“A escola é a base para a educação do ser humano. Não será preciso dizer, aliás, que a escola – pelo menos como instituição educativa – é uma segunda casa para a criação de pessoas com inteligência, criatividade e valores morais e éticos.” Seria assim uma escola perfeita. Infelizmente, por diversos fatores, a escola de hoje em Portugal não o é. Mas será particularmente intrigante afirmar que a própria escola peca na concretização dos seus objetivos?
Quando criticamos a escola, criticamos, essencialmente, o sistema de ensino, nomeadamente o que impera no nosso país, atualmente. Esse sistema centra-se na automatização dos alunos, tornando-os, no fundamental, máquinas, isto é, algo que sirva as exigências dos patrões e produza muito e bem, que possa cumprir horas extraordinárias sem proferir uma palavra contra essa ordem, que se dedique, de corpo e alma, ao trabalho que exerce, sem ter vida pessoal ou tempo para dizer “Não, não pretendo fazer isto”, “Não, não posso fazer isto”. Quem sai deste sistema, na fase adulta e depois de ultrapassar as adversidades do ensino superior, sai com uma maior probabilidade de ter menos originalidade, uma inteligência formatada e direcionada para certas áreas do saber, negligenciando a importância das outras formas de conhecimento, e com ausência de valor morais e éticos (“ausência” talvez não, mas é o que poderá vir a acontecer, caso nos tornemos máquinas a sério).
Há duas situações que me impressionam bastante (no mau sentido) ao lembrar-me deste regime de instrução. A primeira é relacionada com os alunos e os testes. Neste momento, a boa nota num teste de avaliação constitui uma felicidade de dupla identidade. Por um lado, tirar 18 ou 19 valores num teste é algo bom, porque é mais um passo para o êxito – e para o que a sociedade quer, que é indivíduos com sucesso académico (sem a mínima experiência na área prática, muitas vezes). Por outro lado, a felicidade é pejorativa, no sentido em que os alunos sentem um alívio por não serem criticados, ou em casa, pelos pais, ou na escola, por algum professor ou colega de turma – torna-se uma felicidade de fuga e de “não ser o escolhido para a censura”. Assim, os estudantes são pressionados para ter um dado valor numérico numa folha de papel que, nas férias de verão, já foi esquecida. A aprendizagem revela-se, então, nula.
A segunda situação que me aflige é a sobrecarga de trabalho dos professores. Os professores são excessivamente usados para testarem os alunos. Entre grelhas de avaliação, testes e questões de aulas para se fazerem e corrigirem, reuniões, e muito mais, o prazer de dar aulas desvanece-se, na medida em que nem as aulas os professores podem dar da maneira que desejam. E tudo isto é feito com a intenção de alimentar as expectativas de algumas entidades supremas que parecem surgir acima de Deus, considerando-se importantes e merecedoras de respeito eterno. Estas entidades são o clero e a nobreza contemporâneos, que obtêm regalias e mantêm-se acima do povo (constituído por nós, estudantes, e professores), sem nada fazerem por uma causa, em algumas ocasiões. Como têm regalias, estas entidades máximas não pretendem perdê-las e, portanto, nada fazem para zelar pela justiça dos jovens que estão a desenvolver-se e que, um dia, estarão no futuro mercado de trabalho do nosso país. Não há um rei absoluto, mas existem príncipes que pensam que o são, participando num mesmo jogo hierárquico, incoerente e desequilibrado.
Estes temas são falados, debatidos, explorados e, no entanto, pouco se faz para mudar isto. Há que, após toda a conversa, agir contra o planeado e proceder de uma forma criativa. Não é preciso destruir todo o sistema: basta mudar alguns aspetos. Se as pessoas mudarem a sua forma de pensar e trabalharem em pequenas mudanças, as coisas irão melhorar. No final de contas, são as pequenas mudanças que impulsionam as grandes.
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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.
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