Já saíram as colocações da 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior e, infelizmente, alguns de vós viram-se na situação de não terem conseguido entrar no curso que desejavam. Alguns conseguirão entrar na 2ª fase, outros não, e são exatamente esses que têm de escolher o que fazer durante o próximo ano. Eu própria estive nesta situação o ano passado, tendo tomado a decisão de ficar “parada” a estudar para os exames que iria usar como prova de ingresso para o meu curso de sonho: Medicina. Neste artigo, falo-vos da minha experiência com a decisão que tomei e da organização do meu ano, esperando que vos ajude a gerir o vosso.
O começo
Terminei o 12º ano em 2013/2014 no curso de Ciências e Tecnologias, e já tinha decidido no 11º que Medicina era o curso por que iria optar. No entanto, devido ao cansaço e aos nervos bloqueei no exame de Matemática A e acabei por ter 13,0 valores, o que faz com que não seja aceite como prova de ingresso no acesso ao curso, anulando assim a minha hipótese de candidatura na 1ª fase. Ainda repeti o exame nesse ano e candidatei-me a Medicina em 2ª fase, mas com média de candidatura de cerca de 174 sabia que não era nesse ano que ia conseguir entrar no curso que esperava. Embora já me tivesse preparado para essa eventualidade fiquei em choque, triste e desiludida comigo mesma. Senti que todo o trabalho árduo de um ano inteiro tinha sido inútil, e que as férias que quase não tive e as vezes que não saí para ficar a estudar tinham sido tempo perdido.
Tomar a decisão
Tinha então chegado a hora de começar a pensar no que iria fazer da minha vida no ano seguinte. Para mim, existiam duas hipóteses: a candidatura a outro curso do ensino superior que me permitisse ter equivalências a Medicina ou ficar um ano a estudar apenas para os exames nacionais. Desistir? Nunca.
Sei que muita gente se debate com a escolha, mas na minha situação a decisão certa era óbvia: ficar um ano “por fora”, para me focar só nos exames (de Mat A e FQ A). Apesar de todas as vantagens que entrar num curso superior me traria (especialmente se não entrasse este ano), achei que ao ficar por fora não teria de dividir a minha atenção e tempo de estudo, teria mais tempo para descansar e, claro, não gastaria tanto dinheiro em despesas de um curso de que não gostava.
Organizar o ano
Depois de ter a decisão tomada, foi preciso começar a pensar em organizar o ano seguinte.
Para mim, o primeiro passo é fundamental: mudar o estado de espírito. É natural que, após ver o nosso esforço de vários anos não ser recompensado, fiquemos a sentir-nos desmotivados e desiludidos connosco próprios. No entanto, há que aceitar o que aconteceu e seguir em frente, não só para aproveitar um pouco das férias e descansar, mas também para começarmos a reunir toda a nossa motivação e força, focando-nos completamente no objetivo do ano que está para vir. Sei que não é fácil e que o processo é diferente para cada pessoa. Para mim, esse momento de viragem só ocorreu em dezembro, mas espero que o consigam fazer mais cedo, pois sei que este foi tempo em que poderia ter dedicado todas as minhas forças e atenção ao meu objetivo, em vez de apenas parte delas.
Depois, achei importante fazer um plano de estudos que me parecesse realista. Abri os livros por que ia estudar e fiz uma lista com os subtópicos que estavam no índice (número de páginas e tudo), e escrevi os dias necessários para estudar cada um. Se quiserem saber mais ou menos quantas páginas devem estudar por dia, podem dividir o número total de páginas a estudar pelo número de dias que têm para o fazer. Isto dá uma orientação; depois depende de cada matéria, a umas dedicam-se mais dias, e a outras, mais fáceis e para que temos mais jeito, menos. Deixei 2 meses de fora, para poder ter alguma margem (caso quisesse parar alguns dias durante as férias, um dia em que estivesse mais cansada, etc.), fazer exercícios de exame e ir revendo a matéria, e um dia de descanso em cada semana. Só não se esqueçam que não há problema se não conseguirem cumprir o plano à risca, é para isso que a margem serve (eu planeei estudar tudo até à primeira semana de abril e só acabei um mês depois, e ainda fiquei com maio e um bocado de junho para fazer exames nacionais cronometrados e rever). De início não achei necessário um plano destes, mas sei que foi a decisão certa, por permitir manter a disciplina e o ritmo, bem como ter um estudo mais organizado.
Também fiz um requerimento para ir assistir às aulas de Matemática de 12º e Física e Química de 11º na minha escola secundária, e o pedido para as primeiras foi recusado. Ainda fui assistir às aulas dos 3 anos de Mat A e de 10º/11º de FQ A num externato do ensino recorrente durante 3 meses, mas não achei que valesse a pena pelo que se paga, pois lá a matéria é dada de forma muito menos pormenorizada do que no ensino regular. Por esta razão, voltei à minha escola secundária e fui falar diretamente com os professores que davam ambas as disciplinas (se quiserem tentar também podem falar com outros professores que já vos conhecem e que podem falar com eles), expliquei-lhes a minha situação e consegui começar a assistir às aulas. Não achei necessário ir a todas, mas pedi para fazer os testes juntamente com a turma em que estava, para começar a treinar a gestão do tempo.
Algo que também me ajudou imenso foi procurar boas explicadoras das ditas disciplinas, para maio e junho. Acho que não são indispensáveis, mas para mim foram muito úteis porque me permitiram tirar dúvidas em exercícios de exame sem ter de partilhar a atenção de um professor. Escolhi investir em explicadoras com alguma experiência com exames, que acabaram por me preparar para as particularidades dos exercícios de exame e para responder de acordo com os critérios, e ainda me chamaram a atenção para partes da matéria por vezes mais ignoradas que podiam vir a sair.
Por fim, porque este ano não pode ser só de estudo, existem diversas coisas que podem aproveitar para fazer: começar a trabalhar, fazer voluntariado, viajar, começar uma rotina de exercício físico, etc. Honestamente, a única coisa que eu fiz foi inscrever-me na aeróbica com uma amiga, para me focar mais nos estudos, mas acho que a escolha do que fazer para além de estudar neste ano “de fora” é pessoal e depende de cada um e da sua gestão de tempo.
Ao longo do ano
- Procurar apoio emocional: acho que vale a pena mencionar que tive imenso, tanto da minha família como dos meus amigos, que às vezes pareciam acreditar mais nas minhas capacidades do que eu, e que isso contribuiu para o meu sucesso. A verdade é que, depois de ouvir tanta gente a dizer “Tu consegues” comecei a acreditar que era verdade, e nos piores dias, em que me sentia mais desanimada, essa era a minha motivação. Por isso, mantenham o contacto com quem mais vos apoia e procurem gente na mesma situação, para poderem falar um pouco e partilhar experiências (por exemplo, aqui no fórum do Uniarea).
- Manter uma boa alimentação e horários de sono regulares: eu sei, já estão fartos de ouvir isto, mas acreditem que se pudesse mudar algo neste ano seria ter dormido como deve ser desde o início, e não ter começado só em abril, porque os dias em que me deitava tarde significavam manhãs de estudo perdidas, e às vezes ficava com demasiado sono para estudar e só começava às 15h/16h, e perdia obviamente imenso tempo.
As desvantagens
Um dos meus maiores problemas com este ano foi a carga emocional gigantesca. Nos primeiros meses quase vivia só para estudar, e estava sempre com medo e a pensar que não ia conseguir entrar. Também comecei a deixar de cumprir o plano de estudos porque ia assistir a imensas aulas no externato, e isso contribuiu para o aumento da minha ansiedade. Comecei a ficar acordada até tarde para tentar estudar tudo, e acordava cedo para ir para as aulas. Mantive este ritmo até dezembro, e aí já tinha vontade de chorar de cada vez que olhava para a matéria. Tudo isto levou ao meu isolamento e à acumulação de pressão e stress, outras grandes desvantagens desta escolha (e que facilmente se refletem nos exames).
Só parei quando a minha família falou comigo, e percebi que não podia levar o meu plano tão a sério; nuns dias estuda-se mais e noutros menos. Ainda assim, é importante saber distinguir entre preguiça e cansaço: nos dias em que estava exausta descansava, pois sabia que o estudo não ia render, mas raramente deixei de estudar por preguiça, porque neste ano é muito fácil perder o ritmo (acha-se sempre que o tempo é muito, até deixar de ser). Se o estudo não estivesse a correr bem, parava, ia dar uma volta e regressava. Ainda percebi que devia sair mais de casa, sozinha ou com amigos/família, para combater o isolamento.
Desfecho
Este foi o meu ano. Exige muita motivação, força de vontade e disciplina, mas tendo sempre em mente a meta é possível fazê-lo e ter sucesso: entrei no curso que queria e na minha primeira opção, e posso dizer-vos que é uma sensação extraordinária ver o nosso esforço ser recompensado desta maneira. Se não entraram este ano, não desesperem e voltem a tentar. Ainda verão que ficar um ano por fora não é tempo perdido, mas sim um período de tempo (que passa super rápido!) em que podem estar mais livres, experimentar coisas novas e ganhar maturidade enquanto trabalham para alcançar o vosso objetivo. Desejo-vos a maior das sortes com a vossa vida e espero que consigam entrar no curso que desejam!
P.S.: Decerto que há casos de pessoas que tiveram um ano diferente e o mesmo desfecho. Esta foi apenas a minha experiência, e portanto não posso garantir que funcione ou que seja infalível. Espero que encontrem a solução que mais se adequa a vocês e à vossa situação. Boa sorte!
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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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