Novas estatísticas do INE evidenciam persistência de rendimentos baixos em Portugal. Mas ensino superior compensa

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O grau de escolaridade e a idade são dos fatores que fazem aumentar o salário médio dos portugueses, ainda que o primeiro proporcione o maior diferencial. Em 2021, quem tinha completado o ensino superior ganhava, em média, um ordenado de 2.414 euros brutos mensaismais 114,4% (ou seja, 1.288 euros) do que aqueles que tinham, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico, isto é, até ao 9.º ano. Para estes, o salário médio situava-se nos 1.126 euros, revelam os dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Já os profissionais que tinham completado o ensino secundário ou pós-secundário não superior recebiam 1.358 euros de salário, mais 20,6% do que aqueles que tinham, no máximo, o 9.º ano.

“A ordem de grandeza destas diferenças não varia muito nos três anos [2019-2021], apesar do prémio salarial de escolaridade ter descido relativamente a 2019, quando foi de 22,3% e 118,4%, respetivamente”, conclui o gabinete de estatísticas.

A remuneração também aumentou consoante a idade do profissional. Em 2021, o salário médio bruto mensal de uma pessoa entre os 35 e os 44 anos era de 1.510 euros, superior em 19,6% ao ordenado de um jovem adulto entre os 25 e os 34 anos (1.263 euros).

Já um profissional na faixa etária dos 65 aos 74 anos ganhava, em média, 1.808 euros brutos. Um valor superior em 43,2% quando comparado com o vencimento dos jovens.

Concentração de trabalhadores em rendimentos baixos

O intervalo de remuneração com maior proporção de trabalhadores em Portugal progrediu dos 750 a 800 euros para os 850 a 900 euros entre 2019 e 2021, segundo o INE, que destaca a “concentração de trabalhadores em rendimentos baixos”.

“Se […] compararmos os anos de 2019 e de 2021, observamos que, em 2019, o intervalo de remuneração que agregava a maior proporção de trabalhadores (a moda; 7,1% dos trabalhadores) era o dos 750 euros a menos de 800 euros. Em 2021, o intervalo com a maior proporção de trabalhadores (7,6%) compreendia remunerações entre 850 euros e 900 euros”, avança o Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com estas novas estatísticas do INE sobre remunerações por trabalhador, elaboradas com base em informação da Autoridade Tributária e respeitando a cerca de quatro milhões de trabalhadores, é ainda possível observar um aumento da média de remuneração bruta mensal entre 2019 e 2021, de 1.347 euros para 1.445 euros, respetivamente.

Contudo, e apesar do “aumento médio das remunerações de 7,3% entre 2019 e 2021”, o instituto estatístico nota que, nos anos em análise, se verifica “uma persistência na concentração em torno de remunerações muito baixas”.

Fazendo uma análise comparativa entre as atividades de alojamento, restauração e similares e as atividades financeiras e de seguros, o INE aponta a notória “disparidade na distribuição de rendimentos”.

“Na primeira, 50% dos trabalhadores recebiam até ao intervalo de 800 euros a 850 euros, encontrando-se a remuneração média nestas atividades entre 850 e 900 euros. Por seu lado, na segunda, a mediana situava-se entre 2.350 e 2.400 euros, com uma remuneração média de 2.850 a 2.900 euros, um valor que tem em consideração os elevados rendimentos observados nesta atividade económica (1,6% dos seus trabalhadores receberam, em média, um mínimo de 10.000 euros brutos por mês em 2021)”, detalha.

Os dados hoje divulgados pelo INE apontam ainda que, em 2021, 69% das mulheres tinham uma remuneração bruta mensal igual, no máximo, à média de 1.354 euros observada nesse grupo populacional e que, nesse ano, a remuneração média de uma pessoa dos 35 aos 44 anos (1.510 euros) era superior em 19,6% à de um jovem adulto dos 25 aos 34 anos (1.263 euros).

Segundo o instituto, “diferentes indicadores de desigualdade refletem um ligeiro desagravamento da desigualdade de distribuição de rendimentos entre 2019 e 2021 em Portugal”.