Foto de Catarina Rosa

O Direito à Praxe

Praxe abusiva. Praxe psicológica. Praxe humilhante. Praxe “sexual”. “Praxe, praxe, praxe, a praxe é má e não serve para nada. A praxe devia ser abolida e deixar de existir por isto e por aquilo…” As razões para este feito são tantas que eu nem sei quais é podem ser…

Sinceramente, eu gostava de perceber porque é que as pessoas, e principalmente os portugueses só são capazes de ver e falar das coisas más, mas em tudo, não só na praxe.

Hoje, falo de praxe porque ando cansada de ver e ouvir jornais e publicações nas redes sociais a dizerem que a praxe devia de ser banida e proibida.



Por favor entendam uma coisa, tudo o que é a mais, é demais. Tudo tem limites. E lá porque num ou noutro sítio se ultrapassou esses mesmos limites, o que acontece nesse local não se aplica ao mundo inteiro.

Já pararam para pensar que a praxe é única em Portugal? É uma tradição nossa? É saber vestir e honrar o traje. Sim o traje, esse que muitos pais querem que os filhos vistam, mas não entendem que para eles saberem o verdadeiro significado do traje têm de passar pela praxe. Porque sim, é possível trajar sem ter vivido a praxe, mas para esses o traje é apenas uma roupa… Não significa união. Para saber respeitar o traje é preciso viver as tradições da família académica para as querer passar aos próximos.

As desgraças acontecem todos os dias. Pessoas morrem todos os dias. Se alguém cair no chão e partir um pé, e essa pessoa estiver acompanha por alguém trajado, porque é que a culpa tem de ser da praxe? Duas pessoas não podem a andar vestidas na rua como quiserem? Acidentes não podem acontecer? Por mais regras que existam na praxe, e acreditem que não são poucas, os acidentes acontecem. Mas a culpa não é da praxe, muitas vezes não é de ninguém… Foi um acidente. Será assim tão difícil perceber isso?

Mas eu não quero continuar com este tipo de discurso, muito pelo contrário. Quero dizer-vos que abusivo é ter que pagar 500€ ou mais por um quarto em Lisboa ou no Porto para poder estudar.

Humilhante é não ter dinheiro para comer porque para pagar o quarto e a licenciatura fica-se com quase nada.

Vergonhoso é viver num país em que se preocupam mais em acabar com aquilo que nos primeiros dias destes novos estudantes, destes caloiros, lhes dá uma casa, comida, e uma família sem pedir nada em troca, porque nós passámos pelo mesmo, e quando fomos nós também ninguém nos pediu nada em troca. Vergonhoso é viver num país que se preocupam mais com isto do que em acabar com as rendas a 500€ por um quarto para estudantes universitários, que se preocupa mais em aumentar os impostos e preços dos produtos de mercado. Vergonhoso é viver num país que se preocupa mais em acabar com aquilo que não tem custos monetários nenhuns em vez de se preocuparem com o futuro do próprio país.

Tradição é tradição e cada vez me orgulho mais de viver no nosso país, de ter aceitado a nossa tradição, a praxe, que me deu uma segunda família, quando me vi sozinha em Lisboa. Ponham isso na vossa cabeça, os vossos filhos vão sozinhos para um distrito diferente, para uma cidade nova, e precisam de apoio! Não acabem com a única coisa que lhes dá isso! Que lhe dá uma segunda casa, uma segunda família! Peço-vos mesmo para parem de falar daquilo que nunca viveram. Quem não vive a praxe, e fala dela como se tivesse vivido só faz uma grande figura triste. Se perguntassem a todos os estudantes universitários que fizeram e vivem a praxe, acreditem que a resposta seria a mesma por parte de todos, “fiz, e se pudesse voltava a ser caloiro outra vez, só para poder voltar a fazer tudo outra vez. Ser caloiro foi o melhor ano da minha vida.” Depois aparecem meia dúzia de gatos pingados a dizer isto e aquilo sobre a praxe e única coisa que sabem fazer é ficar atrás de um computador a criticar. Se ainda ajudassem a melhorar as condições em que muitos estudantes vivem, mas não. Criticam e criticam e não ajudam ninguém da mesma maneira que a praxe une e ajuda centenas e centenas de caloiros todos os anos.

Posto isto, só tenho mesmo uma coisa a dizer-vos, façam um favor à humanidade e deixem a Praxe Sossegada, preocupem se com assuntos sérios da economia do país. Em vez de olharem para um acontecimento que correu mal num determinado sítio e uma vez em anos, olhem para o papel que a praxe tem no país inteiro em todas as faculdades e politécnicos do país e olhem para aquilo que a praxe deu e dá aos vossos filhos!

E como já perceberam que se calhar este texto se dirige a um público alvo mais velho e não ao que estuda na faculdade, e por esta razão, peço-vos mesmo partilhem a mensagem que vem nele para que juntos consigamos chegar mais longe!

Todos os estudantes merecem ter a oportunidade de estudar no ensino superior se assim o desejarem, e se as coisas continuarem assim as pessoas não vão conseguir estudar no ensino superior não é pelo preço das propinas é pelo preço da habitação, dos passes dos transportes públicos, das despesas pessoais e afins. Preocupem se com o que realmente importa e deixem a praxe porque no final de contas nas primeiras semanas se não fossemos nós, veteranos e padrinhos, veteranas e madrinhas, a dar casa e algumas vezes um jantar por mais simples que seja, os vossos filhos jantavam uma taça de cereais com leite porque não tiveram dinheiro para comprar mais nada. Custa ouvir isto não custa? Mesmo achando que não é verdade porque vos dizem que comeram bem. Muitas das vezes acreditem os vossos filhos mentem-vos em relação a este assunto, para não vos preocupar, para não vos magoar e porque sabem que vocês já estão a fazer tudo por eles mesmo quando as dificuldades são muitas! Graças a Deus nunca passei por nada disto, sempre tive todas as refeições, mas eu sou de um tempo em que as coisas não estavam assim tão graves. Conheço gente, neste momento que passa por isto. Por isso peço-vos, à minha nação, ao meu povo, à sociedade portuguesa mais uma e última vez, preocupem se com aquilo que é realmente importante para o futuro do país (jovens cheios de conhecimento que querem vir para a faculdade, para aprender mais, para saber mais, mas que devido da problemas monetários não conseguem) e o bem estar dos vossos filhos, e deixem a praxe em paz. Olhem para a foto de capa associada a este texto e expliquem-me onde é que a praxe é humilhante e abusiva, digam-me onde é que estas pessoas, estes novos alunos, estes caloiros se sentem humilhados ou obrigados a estar ali, naquela praxe. Preocupem-se com outros assuntos olhem para a praxe com o significado que ela realmente tem. Integração e União. Deixem cada um ter o direito de dizer que sim ou que não à mesma, sem acabarem com aquilo que significa muito para tantos estudantes portugueses. E fiquem com a certeza de que enquanto houver praxe e pessoas a realizá-la, os vossos filhos terão sempre um sítio onde se apoiar, mesmo quando se chegar a pagar mais por um quarto em lisboa do que por um ano de propinas em Portugal.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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