[Aviso: Tópico Longo, peço desculpa por isso :p]
Estou no último ano do curso... pelo 4º ano consecutivo e 5ª dissertação de mestrado!
(Disclaimer: Este é o primeiro texto que escrevo neste fórum. Perdoem-me por isso alguma falha da minha parte.)
Olá! Decidi expor a minha história (ou melhor dizendo, novela mexicana) com o intuito de não só encontrar pessoas que possam eventualmente estar numa situação semelhante à minha mas também de ouvir opiniões construtivas, que quiçá me impulsionem no caminho certo. Porém, vou manter algum anonimato neste texto em relação à instituição de ensino, curso e identidade por uma questão de privacidade e, uma vez que já encontrei aqui alunos do mesmo curso e academia, de evitar quaisquer consequências menos felizes. De qualquer forma, aqui vai!
Estou cansado de estar constantemente a lutar por concluir um curso que já percebi não desejar. Porém, já foram tantos os recursos que a minha família e eu investimos que não faria sentido abandonar oficialmente (aliás, sei que seria uma grande desilusão para eles, estes últimos anos têm sido um desgosto enorme para eles...). Além disso, nenhuma empresa me vai dar trabalho com a "licenciatura" que já tenho (tenho logicamente mais do que os 180 créditos respectivos feitos). Não consigo acabar o curso, o ambiente em casa não é de todo o melhor para me motivar a isso (desde 2017, ano em que regressei a casa, que sinto uma necessidade tremenda de sair, de procurar novamente o meu espaço...). Estou num dilema bastante complicado. Eu quero ter forças para acabar isto de vez, mas não as tenho e não sinto que vá ter. E mesmo que as encontre, eu não sei já como fazer a tese... o meu professor mandou-me uma estrutura de tese e perguntas chave que devo fazer mas mesmo assim, fiquei na mesma... Por outro lado, também não estou preparado para abandonar oficialmente o curso, não estou preparado para lidar com o drama que seria em relação aos meus familiares e também para deitar para o lixo a média de 15.4 e os 270 em 300 ETCS que já tenho feitos. Além disso, tenho 26 anos e preferia não ficar desprotegido a nível de carreira no futuro (a minha área, na era pré-covid tinha emprego 100% garantido). Sinto mesmo que preciso de sair de casa asap só que, para o concretizar, preciso de procurar um trabalho qualquer que me sustente e isso fará com que tenha de adiar o curso... tenho algum receio que quanto mais adiar, pior será. Oficialmente, ainda posso inscrever-me em mais dois anos lectivos (além daquele que agora começou) sem entrar em regime de prescrição - na minha universidade não é possível congelar a matrícula. Já pensei também procurar eventualmente um outro curso, uma licenciatura apenas numa área que goste bastante mas honestamente falta-me a coragem, a coragem de abandonar o actual, de enfrentar a família, os amigos e colegas de curso e deixar de ser o "menino certinho orgulho da terra"... (aliás, se o fizesse não teria forma de o pagar, não sei se estaria elegível a bolsas da DGES uma vez que nos últimos anos não tive aproveitamento no curso em que estou agora - se alguém souber mais detalhes sobre isto peço que me possa informar por favor!). Sinto que os últimos 8 anos da minha vida foram um desperdício enorme de tempo, de dinheiro e de energias...
Esta é a minha história académica. Não tem sido de todo fácil. Se tiveres lido até aqui, um grande obrigado de coração!! Se tiveres alguma sugestão, partilha. Se tiveres alguma crítica construtiva, partilha. Agradeço o teu tempo e a tua disponibilidade. Obrigado também aos criadores desta enorme comunidade que nos une e tanto nos ajuda! Um abraço.
O que devo fazer?
Estou no último ano do curso... pelo 4º ano consecutivo e 5ª dissertação de mestrado!
(Disclaimer: Este é o primeiro texto que escrevo neste fórum. Perdoem-me por isso alguma falha da minha parte.)
Olá! Decidi expor a minha história (ou melhor dizendo, novela mexicana) com o intuito de não só encontrar pessoas que possam eventualmente estar numa situação semelhante à minha mas também de ouvir opiniões construtivas, que quiçá me impulsionem no caminho certo. Porém, vou manter algum anonimato neste texto em relação à instituição de ensino, curso e identidade por uma questão de privacidade e, uma vez que já encontrei aqui alunos do mesmo curso e academia, de evitar quaisquer consequências menos felizes. De qualquer forma, aqui vai!
- Pré-Ensino Superior: Desde pequeno que tinha muito claro o rumo que pretendia seguir. Sempre fui Quadro de Honra dos ensinos básico e do secundário, tanto em Portugal como numa escola portuguesa que frequentei no estrangeiro; recebi várias bolsas de mérito e participei em Olímpiadas e noutras competições extra-curriculares. Aluno por isso certinho, estudioso, o orgulho da família... Contudo, no meu 9º ano surge uma complicação de saúde que me impede de seguir o meu sonho. Passei os três anos seguintes em elevado estado de ansiedade e incerteza pois não sabia o que fazer - deveria procurar um outro curso mas na mesma área que pretendia seguir ou deveria afastar-me totalmente e procurar outra área? Na altura, e um pouco por influências familiares, acabei por optar ficar na mesma área. Não podia seguir o meu sonho, mas poderia vir a trabalhar naquela que era a minha paixão desde miúdo e esta perspectiva acabou por tranquilizar-me na escolha que deveria fazer. Ainda assim, não me sentia a 100%, não me sentia totalmente entusiasmado e ansioso pela colocação e início das aulas na faculdade. Disse a mim mesmo que iria ver como é que as coisas se iriam desenvolver. Acabei por submeter a candidatura na véspera do prazo terminar. Entrei em 1ª opção, 1ª fase no ano lectivo 2012/2013 num Mestrado Integrado de Engenharia (logo, 5 anos), numa cidade longe da minha área de residência.
- Ensino superior pré-dissertação de mestrado: O ano de caloiro foi simultaneamente assustador e grande motor de crescimento pessoal. Fiz a praxe, conheci várias pessoas novas, comecei a gerir a minha vida de forma independente... o normal. As cadeiras foram mais gerais e comuns a outros cursos e que eu até gostei pois parecia que estava num secundário 2.0; algumas até repetiam matéria de disciplinas opcionais que escolhi no 12º ano. Acabou por ser um ano tranquilo. Porém, os seguintes nem tanto. À medida que ia avançando no curso, eu olhava em meu redor e percebia que os meus colegas tinham ambições muito diferentes das minhas. Eles, ao contrário de mim, já tinham a certeza que aquele era o curso que queriam desde muito cedo e tinham também um esboço das actividades e projectos que pretendiam desenvolver. Comecei a sentir-me para trás, a sentir que aquele ambiente era muito mais complexo do que eu, na minha inocência e ingenuidade, achava antes de ter entrado. Ao mesmo tempo, já várias eram as cadeiras mais específicas que tinha e estava a ter que me aborreciam, que não me diziam absolutamente nada. Porém, a possibilidade de abandonar o curso ainda no 2º/3º anos nunca me passou pela cabeça... sempre fui de terminar aquilo que começava e, depois, a pressão familiar nem sequer me dava margem para considerar essa hipótese. Além disto, acabei por recorrer ao serviço de psicologia da universidade durante um ano e decidi então continuar; fiz as cadeiras, algumas à segunda e à terceira mas terminei os 9 semestres de UCs nos 4 anos e meio previstos. Envolvi-me nas associações de estudantes, participei em competições, fiz formações extra, estágios de verão, actividades desportivas... enfim, procurei de certa forma não ficar efectivamente para trás. Chego ao último semestre, o da dissertação, com uma classificação de 15.4 (excelente para o curso que é) mas sem ainda um tema nem professor orientador definidos. E é aqui que as coisas começam a correr gravemente mal.
- 1ª dissertação de mestrado: Apesar de ter procurado não ficar para trás durante o curso, a verdade é que fiquei. Quando chego então ao semestre final do curso já os meus colegas estavam, alguns, a trabalhar nas suas dissertações há um ano e eu focado noutras actividades. Por volta do final de Novembro de 2016, já no meu último ano do curso, procurei então o professor para orientador que melhor me identifiquei nas aulas, não só pelo método de ensino mas também pelo conteúdo que lecciona. Vou chamar-lhe Prof. 1. Conversei com ele sobre os trabalhos que poderiam ser desenvolvidos e poucas semanas depois tinha em mãos a oportunidade de ir fazer a minha dissertação para uma empresa de renome na área - um trabalho portanto prático, com um propósito claro, objectivo e com aplicação útil e real. O grande problema é que, obviamente, não iria ser pago pela empresa e, como a minha família já não estava em condições de continuar a financiar os meus estudos, acabei por ser obrigado a rejeitar tanto o trabalho como o Prof. 1, uma vez que nessa altura ele apenas orientava trabalhos com a indústria. Isto desmotivou-me bastante... percebi que não seria capaz de terminar o curso no prazo previsto e, como se não bastasse, em Agosto de 2017 fui também obrigado a abandonar a cidade onde estava a estudar e regressar à casa da família; seria isso ou seria procurar um trabalho a tempo integral para cobrir as despesas mas que me iria, garantidamente, impedir de trabalhar na dissertação. Ao voltar a casa, senti em parte que estava a regredir, que estava a abdicar da independência e liberdade que tinha conquistado nos 5 anos passados na faculdade... e isso custou-me bastante.
- 2ª dissertação de mestrado: Setembro de 2017. Estou em casa da família há um mês, parado, sem saber muito bem o que deveria fazer. Acabo por decidir fazer uma pausa e procurei um part-time de 6 meses. Ao 5º mês sinto que era altura de regressar aos estudos e procurei então o Prof. 2 para iniciar um segundo tema. Era um tema teórico, sobre um tópico pouco explorado. E isso deu-me calafrios... reparem, eu já tinha percebido que era com um trabalho prático que iria sentir satisfação e entusiasmo. Mas, ainda assim, deixei-me ir, não podia atrasar mais o processo e não tinha, naquele momento, alternativas. Além disso, eu estava a trabalhar na tese à distância e tive que sujeitar-me. Começo então a pesquisa bibliográfica e a trabalhar num plano. Porém, e quando já tinha o primeiro capítulo (Introdução teórica e estado da arte) praticamente terminado, notei que o Prof. 2 estava cada vez mais distante, a demorar mais tempo a responder aos e-mails e às tentativas de marcações de reuniões online... Passaram-se vários meses, já estávamos no final de Julho de 2018 e decidi abordá-lo... referiu-me que o tema já não lhe interessava pois iria obrigar-lhe que aprendesse uma linguagem de programação nova e ele não tinha essa disponibilidade. Disse-me que eu poderia continuar nele se fizesse questão só que percebi no momento que se o fizesse que não iria correr bem, pois não teria a orientação que necessitaria. Lembram-se da desmotivação que senti no ponto anterior? Ora, voltei a senti-la neste momento. Comecei mesmo a considerar a possibilidade de desistir do curso... mas não o fiz, afinal já tinha trabalhado imenso para desistir assim.
- 3ª dissertação de mestrado: Agosto de 2018. A desmotivação é grande. Passei esse mês perdido da vida. Algures para o final de Setembro de 2018 decido procurar o Prof. 3 e um 3º tema. Novamente, a história repete-se: surge um tema teórico, há entusiasmo ao início, delimitam-se os passos e o plano da tese, fazem-se reuniões, faço a pesquisa bibliográfica, escrevo o primeiro capítulo da tese, envio-o para o Prof. 3 em Janeiro de 2019 para revisão... Finalmente parecia que era desta... mas não foi desta. Fiquei meses (!!!!) à espera de feedback, a enviar e-mails a cada 15 dias, a ligar para a faculdade, a tentar marcar reuniões tanto online como presenciais e nada, absolutamente nada. No final do verão do ano passado cruzo-me com ele na rua e só aí é que me falou e me disse que tinha passado os últimos meses em conferências internacionais e com outros projectos e que não tinha tido por isso disponibilidade para me responder. Mas que já tinha lido o capítulo e estava agora livre para avançar o trabalho. Nessa altura, já eu tinha colocado a dissertação de lado e estava a trabalhar 11h por dia em dois part-times diferentes! Disse-lhe que só ira sair dos trabalhos no final de Dezembro e que só nessa altura poderia então retomar à tese. Ele compreendeu e pediu-me para o contactar então no final do ano passado. Assim o fiz e qual não foi o meu espanto quando a resposta dele foi "Nesta altura não estou a aceitar novos alunos para orientação de dissertações"... Acham isto normal? Um ano depois de lhe ter enviado um capítulo inteiro da tese e ele responde-me isto? Pah, explodi naquele momento, tentei lembrar-lhe que eu já era aluno orientado por ele mas de nada serviu. O tema foi parar o lixo, o capítulo foi parar o lixo, fiquei sem professor e totalmente perdido...
- 4ª dissertação de mestrado: Janeiro de 2020. Continuo a lutar, afinal ano novo, vida nova, não é assim? Decidi voltar a abordar o Prof.1, a minha primeira escolha. Fui bastante bem recebido e em meados de Fevereiro já tinha uma nova oportunidade: novo tema e novamente com a indústria (numa empresa ainda melhor que a anterior!). O Prof. 1 conseguiu inclusivamente que a empresa me colocasse lá a trabalhar oficialmente num estágio profissional (e por isso remunerado), ou seja, já não tinha o problema financeiro a impedir-me. Aceitei no momento, era finalmente a oportunidade perfeita: fazer algo que me iria dar gozo, num local de topo, a ser pago e fora de casa, com a minha independência de volta! Iria terminar o curso ao mesmo tempo que iria ganhar currículo muito importante para a minha carreira futura. Estava a sentir-me em extâse, com a motivação e ânimo finalmente de volta, após tantos anos em baixo... Guess what, SARS-CoV-2 acontece e a empresa cancela imediatamente tudo o que não seja estritamente necessário, incluindo trabalhos de mestrado... Entramos em quarentena, trabalhadores são despedidos e a empresa informa o Prof. 1 que provavelmente iria demorar anos até voltarem a colaborar com as universidades. Fui-me abaixo (ainda estou bastante em baixo)...
- 5ª dissertação de mestrado: Março de 2020. O Prof. 1 surge-me outro tema, desta vez teórico e sem a colaboração da indústria, eu aceitei-o mas não lhe peguei. Desde então que me sinto sem energias, sem forças. O tema não me interessa para nada mas já não tenho mais alternativas e, mesmo que tivesse, já se torna um absurdo estar no 5º tema e já na 9ª matrícula de um curso de 5 anos. Passo os dias muito desmotivado, bastante aborrecido e incapaz de conseguir ter um plano para o futuro a curto-médio prazo....
Estou cansado de estar constantemente a lutar por concluir um curso que já percebi não desejar. Porém, já foram tantos os recursos que a minha família e eu investimos que não faria sentido abandonar oficialmente (aliás, sei que seria uma grande desilusão para eles, estes últimos anos têm sido um desgosto enorme para eles...). Além disso, nenhuma empresa me vai dar trabalho com a "licenciatura" que já tenho (tenho logicamente mais do que os 180 créditos respectivos feitos). Não consigo acabar o curso, o ambiente em casa não é de todo o melhor para me motivar a isso (desde 2017, ano em que regressei a casa, que sinto uma necessidade tremenda de sair, de procurar novamente o meu espaço...). Estou num dilema bastante complicado. Eu quero ter forças para acabar isto de vez, mas não as tenho e não sinto que vá ter. E mesmo que as encontre, eu não sei já como fazer a tese... o meu professor mandou-me uma estrutura de tese e perguntas chave que devo fazer mas mesmo assim, fiquei na mesma... Por outro lado, também não estou preparado para abandonar oficialmente o curso, não estou preparado para lidar com o drama que seria em relação aos meus familiares e também para deitar para o lixo a média de 15.4 e os 270 em 300 ETCS que já tenho feitos. Além disso, tenho 26 anos e preferia não ficar desprotegido a nível de carreira no futuro (a minha área, na era pré-covid tinha emprego 100% garantido). Sinto mesmo que preciso de sair de casa asap só que, para o concretizar, preciso de procurar um trabalho qualquer que me sustente e isso fará com que tenha de adiar o curso... tenho algum receio que quanto mais adiar, pior será. Oficialmente, ainda posso inscrever-me em mais dois anos lectivos (além daquele que agora começou) sem entrar em regime de prescrição - na minha universidade não é possível congelar a matrícula. Já pensei também procurar eventualmente um outro curso, uma licenciatura apenas numa área que goste bastante mas honestamente falta-me a coragem, a coragem de abandonar o actual, de enfrentar a família, os amigos e colegas de curso e deixar de ser o "menino certinho orgulho da terra"... (aliás, se o fizesse não teria forma de o pagar, não sei se estaria elegível a bolsas da DGES uma vez que nos últimos anos não tive aproveitamento no curso em que estou agora - se alguém souber mais detalhes sobre isto peço que me possa informar por favor!). Sinto que os últimos 8 anos da minha vida foram um desperdício enorme de tempo, de dinheiro e de energias...
Esta é a minha história académica. Não tem sido de todo fácil. Se tiveres lido até aqui, um grande obrigado de coração!! Se tiveres alguma sugestão, partilha. Se tiveres alguma crítica construtiva, partilha. Agradeço o teu tempo e a tua disponibilidade. Obrigado também aos criadores desta enorme comunidade que nos une e tanto nos ajuda! Um abraço.
O que devo fazer?
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