Quais são os fatores que levaram a que 2020 e 2021 tenham, ambos, um nível de candidaturas superior aos anos anteriores? Apenas as médias? E será que as pessoas que não entraram em 2020 e tentam agora estão a ter grande impacto nisso?
Já falei disso algures, mas acho que 2020 e 2021 terão motivos diferentes, mas relacionados.
Quanto a 2020, apontaria 3 grandes motivos:
1) O primeiro, no que toca aos alunos de cursos científico-humanísticos:
O facto de as pessoas não ficarem retidas por causa dos exames, diria eu
Mas explicando isto melhor, tivemos alunos que não fazem exames a contar para as notas internas. Logo tens toda a margem de aluno com 10/11, que em anos normais iria a exame e sairia de lá com a disciplina chumbada, sem poder concorrer ao superior. Neste ano ter 10 como nota interna é garantia de disciplina feita.
2) A anormal distribuição das notas dos exames de 2020. Se olhares para os gráficos de distribuição das notas, e comparares com anos normais, verás que a típica distribuição de notas deslocou-se muito para a direita. O que na prática implicou que tiveste muito menos negativas nos exames do que seria de esperar -> Logo mais alunos com exames positivos válidos que podiam usar como prova de ingresso. Ou seja, muitos alunos que em anos "normais" não seria candidatos porque não iriam atingir os mínimos, em 2020 conseguiram não só passar, como ter notas até porreiras. Basta olhares para a curva das notas de Matemática A do exame de 2020 vs 2019 para perceberes o que quero dizer.
3) O terceiro, que costuma ser um grupo ignorado, mas são os alunos de cursos profissionais, artísticos, tecnológicos, recorrente, vocacionais, entre outros. Em anos normais este alunos seriam obrigados a fazer 2, 3 ou 4 exames nacionais obrigatórios para poderem concorrer ao ensino superior, independentemente das provas de ingresso pedidas pelos cursos. Os programas destes alunos não são os mesmos que os cursos científico-humanísticos pelo que a taxa de sucesso costuma ser muito baixa. Só para terem uma ideia só ~15% dos alunos do profissional iam para o superior no pré-pandemia, quando comparado com ~85% dos alunos dos científico-humanísticos. Ao terem apenas de fazer apenas os exames pedidos como prova de ingresso a entrada passou a ser mais acessível para milhares de outros alunos.
Acho que em 2021 vais ter 3 fatores misturados:
1) O mesmo de 2020, menos pessoas retidas por causa dos exames, este fator tem o mesmo efeito que em 2020.
2) O mesmo potencial efeito vindo dos alunos dos cursos profissionais, artísticos, tecnológicos, recorrente, vocacionais, entre outros.
3) Maior número de alunos recandidatos do que em anos habituais. Não nos podemos esquecer que no ano passado existiram quase 63 mil candidatos, mais 11 mil candidatos que em 2019, e mais 12 mil que as vagas iniciais que o governo tinha previsto. Mesmo com o ajuste de mais ~5 mil vagas, a candidatura fechou com mais 7 mil pessoas do que as vagas disponíveis, logo pelo menos 7 mil iriam ficar de fora. Para colocar em perspectiva, em 2019 a candidatura fechou com ~51.200 candidatos para ~50.900 vagas, ou seja, houve ali uma diferença de apenas +400 candidatos que vagas. Nas colocações de 2020 acabaram colocados ~51 mil alunos, pelo que ~12 mil alunos ficaram sem vagas. Isto além dos que não ficaram colocados onde não queriam. Para comparação, em 2019 ficaram colocados ~44,5 mil, logo ficaram sem colocação ~7 mil alunos. Claro que muitos destes alunos foram à segundas fases e/ou para privadas, mas o número de alunos que ficou de fora, e/ou não ficou onde queria, e irá voltar a concorrer este ano, será provavelmente o maior dos últimos anos. E é este fator que deve estar a compensar o fator 2) de 2020, levando a que o número de candidatos esteja a ser muito similar.