O último Inquérito do Programme for the International Assessment of Adult Competencies (PIAAC), da OCDE, revelou resultados preocupantes sobre as competências dos portugueses a literacia, numeracia e resolução de problemas. Portugal, que participou pela primeira vez neste inquérito, ocupa o penúltimo lugar entre os 31 países participantes, o que levanta questões sobre o alinhamento entre a formação superior e o desenvolvimento de competências, refere o EDUSTAT.
Embora Portugal tenha uma percentagem de população com mestrado superior à média da OCDE (19% vs. 14%), apenas 4% dos portugueses atingem os níveis mais elevados de literacia, comparativamente aos 12% nos países da OCDE, o que faz questionar a qualidade dos mestrados oferecidos, segundo a plataforma.
Como consequência do processo de Bolonha, que criou o sistema de dois ciclos (licenciatura mais mestrado), o número de mestrados em Portugal aumentou significativamente e conta com uma oferta de mais de 1.500 programas atualmente disponíveis. Contudo, a evolução do número de diplomados é bastante inferior à do número de inscritos, o que indicia uma falta de eficiência formativa: a taxa de abandono no primeiro ano é elevada (próxima de 30%), e a taxa de sobrevivência – rácio entre o número de diplomados e o número de inscritos no 1.º ano pela primeira vez – é de cerca de 60%.
Alguns autores no EDUSTAT apontam fatores que podem estar a contribuir para a baixa eficiência formativa deste nível de ensino. O subfinanciamento das instituições e o foco nas receitas em detrimento da qualidade educativa, a baixa exigência na admissão, a acumulação do estudo com atividade profissional ou a falta de recursos para apoio adequado aos estudantes são algumas das razões apontadas.
Ainda assim, e apesar das lacunas nas competências dos diplomados portugueses, os mestrados continuam a ter um impacto positivo no mercado de trabalho. A taxa de empregabilidade para detentores de mestrado é de 92,5%, comparada com 82,8% para licenciados. Em termos salariais, em 2022, os jovens mestres ganhavam em média 24% mais do que os licenciados, um aumento expressivo face à diferença de apenas 10% registada em 2010.