Já deixei a minha opinião noutro tópico, mas vou tentar resumi-la de forma mais coerente aqui.
Eu penso que EF deve ter exactamente o mesmo estatuto que as outras disciplinas de índole geral que fazem parte do currículo do ensino secundário (Português, Filosofia, ...). Vejo-a como uma disciplina como as outras, mesmo tendo um carácter um pouco distinto. Desse modo, não vejo razão para que a nota de EF não tenha o mesmo papel que as notas dessas outras disciplinas.
Tenho visto três argumentos principais da parte de quem defende que a nota de EF não deveria ser contabilizada no cálculo da média final:
- EF não é uma disciplina que seja útil como preparação para a maioria dos cursos de ensino superior, pelo que não devia contar para a média de candidatura (pelo menos para esses cursos).
- EF é uma disciplina que depende muito das aptidões físicas do aluno, sendo a avaliação em EF necessariamente injusta por esse motivo.
- Em muitas escolas, a avaliação em EF não é feita de forma adequada e justa.
A minha resposta a 1 é a seguinte: o mesmo pode ser dito em relação a outras disciplinas, como Português ou Filosofia. De facto, podemos ir mais longe e afirmar que mesmo algumas disciplinas específicas são inúteis para pessoas que decidem candidatar-se a certos cursos. É claro que se pegarmos em aspectos muito específicos de EF, como dar pontapés numa bola ou correr muito depressa, ficamos com a ideia de que a disciplina pouco tem a oferecer a quem quer estudar Matemática, por exemplo. O mesmo se aplica a interpretar poemas de Fernando Pessoa.
No entanto, não acho que isto seja um bom argumento. Não acho que o objectivo do ensino secundário seja exclusivamente o de dar aos alunos ferramentas directamente úteis para o seu percurso pessoal e profissional. O objectivo do ensino secundário (e da educação em geral) é, a meu ver (e como já referi neste fórum anteriormente), contribuir para uma formação integral dos alunos. Essa formação pode perfeitamente passar por Fernando Pessoa e pela prática desportiva. De facto, parece-me relevante para muitas profissões que uma pessoa dê sinais de possuir uma formação abrangente e competências transversais que vão para lá daquilo que é estritamente necessário ao exercício dessas profissões.
Em relação a 2, tenho a dizer o mesmo que disse em relação a 1: o mesmo pode ser dito em relação a outras disciplinas. Alunos diferentes chegam ao secundário com capacidades diferentes, seja em EF, seja em Matemática, seja em Português, seja em qualquer outra disciplina. Quantas vezes não ouvimos falar em pessoas que "não têm jeito para a Matemática"? Ou que "nunca tiveram grande aptidão para o Português"? Devem essas disciplinas ser eliminadas do cálculo da média final?
Reconheço, no entanto, que EF tem especificidades que outras disciplinas não têm. Mas quem elaborou o programa da disciplina também tem essa noção. Consta do programa (na secção dedicada à avaliação), que as capacidades dos alunos devem ser tidas em consideração na elaboração de objectivos a atingir e critérios de avaliação.
O que me leva ao ponto 3. É um facto que isto acontece: nem sempre a avaliação em EF é feita de modo a ser justa, tendo em conta, como referi no parágrafo anterior, as capacidades dos alunos ou o esforço demonstrado, independentemente da sua aptidão inicial. Mas isto não é, a meu ver, um argumento a favor de que EF não conte para a média; é um argumento contra as más práticas de avaliação em EF. Se alguém é injustiçado neste aspecto, a injustiça está nos critérios de avaliação estabelecidos pelo professor responsável pela disciplina, não no facto de EF contar para a média.
Qual é, então, a solução? Parece-me que o razoável seria que EF tivesse critérios de avaliação que permitissem a praticamente qualquer aluno, independentemente das aptidões físicas manifestadas no início do secundário, atingir uma boa classificação. Esses critérios poderiam passar, como foi aqui dito, por alguma avaliação teórica, pela contabilização do esforço e do progresso do aluno e não exclusivamente os resultados que obtém em termos absolutos, etc.
Para finalizar, parece-me que ainda há alguma incerteza no que diz respeito a quando será aplicada esta medida. Independentemente do que disse antes, é claro que considero injusto que a medida seja aplicada a quem esteja neste momento no 11.º ou 12.º anos.