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Racionalmente falando, ou imparcialmente falando, isto é, tentando analisar as coisas o mais independentemente possível das nossas próprias tendências, emoções ou empatias, que razão teremos para condenar uma agressão nessas circunstâncias? Isto é, a não ser pela tendência (irracional) de achar que essa acção deve ser condenada, que princípio racional, que característica objectiva do Universo racionalmente aferível nos obriga a condenar essa acção?
Mais uma vez, deixando de parte, se quisermos, a nossa humanidade e a nossa tendência inata e irracional para achar que essas acções são condenáveis, o que nos obrigaria, de um ponto de vista puramente racional, a postular esse princípio de que "agredir outra pessoa é mau"? Talvez a falha seja minha, mas não vejo outras razões racionais senão as que se enquadrem em produtos da conveniência (não ser preso/ostracizado pela comunidade, não ser agredido de volta, poder ter uma sociedade organizada e mais ou menos pacífica, etc.); em alternativa, se, por qualquer razão, postularmos princípios que as condenem mesmo sabendo que não há motivo para tal, terei forçosamente de concluir que, mais uma vez ao abrigo desta análise racional, estaremos a limitar as nossas possibilidades de acção desnecessariamente, e, enfim, posso ter sido levado pela retórica ao designar isso "uma tentativa ingénua [e] inútil".
Como seguidamente referes (e, da minha perspectiva, bem), o facto de termos a tendência inata e irracional para considerar essas acções incorrectas pode ser um sinal de que efectivamente o são, mas aí já começamos a entrar na perspectiva que defendo: a moralidade não pode ser avaliada à luz de critérios racionais.
Provavelmente não fui muito claro, mas o que pretendia efectivamente defender, incluindo com os exemplos, é que as acções têm uma componente moral que é objectiva e lhes é intrínseca, mas a percepção que dela fazemos pode não o ser.
Isto, no entanto, não quer dizer, para mim, que essa componente moral possa ser decidida com base num conjunto de princípios racionalmente exprimíveis: podemos tentar encontrar, se quisermos chamar-lhe assim, uma teoria explicativa das propriedades morais com base na experiência acumulada que nos permita fazer previsões e, eventualmente, ajudar a suplantar as insuficiências desse nosso sentido moral, mesmo sem ambicionar a tal "teoria do tudo", mas parece-me que estaremos a tentar "racionalizar o irracionalizável". Isso não quer dizer que a tarefa seja intrinsecamente inútil ou inglória (não mais do que o é a racionalização do irracionalizável que se pratica commumente sob o nome de "Ciência"...), mas, da minha perspectiva, estamos a usar os instrumentos errados na análise.
Não consigo fazer uma metáfora tão vívida quanto queria, mas era como se tentássemos adivinhar a forma da membrana de um tambor só pelo som, o que é um problema matemático interessante, já agora, e a resposta pode até ter alguma utilidade mesmo que indirecta, mas acho que todos podemos concordar que olhar e/ou mexer nele acaba por ser uma melhor opção...
Quero apenas dizer que não me esqueci desta discussão e que tenciono responder a esta mensagem, até porque este tipo de questão metaética me interessa bastante. Só não tenho andado com o estado de espírito apropriado para estas reflexões.
