Há cerca de uma semana, tornei-me numa das mais recentes caloiras da vida académica de Lisboa. Isto torna-se tão aterrador quanto a distância de 400 km que tive de percorrer para cá chegar, quando na terra natal deixo toda a família, todos os amigos e um coro de perguntas (“Porque é que não foste para mais perto?”, “Mas essa faculdade é assim tão boa?” e o clássico “Lisboa é tão grande!”).
A expectativa era grande, vinha de longe e sozinha, não conhecia ninguém, nem a cidade. Até as aulas começarem, havia o friozinho na barriga, as inúmeras perguntas sem respostas, as dúvidas, as dúvidas! Desde a mais trivial – será que vai haver alguém com o mesmos gostos que eu? – à mais existencial – será que fiz mesmo a escolha certa?
Envolvida, como todos os caloiros, em ansiedade e um sentimento de “à nossa frente (…) portadas de um novo mundo a começar”, chego ao destino, ainda inebriada pelas férias; no entanto, rapidamente tenho um visão, um flash, de dentro do carro: dois rapazes trajados, a receber caloiros à porta de uma faculdade (ainda por descobrir qual). Aí, apercebi-me de que estava, finalmente, naquela que podia, e provavelmente, vai ser, a fase mais importante da minha vida.
Nesta altura, tudo é arrebatador (“Overwhelmeing… Sabes? Soa melhor, não soa?”, dizia um colega de curso). Tudo preocupava – saberão disso tão bem como eu. Tudo era real, estava mesmo a acontecer. O metro, viver sozinha, os colegas (futuros amigos?), os professores, a praxe (que aqui na FDUNL está viva e recomenda-se), as cadeiras.
Todos saberão como se sentiram no primeiro dia de aulas; eu sentia-me como uma criança a chegar a um infantário sem a mão dos pais para agarrar e pensei “É agora ou nunca – aqui vai nada”. A verdade é que uma decisão que tinha tudo para correr mal – sem conhecer ninguém, a cidade, o curso ou a faculdade, atirei-me de cabeça – deu certo: afinal o metro tinha setas, afinal gente trajada também é simpática, afinal algo chamado “Direito e Pensamento Jurídico” é estimulante, afinal mais alguém conhece a música da Courtney Barnett. Afinal.
Eu não sei como é que o resto do ano vai correr; vocês, caloiros no mesmo barco que eu, também não. A questão é que, nestes quinze dias que pensava poderem vir as ser péssimos e de uma adaptação terrível, foram na verdade o despertar num orgulho naquela que é a minha nova família.
Se é esta a moral da história? Nem por isso, suponho que o “busílis” neste caso seja: pode correr mal? Pode. Mas também pode correr muito bem, e tenho a agradecer a toda uma comunidade todo o otimismo que fizeram crescer em mim, tão boa foi receção que me fizeram, e meu objectivo passa por isso mesmo: fazer nascer uma faísca de optimismo, que cresça.
O conselho que deixo a quem sente ou sentiu esta ansiedade é o que tenho dado a mim mesma neste início de uma nova etapa: observa, sente, vai-te a eles. Estás a nascer de novo, e isso ninguém te tira, mas também ninguém de dá outra vez.
Aproveitemos.
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Este texto faz parte de uma nova série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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