Ciências Farmacêuticas ou Enfermagem? Enfermagem na ESEL ou na ESSCVP?

 
 

João F

Membro Caloiro
Matrícula
7 Maio 2020
Mensagens
9
Curso
MICF
Instituição
FFUL
Olá 🙂!
Embora ainda falte bastante tempo, a aproximação da época para ingressar no ensino superior está a encher-me de dúvidas 😅...
Desde o meu 7º ano que penso seguir medicina mas, com tudo o que está a acontecer (o facto das melhorias não refletirem na nota interna), fiz as contas e percebi que a média não chega.
Não é propriamente o fim do mundo (nem pouco mais ou menos, até porque não me importo de entrar em medicina mais tarde se ainda tiver essa vontade) mas, embora não chegue para medicina, a minha média é mais do que o suficiente para qualquer outro curso que me interesse.
Isto deixa-me com várias opções (e eu não sou lá muito bom a tomar decisões).
Após muito refletir, tinha decidido que iria para Ciências Farmacêuticas na FFUL. No entanto, sinto que cresce dentro de mim a vontade de ser enfermeiro... Algo que nunca tinha considerado devido aos vários pontos negativos da profissão. As Ciências Farmacêuticas atraem-me pela possibilidade de trabalhar em laboratório (possivelmente em contexto hospitalar, embora não tenha a certeza que tipo de tarefas são responsabilidade do farmacêutico hospitalar porque vejo muitas informações diferentes). Por outro lado, a parte técnica da enfermagem também me atrai muito... Mas tenho medo de não "compensar" (desculpem a expressão) as outras tarefas do enfermeiro, visto que portugal não faz distinção entre enfermeiro técnico e auxiliar...
Agora que deitei tudo cá para fora... Estes dois cursos são as minhas duas opções, não tenho a certeza é da ordem (embora me sinta mais inclinado para CF, visto que acho que, deculpem a expressão, "arrisco menos")... Participei no dia aberto virtual da ESEL e gostei do que vi. No entanto, também fui ver na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa - Lisboa (ESSCVP) e esta oferece ensino clínico logo no primeiro ano.

Gostava de saber mais sobre ambas as escolas (principalmente da ESSCVP, visto que não conheço nada), as principais diferenças entre o curso de enfermagem leccionado por cada uma e sobre a profissão de enfermeiro.
Caso alguém saiba, agradecia que também me explicassem o que faz um farmacêutico hospitalar ou que me dessem a conhecer outras saídas profissionais de CF que me possam interessar.
 
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São duas profissões muito diferentes, e sugiro, caso tenhas oportunidade, que passes algum tempo com farmacêuticos ou enfermeiros de modo a fundamentar melhor a tua decisão.

Um enfermeiro não é um auxiliar de acção médica (AAM) nem existe minimamente confusão entre os dois (presumo que seja a isto que te referes quando escreves técnico auxiliar). No internamento um enfermeiro é essencialmente responsável por realizar as higiene aos doentes, posiciona-los no leito, mudar pensos cirúrgicos, colocar acessos venosos, preparar e administrar a medicação prescrita. Durante a realização destas tarefas podes ser auxiliado por um AAM, mas nenhuma destas tarefas é realizada autonomamente por estes profissionais. No bloco operatório podes trabalhar como enfermeiro circulante, de apoio à anestesia ou instrumentista. Há áreas cirúrgicas como a ortopedia, vascular ou urologia, que usam muito equipamento especializado, em que um enfermeiro instrumentista que conheça bem o material é absolutamente crucial durante o acto cirúrgico. Como enfermeiro poderás ainda trabalhar noutras áreas, como na consulta externa ou nos cuidados primários. É uma profissão que requer muito contacto com o doente e em que lidarás com pessoas durante situações vulneráveis. Se achas que não consegues tolerar cheiros ou lidar com pessoas nestas situações, a enfermagem não é para ti.

Como farmacêutico, embora possas trabalhar em todos as vertentes do circuito do medicamento (investigação, produção, controlo de qualidade, distribuição e comercialização), na prática a maior parte dos recém-formados encontra o seu nicho em farmácia comunitária (vulgo, farmácia de rua). O farmacêutico hospitalar tem como funções gerir os departamentos dos serviços farmacêuticos, preparar citotóxicos e bolsas de nutrição parentérica (tarefa partilhada com técnicos de farmácia), farmacocinética clínica (calcular doses e intervalos de administração de alguns medicamentos com margem terapêutica estreita (aminoglicosídeos p.e.)) e validação terapêutica. A validação consiste em verificares se as prescrições dos médicos se ajustam ao doente e emitires alertas e sugestões através do software. A validação terapêutica em portugal é uma área com necessidade de evolução e especialização. A titulo pessoal posso-te dizer que as sugestões são raras e quase sempre incorrectas. Como o farmacêutico não tem contacto com o doente, não sabe (nem está preparado para tal) o motivo das minhas prescrições. É impossível um farmacêutico hospitalar dominar todas as particularidades terapêuticas de cada serviço onde existem médicos altamente especializados. Como deves calcular, não há ninguém que saiba mais de terapêutica cardiovascular que um cardiologista, ou medicação psiquiátrica que um psiquiatra. A validação é útil na detecção de gralhas ou erros de forma (e não de conteúdo): prescrever 100 gramas em vez de 100 miligramas, ampolas em vez de comprimidos etc.

Caso prosseguir medicina no futuro seja uma prioridade, julgo não haver curso que forneça melhores bases para isso que ciências farmacêuticas (nem medicina dentária que acaba por ter medicina só em nome). Em termos de ciência básica propedêutica, CF partilha uma grande base com medicina, algo que não vais encontrar em enfermagem.
 
São duas profissões muito diferentes, e sugiro, caso tenhas oportunidade, que passes algum tempo com farmacêuticos ou enfermeiros de modo a fundamentar melhor a tua decisão.

Um enfermeiro não é um auxiliar de acção médica (AAM) nem existe minimamente confusão entre os dois (presumo que seja a isto que te referes quando escreves técnico auxiliar). No internamento um enfermeiro é essencialmente responsável por realizar as higiene aos doentes, posiciona-los no leito, mudar pensos cirúrgicos, colocar acessos venosos, preparar e administrar a medicação prescrita. Durante a realização destas tarefas podes ser auxiliado por um AAM, mas nenhuma destas tarefas é realizada autonomamente por estes profissionais. No bloco operatório podes trabalhar como enfermeiro circulante, de apoio à anestesia ou instrumentista. Há áreas cirúrgicas como a ortopedia, vascular ou urologia, que usam muito equipamento especializado, em que um enfermeiro instrumentista que conheça bem o material é absolutamente crucial durante o acto cirúrgico. Como enfermeiro poderás ainda trabalhar noutras áreas, como na consulta externa ou nos cuidados primários. É uma profissão que requer muito contacto com o doente e em que lidarás com pessoas durante situações vulneráveis. Se achas que não consegues tolerar cheiros ou lidar com pessoas nestas situações, a enfermagem não é para ti.

Como farmacêutico, embora possas trabalhar em todos as vertentes do circuito do medicamento (investigação, produção, controlo de qualidade, distribuição e comercialização), na prática a maior parte dos recém-formados encontra o seu nicho em farmácia comunitária (vulgo, farmácia de rua). O farmacêutico hospitalar tem como funções gerir os departamentos dos serviços farmacêuticos, preparar citotóxicos e bolsas de nutrição parentérica (tarefa partilhada com técnicos de farmácia), farmacocinética clínica (calcular doses e intervalos de administração de alguns medicamentos com margem terapêutica estreita (aminoglicosídeos p.e.)) e validação terapêutica. A validação consiste em verificares se as prescrições dos médicos se ajustam ao doente e emitires alertas e sugestões através do software. A validação terapêutica em portugal é uma área com necessidade de evolução e especialização. A titulo pessoal posso-te dizer que as sugestões são raras e quase sempre incorrectas. Como o farmacêutico não tem contacto com o doente, não sabe (nem está preparado para tal) o motivo das minhas prescrições. É impossível um farmacêutico hospitalar dominar todas as particularidades terapêuticas de cada serviço onde existem médicos altamente especializados. Como deves calcular, não há ninguém que saiba mais de terapêutica cardiovascular que um cardiologista, ou medicação psiquiátrica que um psiquiatra. A validação é útil na detecção de gralhas ou erros de forma (e não de conteúdo): prescrever 100 gramas em vez de 100 miligramas, ampolas em vez de comprimidos etc.

Muito obrigado! Foi muito esclarecedor!

Caso prosseguir medicina no futuro seja uma prioridade, julgo não haver curso que forneça melhores bases para isso que ciências farmacêuticas (nem medicina dentária que acaba por ter medicina só em nome). Em termos de ciência básica propedêutica, CF partilha uma grande base com medicina, algo que não vais encontrar em enfermagem.

Exatamente a minha opinião!
Muito obrigado pela ajuda :D
 
Olá 🙂!
Embora ainda falte bastante tempo, a aproximação da época para ingressar no ensino superior está a encher-me de dúvidas 😅...
Desde o meu 7º ano que penso seguir medicina mas, com tudo o que está a acontecer (o facto das melhorias não refletirem na nota interna), fiz as contas e percebi que a média não chega.
Não é propriamente o fim do mundo (nem pouco mais ou menos, até porque não me importo de entrar em medicina mais tarde se ainda tiver essa vontade) mas, embora não chegue para medicina, a minha média é mais do que o suficiente para qualquer outro curso que me interesse.
Isto deixa-me com várias opções (e eu não sou lá muito bom a tomar decisões).
Após muito refletir, tinha decidido que iria para Ciências Farmacêuticas na FFUL. No entanto, sinto que cresce dentro de mim a vontade de ser enfermeiro... Algo que nunca tinha considerado devido aos vários pontos negativos da profissão. As Ciências Farmacêuticas atraem-me pela possibilidade de trabalhar em laboratório (possivelmente em contexto hospitalar, embora não tenha a certeza que tipo de tarefas são responsabilidade do farmacêutico hospitalar porque vejo muitas informações diferentes). Por outro lado, a parte técnica da enfermagem também me atrai muito... Mas tenho medo de não "compensar" (desculpem a expressão) as outras tarefas do enfermeiro, visto que portugal não faz distinção entre enfermeiro técnico e auxiliar...
Agora que deitei tudo cá para fora... Estes dois cursos são as minhas duas opções, não tenho a certeza é da ordem (embora me sinta mais inclinado para CF, visto que acho que, deculpem a expressão, "arrisco menos")... Participei no dia aberto virtual da ESEL e gostei do que vi. No entanto, também fui ver na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa - Lisboa (ESSCVP) e esta oferece ensino clínico logo no primeiro ano.

Gostava de saber mais sobre ambas as escolas (principalmente da ESSCVP, visto que não conheço nada), as principais diferenças entre o curso de enfermagem leccionado por cada uma e sobre a profissão de enfermeiro.
Caso alguém saiba, agradecia que também me explicassem o que faz um farmacêutico hospitalar ou que me dessem a conhecer outras saídas profissionais de CF que me possam interessar.
Olá!
Como já te responderam, existe uma diferença entre os AO (Assistentes Operacionais - nomenclatura em vigor) e os Enfermeiros. Enquanto Enfermeiros, há um grande trabalho interdisciplinar, seja com os AO, médicos, farmacêuticos, outros técnicos, etc.
Não sei bem qual a tua ideia quando referes que em Portugal não há diferenciação, mas a verdade é que isto se baseia no intuito com o qual as coisas são feitas.
Eu não ponho um doente/utente/cliente/etc em posição X apenas porque tenho de fazer alternância de decúbitos (mudar a posição de um doente) de X em X h... Eu faço-o, para além disso, porque sei que, a nível anatomo-fisiológico terá algum benefício aquela ou outra posição...
Eu não dou um banho simplesmente porque um doente está sujo... se assim fosse, qualquer um o faria. O banho é a altura onde podemos fazer um melhor exame físico. Esta pessoa tolera quando levanto uma perna? Esta pessoa tem feridas? Zonas de pressão? Como tolera estar exposto a uma diminuição de temperatura? Em geral, os AO não tem tanto esta visão, até porque o ensino não é virado para esta componente.
Já te explicaram, por alto, alguns aspetos técnicos do que se faz em Enfermagem. Não sei se terás mais dúvidas, mas achei relevante enunciar alguns daqueles aspetos.
Relativamente ao Ensino Clínico no primeiro ano, não sei em que dia estiveste presente no Dia Aberto, mas no 2º houve tempo para os estudantes da ESEL conversarem com os do Ensino Secundário/participantes. Na ESEL não há EC no 1º ano, no entanto, nos 3ºs e 4ºs existe e só fazemos EC, não temos aulas nem exames. Na ESSCVP existe. Para além disso, devo dizer que, por experiência pessoal, não escolheria ter EC no 1º ano, sem ter boas bases. Na ESEL há práticas laboratoriais (treinamos entrevistas, treinamos procedimentos com bonecos) no 2º ano.
 
Olá!
Como já te responderam, existe uma diferença entre os AO (Assistentes Operacionais - nomenclatura em vigor) e os Enfermeiros. Enquanto Enfermeiros, há um grande trabalho interdisciplinar, seja com os AO, médicos, farmacêuticos, outros técnicos, etc.
Não sei bem qual a tua ideia quando referes que em Portugal não há diferenciação, mas a verdade é que isto se baseia no intuito com o qual as coisas são feitas.
Eu não ponho um doente/utente/cliente/etc em posição X apenas porque tenho de fazer alternância de decúbitos (mudar a posição de um doente) de X em X h... Eu faço-o, para além disso, porque sei que, a nível anatomo-fisiológico terá algum benefício aquela ou outra posição...
Eu não dou um banho simplesmente porque um doente está sujo... se assim fosse, qualquer um o faria. O banho é a altura onde podemos fazer um melhor exame físico. Esta pessoa tolera quando levanto uma perna? Esta pessoa tem feridas? Zonas de pressão? Como tolera estar exposto a uma diminuição de temperatura? Em geral, os AO não tem tanto esta visão, até porque o ensino não é virado para esta componente.
Já te explicaram, por alto, alguns aspetos técnicos do que se faz em Enfermagem. Não sei se terás mais dúvidas, mas achei relevante enunciar alguns daqueles aspetos.
Relativamente ao Ensino Clínico no primeiro ano, não sei em que dia estiveste presente no Dia Aberto, mas no 2º houve tempo para os estudantes da ESEL conversarem com os do Ensino Secundário/participantes. Na ESEL não há EC no 1º ano, no entanto, nos 3ºs e 4ºs existe e só fazemos EC, não temos aulas nem exames. Na ESSCVP existe. Para além disso, devo dizer que, por experiência pessoal, não escolheria ter EC no 1º ano, sem ter boas bases. Na ESEL há práticas laboratoriais (treinamos entrevistas, treinamos procedimentos com bonecos) no 2º ano.
Olá, eu estou a pensar em entrar em enfermagem na ESEL, mas sei muito pouco sobre o curso, apenas achei interessante o facto de conseguir poder ajudar pessoas mais necessitadas/doentes,etc. então achei giro e estou a pensar em entrar. No entanto, eu sou muito esquisita quando vejo sangue,feridas,dar vacinas...e por isso não sei se este pode ser o melhor curso para mim, se vou poder superar este medos? se vou aprender a lidar com estes medos durante o curso?. Se me pudesses responder agradeceria imenso!!!
 
Olá, eu estou a pensar em entrar em enfermagem na ESEL, mas sei muito pouco sobre o curso, apenas achei interessante o facto de conseguir poder ajudar pessoas mais necessitadas/doentes,etc. então achei giro e estou a pensar em entrar. No entanto, eu sou muito esquisita quando vejo sangue,feridas,dar vacinas...e por isso não sei se este pode ser o melhor curso para mim, se vou poder superar este medos? se vou aprender a lidar com estes medos durante o curso?. Se me pudesses responder agradeceria imenso!!!
Olá! Isso é uma questão pessoal. Não te sei dizer se ultrapassas mesmo.
Pessoalmente o que não gostava de ver era pessoas a serem suturadas. Já me senti mal várias vezes. Ultrapassei. As vezes ainda fico mal disposta, mas depois passa e é normal...
 
Olá a todos,
Tenho uma licenciatura em Ciências Biomédicas e estou a acabar o mestrado em Oncobiologia, mas não estava à espera que fosse tudo tão relacionado com investigação e como sabem não há emprego estável em Portugal na área da investigação e também não estava à espera que fosse um trabalho tão soltário. Ultimamente tenho ponderado em fazer uma nova licenciatura, mas neste momento sinto-me um bocado insegura por já ter 25 anos e ter que estudar mais 4 ou 5 anos e também me sinto indecisa porque sempre quis fazer Enfermagem, mas recentemente falaram-me em Ciências Farmacêuticas por ser um curso que nos dá futuramente melhores condições de trabalho, nomeadamente horário e remuneração.
Estou realmente a precisar de feedback de malta que teve que redirecionar os seus estudos e procurar algo melhor porque tal como eu, a sua licenciatura base não lhe dá oportunidades quase nenhumas.
Obrigada!