Artes é só para burros, só aí vão para fugir a matemática. Artes é bastante fácil, quem querem enganar? Ah, mas sabes que vais para o desemprego quando acabares o curso, não é?
A quem é que estas frases são familiares? Se te são, desculpa teres que lidar com pessoas idiotas, eu também já as ouvi.
Existem muitos dizeres em redor do curso de Artes Visuais que, por vezes, acabam por desmotivar alguém que lá esteja ou até fazer alguém mudar de ideias na altura de escolher o curso e acabar por ir para um que não a faça feliz apenas para fugir às críticas.
Hoje venho desmitificar alguns dos mitos deste curso onde estou já à três aninhos, estando agora a terminar o 12º ano.
“Em artes não se faz nada”.
Artes Visuais, não querendo vos assustar, é um curso bastante complexo. Temos um diário gráfico para manter atualizado semanalmente (com desde 2 a 10 desenhos – dependendo do que o professor pedir – para apresentar por semana, dentro de um tema), um projeto a decorrer e vários testes para estudar, o que se complica no 11º ano que é o ano com maior carga horária em todos os cursos.
Já no 12º ano, onde a única disciplina com teste é português, continuamos a ter o diário gráfico, um projeto de desenho, outro de oficinas e ainda outro de multimédia – Sim, soa fácil, mas conciliar e arranjar tempo para tudo é o pior.
Não, não se vai para artes só para fugir a matemática.
E quem for, é um pouco idiota, pois vai dar de caras com geometria descritiva que é um tanto mais complicado que a matemática.
Geometria é aquela fantástica disciplina que têm durante dois longos anos no curso de artes que vos faz querer não sair da cama nos dias em que a têm mas, pelo lado positivo, é uma disciplina que, para quem tem uma boa lógica e consegue se manter atento a todas as aulas vai ser relativamente fácil pois, se perderem uma aula de matéria, ficarão um pouco à nora.
Ah, já agora, artes também tem matemática B como disciplina facultativa que podem escolher ao invés de História da Cultura e das Artes.
Não, artes não e só para burros.
Muitas vezes oiço que artes é para burros quando o pessoal tenta desvalorizar este curso por não abordar disciplinas como matemática A, ciências e disciplinas mais que se encontram no curso de ciências e tecnologias.
Lá por alguém ser mais virado para o mundo das artes, preferir estudar história, criar arte e estar sossegado no seu canto, não significa ser burro. Temos aptidões diferentes apenas, bem como gostos. Nada contra a quem prefere estudar animais, eu prefiro desenhá-los.
Não, não se vai automaticamente para o desemprego por se fazer o curso de artes.
Artes abre portas a inúmeras profissões, desde arquitetos, aos mais diversos ramos do design, artistas independentes (cinematógrafos, artistas plásticos, pintores, desenhistas), sem contar com os demais cursos que podem entrar com os exames de admissão!
Não, artes não é só para quem é um “mestre do desenho”,
Muito pelo contrário, artes é para quem gosta de criar. Artes é para todas as mentes criativas por aí.
E não desistam de vir para artes por acharem que ninguém irá gostar dos vossos rabiscos, não precisam de aprovação pública. Tudo é arte.
E claro, é normal ficar a admirar os desenhos de quem já lá anda, eu quando entrei no 10º ano também tinha um desenho muito limitado, nunca saía da minha zona de conforto e julgava nunca ser capaz de criar coisas tão fantásticas quanto as que via dos mais velhos mas a nossa noção do que é belo muda quando entramos neste curso, começamos a valorizar mais o nosso trabalho e dar-nos mérito pelo esforço, começando a gostar mais do que fazemos e a ganhar uma ânsia pela evolução e acreditem, ao estar num curso que vos faz desenhar todos os dias, acabam por sair da vossa zona de conforto e descobrir que são capazes de coisas que nem sonhavam!
Como podem se aperceber este curso é como todos os demais, apenas com menos disciplinas teóricas porque é um curso virado mais para o lado prático que desperta a criatividade de cada um de nós.
Portanto nunca se deixem levar por estes comentários, todos os cursos têm o seu valor, até porque se fossem todos iguais, porque haveriam várias opções?
Eu lembro-me da minha primeira aula de desenho onde eu não queria desenhar à frente de toda a gente, tinha vergonha e medo dos possíveis comentários.
Lembro-me de desenhar durante horas até estar “meio satisfeita” com o resultado.
Mas agora até no autocarro cheio desenho por ser algo que gosto, não há que ter vergonha do que nós fazemos, ao fim ao cabo é algo que faz parte de nós.
E uma coisa que aprendi ao longo destes três anos foi que deveríamos procurar sair da nossa zona de conforto, procurar evolução, não ficar pelo que sabemos fazer com o medo de errar. O erro é o que leva à evolução, embora nunca à perfeição por isso ser algo pelo qual devemos lutar sempre, devendo vê-la como um objetivo inalcançável para nunca nos dar-mos por satisfeitos e correr o risco de estagnar, perceberam? Risquem e rabisquem, desenhem coisas do dia a dia, não fiquem horas em redor de um sketch à procura que seja a próxima atração do Louvre, soltem-se.
Este artigo foi originalmente publicado aqui.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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