Deparei-me com este tópico aqui no forum e quero deixar os meus dois tostões no assunto.
Não sou, nem nunca fui, anti-praxe. Não me oponho à sua existência (e aqui claro está que me refiro apenas a praxes ligeiras, praxes abusivas e que roçam o crime são um grande não), e acho que quem gosta desse tipo de atividades deve ser livre de participar nelas. No entanto, também não sou a maior fã da praxe e, pessoalmente, não me identifico com ela nem com os valores que perpetua.
Para mim a questão essencial está no facto de a praxe ser considerada voluntária, enquanto que, na realidade, em muitos sítios acaba por não o ser. Como é que podemos considerar a praxe voluntária se em muitos sítios não existem alternativas de integração? Ou quando pessoas de 17/18 anos recebem mensagens e são abordadas na faculdade com comentários ameaçadores na tentativa de serem coagidos? Ou quando inicialmente são praxados de uma forma suave, mas um dia chegam lá e são levados para casas escuras, e outras histórias que já vi por aí serem contadas, totalmente desprevenidos e sujeitos a comportamentos abusivos? Para não falar que, uma grande parte dos estudantes, se desloca para outras cidades para estudar, muitas vezes sem conhecer ninguém, há uma grande suscetibilidade a que venham a ser coagidos a algo que não querem, sob pena de ''não vais fazer amigos assim'' ''quem não participa na praxe depois não participa noutras atividades'' e outros comentários que tentam atingir pessoas que possam estar emocionalmente mais vulneráveis.
Em muitos sítios, a minha faculdade incluída, não existem alternativas à praxe, nem sequer programas de mentoria e coisas afins que ao início até podem auxiliar os novos alunos. Também já vi e ouvi comentários semelhantes a ''na escola não havia praxe e conhecíamos pessoas, por isso não é por não participar na praxe que vão ser excluídos'' e, mais uma vez, isso não é uma realidade que se aplique a todos os sítios. Primeiro, porque existem cursos onde as turmas têm mais de 200 pessoas (é o meu caso) e não é como se houvesse uma grande abertura para as pessoas começarem a falar do nada, visto que as aulas acabam por ser palestras. Depois, porque mesmo em cursos mais pequenos, é comum nalguns sítioss, por exemplo, a maioria das pessoas participar na praxe e aqueles que esolhem não participar muitas vezes são automaticamente colocados de parte por aquele grupo. Claro que não é isto que acontece em todos os sítios e foi o que disse, não sou anti-praxe, por isso estou só a referir alguns pontos que acho importante serem tidos em consideração.
Participei na praxe enquanto caloira e quis desistir. Nunca fui mal-tratada nem algo parecido (embora tenha sido praxe online, pois foi este ano), simplesmente não me identifiquei mesmo com o que ali se passava que, mais uma vez, não era abusivo, mas nao consigo compactuar com aquelas hierarquias forçadas e acho um desperdício de tempo. Mas mesmo na minha faculdade, não acho que a realidade da praxe seja a melhor. Antes ainda de terem saído as colocações eu ja tinha recebido mais de 30 mensagens de pessoas da praxe (que na minha faculdade estão divididos por vários grupos) a abordarem-me sobre o assunto... é MUITO desagradável. E vejo que continua a acontecer, até aqui no forum vejo mensagens de pessoas da minha faculdade a oferecerem-se para ajudar futuros caloiros, e é o mesmo discurso que usaram comigo porque, de facto, é o discurso que usam para começar a chamar para a praxe.
Resumidamente, o problema não está na praxe em si, está na falta de alternativas para quem não gosta dela. Não esqueçamos que existem pessoas realmente tímidas e introvertidas ou, até mesmo com problemas mais graves como ansiedade/fobia social, e que podem precisar de um empurrão nos primeiros tempos para conhecerem pessoas. E, enquanto não houver alternativa, a praxe vai sempre ser critivável