário vagamente mórbido, mas não sei – ninguém sabe – quanto tempo tenho e em quanto desse tempo terei a capacidade de realizar os meus sonhos. Tive, no curso de Medicina e no curso de Matemática, colegas mais velhos, nos seus quarenta, cinquenta anos, desejosos de se dedicarem, finalmente, a algo que os realizasse. No entanto, quero pensar a minha vida de forma diferente. Não sou infinito e tenho noção disso. Sinto a necessidade de fazer coisas que me façam feliz. Agora, não “um dia”.
Por isso, sim, as minhas questões são também filosóficas. Questões que não me deixam acordado de madrugada, fitando o tecto escuro e pensando como aqui cheguei, o que correu mal, o que deveria ter feito de forma diferente. Questões que, pelo contrário, me fascinam, me entusiasmam, me devolvem qualquer coisa que eu achei que tinha perdido.
Tenho, então, questões. Sempre as terei. A minha atitude em relação a isso, no entanto, tem mudado. Da Matemática para a Filosofia, troco a certeza das respostas pela certeza de que estas, ao contrário das perguntas, nem sempre existem. Talvez uma segunda lição, a par da lição de que não sou infinito, seja que ter questões sem resposta não é necessariamente mau.
Nos últimos cinco anos, mudei. Mudo ainda. E isso é aterrador. Há dias nos quais não me reconheço. Alguns obstáculos fizeram-me pensar que não sei ainda quem sou, que a identidade que julgava ter talvez não seja imutável, que consigo ainda reinventar-me. Talvez, depois de a poeira assentar, encontre aqui a terceira lição destes cinco anos.
Não sou infinito. Tenho questões. Mudo.
E, por isso, sinto que tenho de o exprimir de alguma forma. Aqui, neste lugar que foi a constante durante cinco anos, está também na altura de fazer uma mudança. (Simbólica, dirão. Mas os símbolos são também importantes.) Durante a maior parte destes cinco anos, tenho-me apresentado aqui com a imagem de uma lemniscata, o símbolo matemático do infinito. Está na altura de mudar. Haverá quem se vá sentir surpreendido (chocado?) com esta alteração, de um infinito para uma interrogação. Mas é esta a minha pele agora, a pele com que me sinto confortável. Tenho a certeza de que se habituarão.
Obrigado, a todos e todas, por estes cinco anos.
Que venham os próximos cinco.