É o que nos têm dito. Sim, a nós jovens que construímos o futuro… que somos o futuro!
Num país famoso pelas aventuras em ultramar, por ter sangue de explorador a correr nas veias, rico em história e cultura de conquistas, é estranho que alguma vez nos refiram (a nós jovens)… como rascas. Isto quando carregamos este peso empreendedor às costas.
Porque estou a falar destas coisas, perguntas tu?
Por acreditar que vivemos na era mais bonita da história da humanidade. Uma altura em que “fazer acontecer” já não é um slogan barato, mas sim uma forma de viver que, nós jovens portugueses de hoje, não temos medo de abraçar. Não somos a geração rasca, somos a geração dos transformadores – se não gostamos mudamos e se não existe criamos.
E são estes os jovens que em tempos remotos lideravam as tripulações nas caravelas pelo mundo fora a descobrir o que não se sabia existir, que hoje comandam este Portugal oxigenado de vontade de desafiar o que existe.
Quando em tempos navegavam o oceano atlântico sem desviar o olhar do horizonte, hoje navegamos pelo websummit a pedir brindes em todas as bancas
Quando em tempos lhe chamavam desenrasque, hoje chamam-lhe inovação.
Quando em tempos se referiam àquele que apontava na direção a seguir – capitão do navio, hoje chamam-lhe CEO e seguem-no no linkedin.
Quando em tempos chamavam “faz tudo” àquele que arranjava soluções para tudo, hoje chamam-lhe empreendedor.
E é aqui que quero chegar… a Portugal, um país de jovens empreendedores.
Espera! Antes de decidires continuar, quero que saibas com quem estás a falar. O meu nome é Francisco Ramires e sou orgulhosamente parte deste movimento, estando neste momento em que falamos, a trabalhar na minha segunda startup – Strain (não te faz mal nenhum clicar no link agora :D)
Mas afinal o que é ser empreendedor?
Os empreendedores são pessoas que têm ideias e paixões, que veem um problema no mundo e decidem levantar-se do conforto do sofá e fazer algo em relação a ele. São pessoas que colocam o seu tempo tão precioso, e mais difícil, o seu dinheiro para resolver esse problema. São apaixonados por soluções e não problemas; pessoas que olham para o mundo como um lugar de oportunidades e não de obstáculos.
São pessoas que adoram o processo de desenvolver uma ideia e trabalham incansavelmente, movidos a noites sem dormir e café com red bull, para resolver da melhor forma aquilo a que se propuseram.
Ah!! Para não falar que têm família, namorado/a para levar ao cinema, comprar a fruta que a mãe pediu, ir tomar uma cerveja com os amigos para não perder as novidades e fazer os exames normais para poder sobreviver à Universidade. Fácil não é de todo a palavra a usar aqui, mas é, sem dúvida a montanha russa mais louca onde se pode entrar.
A verdade é que as escolas/universidades de hoje adotam o sistema “fit in”, com testes standardizados, aulas teóricas que funcionam melhor que qualquer comprimido para o sono, desenhados para criar o “profissional” de hoje e não o “desafiador” do amanhã. Com desafiador não me refiro a Steve Jobs, mas sim pessoas capazes de questionar o mundo e de o desafiar a ser melhor. Características como inovação, tenacidade, negociação, vendas, comunicação, são deixadas de lado, abandonadas do atual sistema educacional.
Tudo isto desenvolvi enquanto empreendedor! Nem diria desenvolvi… diria mais… tive que desenvolver.
Criamos a Strain – uma plataforma de recomendações digitais em que podes ganhar descontos nas marcas que mais gostas com um simples post nas redes sociais, à cerca de 6 meses. Construímos tudo de raiz e tivemos de aprender (na verdade ainda hoje aprendemos) à medida que as necessidades aparecem, com a rapidez de quem tem a sobrevivência do negócio a depender daquilo.
Agora pensem comigo como será passar de testes com escolhas múltiplas em que tudo é binário – ou falhas ou acertas e é o fim da história, para todos os dias teres, não 4 opções, mas sim 3000 e que mesmo que não escolhas a certa tens de te adaptar e correr pelos prejuízos. Imagina que em vez daquela apresentação que fazes na aula de biologia sobre o futuro das zebras, tens de sozinho desenhar a apresentação, o discurso e pensar nas perguntas mais distorcidas que um potencial cliente pode fazer numa reunião.
Sim… é entusiasmante! Isto todos te vão dizer!
Mas nunca te vão falar das noites em que não dormes a trabalhar em propostas que tens de entregar no dia a seguir, ou na quantidade de cafeína que aprendes a consumir para estares na Universidade minimamente desperto no dia a seguir (acredita, é de loucos!). Nunca ninguém te vai falar dos cafés que recusas com os teus amigos porque tens de fechar aquela parceria tão importante no dia a seguir. Ninguém te conta da seca que a tua família leva à mesa com os clichés do empreendedorismo (“Sim pai, amanhã tenho de terminar o business model e talvez trabalhar um pouco mais no ‘sales pitch’. Tenho a certeza que ganhamos a competição de ‘startups’ depois.), que nunca vão perceber e que muitas das vezes levam como um hobbie com que andas a brincar.
Não é fácil, não. Mas é a viagem mais enriquecedora em que já tive oportunidade de entrar.
É a primeira vez em que sentes o mundo a dar-te chapadas com um tijolo e ainda assim tens de continuar a rir-te como se nada fosse (foi a melhor metáfora que consegui). É a primeira vez que talvez és rejeitado – seja por um cliente, um fornecedor, ou pelo gestor de anúncios do Facebook que diz que a imagem que queres publicar não é adequada. Talvez seja a primeira vez em que tens de aprender a programar ou fazer designs, porque ninguém o vai fazer por ti. Talvez seja a primeira vez que estás numa mesa com um diretor de uma empresa com o dobro da tua idade a apresentar uma proposta. Talvez seja a primeira vez que não te sentes em controlo de tudo…. e não é mágico isso? 😀
Vai ser a primeira vez de muita coisa, confia. Mas mesmo que o seja, mais vale que sintas agora o que é o mundo dos negócios e aprendas a sobreviver nele, do que te atirarem para lá sem salva-vidas!
Calma. Nem tudo é mau!
Não te quero assustar, mas talvez já sejas um empreendedor…
Somos todos, na verdade. Faz parte da génese humana nascer para resolver problemas, porque sem eles nunca evoluiríamos. Se não tivéssemos tido o problema de precisar de elevar pedras que pesam toneladas, a alavanca não teria sido descoberta; ou se não tivéssemos a necessidade de nos deslocar mais rápido, a roda nunca teria sido inventada. Somos uma espécie de problemas, mas acima de tudo de soluções!
Quer estejas a arranjar a torneira de tua casa, a desmontar o rádio velho do teu pai para criares a tua estação caseira ou a arranjar uma forma melhor da tua mãe pôr as compras na mala, também tu és um empreendedor.
E se há algo que quero que fiques se chegaste tão longe neste texto, é: se tens uma ideia não tenhas medo de a testar. Acima de tudo de a testar rápido e barato, mas de a testar sempre. Já não vivemos no tempo do “E se”, mas sim no tempo de executar.
E não haverá melhor altura para falhar do que na Universidade, porque terás sempre uma vida pela frente se correr mal! 😀
Ser empreendedor vai desafiar-te, esticar-te até aos limites, mas vai-te dar uma capacidade de adaptação e resolução de problemas incrível e quem sabe…. Talvez te juntes à Strain no futuro!
Talvez não sejamos mesmo a geração rasca. Talvez.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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