Aqueles que, antes de nós, ocuparam a Cantina Velha da Universidade de Lisboa e fizeram oposição ao Estado Novo, talvez esperassem que, volvidas tantas décadas, a Academia e o país já tivessem florescido além das amarras e limitações, e que já não fosse necessário obrigarem-nos a sair para a rua a gritar por mais Liberdade.
Nos dias de hoje, para compreender a importância de continuar a lutar pela Liberdade é essencial entender duas concepções fundamentais. A Liberdade como garantia de que os indivíduos possam agir de acordo com as suas vontades, sem interferência externa, incluindo a do Estado. E a Liberdade compreendida como a possibilidade das pessoas alcançarem os seus objetivos e terem o controle total sobre as suas vidas, tendo fácil acesso aos recursos necessários para viver com dignidade e cumprir as suas potencialidades.
Assim sendo, importa constatar que o esforço necessário para um estudante deslocado estudar é cada vez mais elevado. Em Lisboa, apenas 9% dos 33% dos estudantes deslocados conseguem encontrar um quarto numa residência universitária pública. Os restantes ficam sujeitos ao mercado de arrendamento privado, onde há cada vez menos quartos disponíveis e cada vez mais caros, e onde impera a falta de ética fiscal por parte dos senhorios. Não podemos parar a luta pela Liberdade enquanto a condição sócio-económica de um estudante for um entrave para que ele prossiga os estudos na Instituição de ensino superior que deseja e que é capacitado a ingressar.
Em simultâneo, a escassez de habitação acessível afeta não só os estudantes deslocados, mas também os jovens que aspiram ser independentes. Em média, os jovens portugueses deixam a casa dos pais aos 33 anos. Portugal vive uma das mais graves crises de emancipação jovem. Não podemos parar a luta pela Liberdade enquanto a prospecção do futuro das gerações vindouras for pior que a das gerações antecedentes.
Posto isto, é evidente que a crise habitacional constitui uma clara ameaça à Liberdade e exige uma resolução célere por parte dos decisores políticos. Basta de inoperância, anúncios de Planos Nacionais que não são para cumprir e medidas fantoche que apenas servem para desviar a atenção da população. Devolvam-nos o que Abril nos deu e deixem-nos habitar Abril na sua plenitude!
Sob o mote “Não consegui pagar a renda, então mudei-me para a Alameda da Cidade Universitária”, os estudantes juntam-se para receber a madrugada dos 49 anos do 25 de abril e protestar contra a forma como a crise habitacional tem sido gerida.
Que nunca, em qualquer ponto deste país, ninguém se esqueça do poder de intervenção dos estudantes, que ninguém se esqueça das crises académicas e das primaveras estudantis.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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