Mudei-me para Inglaterra há cerca de 4 anos, troquei uma faculdade portuguesa por uma estrangeira. Decidi procurar a curva de inovação e melhores condições de trabalho. Soa-vos familar? Infelizmente, para o país, tal como eu muitos jovens optam por ir estudar para fora acabando por ficar no estrangeiro. O meu nome é Tomás, sou um dos fundadores da Unilinkr e da iniciativa #jovens_independentes.
Na essência, o que me motiva é fazer de Portugal um país melhor e mais capaz.
Em Inglaterra o que mais me surpreendeu foi encontrar uma grande percentagem de trabalhadores na comunidade estudantil mesmo em condições económicas superiores à minha. A maioria procura ter a sua própria independência financeira e os pais tendem, em parte, a ver o que dão aos filhos como empréstimo *quasi* formal. Vivi com Tom que fazia turnos de entrega de encomendas, com Tirath que trabalhou em armazéns, com Eve, Hannah e Joe que trabalharam em bares, entre muitos outros casos, onde a burocracia de trabalho é mínima.
Tudo isto fez-me questionar: porque é que é este dinamismo não existe em Portugal? Existem argumentos que quase nos fazem parar de fazer a questão na sua totalidade, por exemplo pela falta de poder económico ou por diferenças culturais. Contudo, a questão real é saber diferenciar o que é diferença cultural do que é premeditado pelo panorama legal e fiscal português.
A nível de hábitos de trabalho, não encontro assim tantas diferenças entre a dualidade de realidades que vivencio, especialmente a nível de estudantes no ensino superior. As diferenças que encontro são, sim, no sistema que nos rodeia.
Considero o problema um assassino silencioso da empregabilidade que se destaca maioritariamente pelo que os estudantes abdicam de fazer para proteger outros beneficios que possam ter.
Por exemplo, pegando no caso de um estudante em Portugal que quer, legalmente, receber perto de 400€ por mês a trabalhar num restaurante:
- Deixa de estar isento de pagar segurança social no primeiro ano do seu primeiro emprego a tempo inteiro.
- Deixa de se poder candidatar a várias empresas que utilizam o estágio do IEFP para promover a contratação jovem uma vez que é necessário estar inscrito como desempregado.
- Perde o seguro de saúde da família, neste caso a ADSE.
- Perde a sua bolsa de estudo caso a soma do agregado familiar passe o limiar estipulado devido aos rendimentos extra que obtém do trabalho.
Se estivessem no lugar do estudante declarariam os rendimentos? Ou nem sequer iam trabalhar?
A minha ideia começou como “Biscates”, a do André como “Unilinkr”, ambas as ações encheram-se de ênfase por volta do mesmo período da Primavera passada, e procurámos a sorte de combinar esforços e oficialmente fundar a Unilinkr, para combater os problemas referidos.
A Unilinkr pretende possibilitar a independência e literacia financeira ao estudantes. A Unilinkr pretende fazer a ponte entre estudantes universitários e trabalhos pontuais e/ou part-times de maneira simples, eficaz e sem burocracias.
Lembro-me perfeitamente das primeiras reuniões em que se pôs a questão: “E se mudássemos a legislação?”, “Mas não conhecemos ninguém na política sequer”, “Temos de lutar pelos estudantes”. A síndrome de impostor toca a todos e quanto maior o objetivo, mais difícil é ver o caminho passo a passo. Contudo, de um ponto de vista racional, percebemos que a solução é mesmo esta, e que é óbvia, e que vale a pena lutar. Decidimos enfrentar os problemas em vez de os contornar e elaborámos uma petição para colmatar os problemas acima mencionados;
Todos os direitos acima descritos, que são retirados aos estudantes caso declarem os rendimentos, devem de o ser apenas a partir de um valor específico, tal como acontece no Reino Unido e noutros países Europeus como Holanda, Dinamarca e Alemanha. Propomos que o valor seja idêntico para todos os jovens e que ronde o valor do IAS (~500€ mensais).
Mudanças deste paradigma são complexas e o processo é tão burocrático que se nada for ativamente perseguido nada irá mudar. São muitas vezes instituições como Federações Académicas e Associações de Estudantes que atuam em benefício dos estudantes e fazem verdadeiramente a diferença – vemos o caso da FAP com o alojamento estudantil no Porto.
Além de abrirmos portas ao mundo do trabalho a milhares de jovens em Portugal, sabemos que esta mudança trará consequências extremamente positivas a nível do panorama nacional.
Permitir que os estudantes trabalhem livre de burocracias contribui para o reforço do empreendedorismo e da inovação entre os jovens e promove a sua formação académica, profissional e integração no mercado de trabalho, além de combater ativamente a economia paralela no país.
Podem Assinar e Partilhar a petição a partir do link: https://linktr.ee/jovens_independentes
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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