Atenção, a modalidade epistémica não é a expressão de uma verdade universal, mas sim uma expressão de certeza acerca da veracidade de um facto independentemente da veracidade do facto.
"A colcha é cinzenta." é sempre uma expressão de modalidade epistémica quer a colcha seja cinzenta quer não. Partimos do pressuposto, claro, que a colcha é cinzenta, porque quem diz a frase transmite
certeza, e não
possibilidade (a colcha pode ser cinzenta) ou
probabilidade (a colcha deve ser cinzenta), mas não devemos observar a modalidade da frase de acordo com a verdade externa à do locutor.
O verbo "crer" encontra definições mais justas no Priberam:
Ver anexo 16320
Tanto na sua forma transitiva como pronominal este verbo transmite a crença acerca de algo, ou seja, se eu proferir que "creio que a colcha é cinzenta", estou efectivamente a transmitir uma modalidade epistémica acerca da cor da colcha, mas a inflexão, neste caso, determinará a submodalidade do verbo. Neste aspecto, eu entendo a tua dúvida, porque eu posso tanto dizer: "Creio que a colcha é cinzenta." no intuito de transmitir que ela, para mim, com certeza será cinzenta, como me podes perguntar: "A colcha é cinzenta." e eu responder "Creio que sim.", que já não transmite, devido a uso comum, um carácter de certeza, tento adquirido a qualidade idiomática de
possibilidade.
De qualquer forma, deves sempre a analisar a modalidade também pela sintaxe, ou seja, por tudo o que envolve a frase antes dela surgir e até um pouco depois do seu surgimento, porque reacções também podem ajudar a entender a arquitectura contextual duma afirmação.
(a forma intransitiva do verbo não nos dá jeito neste caso; um exemplo do seu uso seria "
eu fui feito para crer.", que é, curiosamente, também uma frase de modalidade epistémica, mas não por causa do verbo
crer.)