Um estudo recente da Direção-Geral do Ensino Superior revela que as situações financeiras adversas e o nível de escolaridade dos pais têm um impacto significativo nas probabilidades de um aluno obter formação superior em Portugal. Em 2020/21, apenas 44,35% dos estudantes com escalão A de ação social que concluíram o Ensino Secundário conseguiram transitar para o Ensino Superior. Esta proporção diminui ainda mais para os alunos vindos de cursos profissionais, com apenas 6% a conseguirem entrar num curso de excelência.
Os dados, citados pelo Jornal de Notícias, revelam diferenças significativas entre os alunos dos cursos científico-humanísticos e profissionais. Enquanto 62% dos não beneficiários de ação social escolar entram no Ensino Superior, essa proporção cai para 44% entre os beneficiários do escalão A. As taxas de transição dos alunos dos cursos científico-humanísticos são sempre mais do que o triplo das taxas de transição nos cursos profissionais.
O estudo sublinha a necessidade de medidas específicas para apoiar os alunos economicamente desfavorecidos. “A probabilidade de um aluno do escalão A transitar para o Ensino Superior encontra-se cerca de 21% abaixo da probabilidade de transição para um não beneficiário de ação social escolar nos cursos científico-humanísticos e 26% abaixo nos cursos profissionais”, refere o documento.
Alberto Amaral, antigo presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, explica ao mesmo jornal que a massificação do sistema de ensino tem um efeito direto na entrada dos alunos nos cursos de excelência. “Os socioeconomicamente mais favorecidos usam as suas vantagens socioeconómicas para assegurar os melhores resultados, ou seja, o acesso aos cursos e instituições com melhor reputação”, afirma.
Curiosamente, os alunos economicamente mais desfavorecidos superam os restantes em termos de performance académica em alguns indicadores após o ingresso no Ensino Superior. No entanto, enfrentam taxas de abandono superiores. Estes resultados sugerem que “a maior parte das desigualdades sociais acontecem antes de aceder a este nível de ensino [superior]”, conforme denominado pelo estudo “Equity policies in global higher education”.
No ano letivo em análise, vigorou um contingente prioritário para alunos do escalão A. No entanto, dois terços destes alunos entraram pelo regime geral. Alberto Amaral destaca que as “diferenças de origem social” também se refletem “nas escolhas”, com estes alunos a “terem uma menor probabilidade de escolher opções mais ambiciosas do que os estudantes de origem social mais privilegiada, mesmo quando o seu rendimento académico faz prever que essas opções seriam perfeitamente possíveis”.