Olá, eu tenho uma história um pouco diferente, que posso partilhar.
O meu secundário foi um pouco atribulado, comecei a desenvolver algum transtorno mental a que alguns chamam depressão, que fez com que demorasse 5 anos a completar, sendo que acabei em 2010. Na altura, só queria uma saída daqui e, influenciado pelo meu pai que sempre me disse que me apoiava se eu quisesse ir estudar para o estrangeiro, decidi que devia ir para Inglaterra. Não interessava o curso, só queria sair daqui. Lá entrei numa universidade e, em Agosto, já prestes a tratar de marcar viagem, o meu pai decide que não me vai apoiar e acabo por não ir. Fiquei ainda mais em baixo e, pior, fiquei furioso. Na minha cabeça e imaturidade eu não queria estar em Portugal, como se estar noutro país fosse magicamente resolver tudo. Entrei na segunda fase numa outra cidade, fui para lá e aluguei um quarto mas, como disse, queria estar o mais longe possível. Estive um ano a passear os livros, nem isso pois não ia às aulas, raramente saía do meu quarto.
Entretanto os meus pais separaram-se e vim viver com a minha mãe. Foi um martírio, discussões constantes entre duas pessoas instáveis mentalmente (eu e a minha mãe). Matriculei-me noutra universidade, nos primeiros tempos até parecia ir bem, mas voltei-me a fechar em casa. Ano seguinte, universidade diferente, andei nisto 4 anos seguidos, sempre a mudar. Passados esses 4 anos decidi trabalhar para poder, pelo menos, alugar um quarto em Lisboa. Comecei a trabalhar naqueles trabalhos que alguém sem experiência faz, call-center, supermercado, etc. Não fez nada pela minha saúde mental, mas ao menos era uma rotina e tinha dinheiro ao fim do mês, não precisava de pedir nada a ninguém.
A situação com a minha mãe foi melhorando e voltei para casa dela, para ajudar nas contas. Isso ajudou, mas cada vez estava mais farto de alguns colegas e chefias até que, no início deste ano decidi não renovar o contrato. Chegou a pandemia e eu achei que não valia a pena estar a procurar trabalho mal pago, com pessoas que estão chateadas com a vida e descarregam nos colegas ou chefias que ainda criam ambiente pior, ainda mais com todo o stress que a pandemia causa. Candidatei-me e entrei num curso que me interessava, pode não ser o melhor em termos de emprego mas ao menos tenho sentido prazer em ir às aulas (mesmo com todas as condicionantes), daqui a 3 anos veremos como está o mercado de trabalho na área, os outros trabalhos estarão sempre lá.
Tudo isto para dizer que não há problema nenhum em não seguir o caminho como 'deve ser'. Se não entrarem este ano, entram no próximo. Se sentem que não estão a fazer algo que gostem, mudem. Eu preocupava-me muito em ir a uma entrevista e ter de explicar porque tinha tantos 'buracos' no currículo, agora simplesmente digo que tive de tratar de problemas pessoais, não me estão a fazer favor nenhum em contratar-me para trabalhar a receber pouco, com contratos precários, se não ficar na empresa a há a empresa b, c, d e por aí fora.
Desculpem o desabafo, só queria dar uma outra perspectiva, pode ser que alguém que esteja perdido sinta que não está sozinho na luta. Boa sorte a todos!