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O novo Governo e a educação: problemas urgentes e estruturais a resolver


Como resultado das eleições legislativas de 10 de março, o país virou à direita e, por isso, tudo aponta que tenhamos um governo do PSD (mais CDS e PPM) a partir das próximas semanas. Contudo, apesar de mudar a cor política no poder, isto não significa que os problemas antigos tenham saído de cena, continuando ainda muito vivos.

Alguns deles são urgentes e precisam de uma resposta nos próximos meses, de forma a não descredibilizar um Governo com tão pouco tempo de vida e a trazer algum sossego ao setor da educação. À cabeça, é preciso dar resposta às reivindicações dos professores, que não irão descansar até ver uma fração substancial do seu tempo de serviço recuperada. Vai exigir-se ao próximo executivo uma capacidade de diálogo com uma classe profissional que já se encontra num estado de grande agitação há bastante tempo. Para além disso, existem algumas preocupações sérias no domínio do educativo às quais importa dar atenção e reagir:

  • os resultados dos alunos portugueses nos testes internacionais que demonstram uma queda das aprendizagens e que podem ser dramáticos nos conhecimentos e na qualidade de vida das próximas gerações;

  • a criação de condições para mais profissionais poderem aceder à docência (uma profissão que ainda parece estar encerrada sob si mesma devido ao seu acesso tão restrito) e a contratação de mais professores, tendo em conta os dados alarmantes sobre a idade da classe docente e o grande volume de reformas previsto para os próximos anos;

  • o uso das tecnologias em ambiente escolar, especificamente em sala de aula, que tem amiúde frustrado as capacidades dos professores de desenvolverem aprendizagens relevantes com os alunos e as expectativas de estes terem comportamentos minimamente adequados nas interações propiciadas neste contexto.

Para além disso, é necessário continuar a existir investimento na educação a vários níveis. O ensino profissional não pode continuar a ser a ovelha negra, desvalorizado face ao ensino regular. É preciso limpar a imagem de um ensino que muitas vezes os alunos escolhem por ser o único que oferece cursos diferentes, como desporto, multimédia ou restauração. O mesmo deve ser feito com as áreas artísticas e das humanidades, que tão poucas ajudas e financiamentos recebem, mesmo no ensino superior, face às ciências exatas e naturais. Também é necessário tratar melhor tanto estudantes como funcionários, por exemplo, nas cantinas escolares, garantindo que estes recebem mais respeito e melhores salários e que aqueles conseguem consumir comida de qualidade. Bem como assegurar que os estudantes têm todos os recursos eletrónicos para desenvolver com qualidade a sua formação e qualificação.

É sobretudo necessário que a escola se torne novamente no elevador social que outrora demonstrou ser e tirou muitos da pobreza, dando-lhes oportunidades e esperança por um mundo melhor. Uma escola onde se aprende com efetividade e na qual docentes, funcionários e alunos atuam como colaborantes numa comunidade educativa de sucesso é a verdadeira missão que se exige a quem daqui para a frente estiver com as mãos no poder de decisão. O Ministro da Educação e a equipa que o acompanhar na gestão e no combate a estes problemas têm de ter influência, isto é, a capacidade de assegurar que a educação será central na próxima legislatura. É que sem conhecimento não existe uma sociedade informada e devota à liberdade, a mesma liberdade cujos 50 anos celebramos em 2024, daqui a algumas semanas, em abril, pelo seu fomento da cultura, da educação, da igualdade entre as pessoas.

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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