Os custos da Educação grátis


Um assunto que tem sido falado por aqui e ali, embora não seja muito desejado que se fale, é a falência mortífera do Serviço Nacional de Saúde.

Mas não é só a saúde que está a falhar de forma catastrófica às mãos da má gestão do aparelho estatal!

O meu nome é Guilherme Alexandre, sou um aluno de 12° ano de uma escola pública e eis o que tenho a dizer sobre o nosso Sistema de Ensino – não se preocupem, não vai ser um texto a reclamar dos exames.

Neste artigo pretendo expor e fundamentar a minha opinião quanto a:
A. taxas de sucesso e retenção, entre outros indicadores;
B. os comportamentos e atitudes na sala de aula como o sintoma de algo maior;
C. o ridículo método de estudo da maior parte dos alunos, e porque é que a culpa é do formato da avaliação;
D. o sentimento de revolta quase que cómico, mas em última análise compreensível, da maior parte dos alunos perante os exames nacionais;
E. a medida que consta no programa do atual Governo de acabar com os chumbos até ao 9° ano de escolaridade.

 

A.
Tentando não tornar isto muito à base de números, não deixa de ser importante consultá-los, por isso citarei alguns dados da DGEEC (1) (2), nomeadamente que as taxas de retenção no Ensino Básico rondam os 3 a 9% (aumentando consoante o grau de ensino) e, quando chegamos ao Ensino Secundário, os percursos diretos de sucesso já rondam os 31 a 42%, muito por causa das negativas nos exames trienais, o que se traduz num “chegaste ao fim da linha e não sabes nem metade”. Isto será importante quando chegarmos à minha análise sobre o fim dos chumbos no Ensino Básico.
(1) Provas Finais e Exames Nacionais 2018 – Principais Indicadores
(2) Indicadores Gerais da Educação

B.
Agora algo do qual posso falar na primeira pessoa e que, por todos os meus contactos com pessoas da minha idade em todo o país, é sistemático e até cultural. O comportamento nas salas de aula é, tendencialmente, lastimável, a par da atitude perante a aprendizagem.
O pão nosso de cada bloco letivo são 10 a 15 minutos até os alunos acalmarem os ânimos e a professora ditar o sumário, para apenas depois a aula efetivamente começar, seguido de mais 75 minutos em que vários alunos estão desatentos, alguns nos telemóveis, vários a conversar de forma que perturba o funcionamento das aulas, enfim, mas algo que me irrita especialmente é a falta de participação oportuna. É tão raro ver alguém participar, além de mim e um ou outro colega, que quando uma das – no meu caso acontece com raparigas – levanta o braço e eu ganho esperança para apenas esta ser abalada por um “isto sai para o teste?”, o que vai levar ao ponto seguinte. Antes de avançar, porém, gostava de saber qual é o problema aqui e porque é que já se tornou cultural, em vez de ter sido resolvido quando detetado.
Muitos alunos consideram as aulas aborrecidas, afinal de contas, muitos dos conteúdos que se aprendem não terão aplicação na sua vida prática – a única Filosofia que querem é “YOLO” e a único Verão Quente que conhecem são as férias que já desejam em outubro.
Se escolaridade é obrigatória, os conteúdos são aborrecidos para uma grande facção dos alunos, os métodos não os cativam… evidentemente estarão distraídos. Não é preciso ter uma média astronómica para entrar em Engenharia Aeroespacial para perceber isto.
Sabemos a causa do problema, então, e qual a solução? A única forma de os professores terem paz na sala de aula é a disciplina e o respeito. Respeito esta geração não parece ter, mas se lhes faltar disciplina é exatamente uma falta disciplinar que tem que ser marcada. Eventualmente os alunos iriam perder a altivez adquirida à custa de anos de impunidade com toda e qualquer atitude. Porém, e escapa-me o porquê enquanto aluno, faltas disciplinares são super raras; caberá aos órgãos competentes avaliar a situação, se ajudarem a minha voz a chegar a eles.

C.
“Isto sai para o teste?”, “Quando é que vai dar os objetivos?”, “Ai, é tanta coisa para decorar” são todos sintomas de um método de estudo à base da memorização. Exceto raras exceções de cronologia ou gramática, o método, e o objetivo de estar na escola, é compreender e aprender a matéria. No entanto, eu faço vídeos de explicações no YouTube em que explico com fluência e, de acordo com o público, melhor que alguns professores, a matéria leccionada, mas se chegar ao teste e me der uma branca, ou se simplesmente me correr mal a interpretação de um determinado texto, já perdi 4 valores, que me vão afetar a média para o resto do percurso.

É claro que uma avaliação assim assusta e stressa as pessoas!
Perante o medo, e com desinteresse, a melhor forma de abordar as avaliações é, para vários, comer a matéria toda e vomitá-la para a folha de teste. O que importa é o 9,5, camaradas!

 

D.
Quanto aos exames, ah! os exames. Todos os anos por volta da interrupção letiva da Páscoa, todos correm a comprar bilhete e pacotes de livros para estudar para o FESTIVAL IAVE, e outros aproveitam também para fazer aqueles textos fofinhos a falar mal dos Exames Nacionais e do qualquer Ministro da Educação da ocasião.
Não vou perder tempo a refutar esse tipo de textos, vou só sublinhar os pontos em que, por acaso, acertam bem: um só momento de avaliação tem um impacto demasiado significativo.

É necessária uma forma de estandardizar os resultados a nível nacional e garantir que todos os alunos acabaram o percurso com os conhecimentos necessários, por isso não posso sugerir o fim dos exames nacionais. Não me propus a fazer o papel de Ministro quando iniciei este artigo, mas, a título de exemplo, quais serão os prós e contras de um exame global e nacional ao fim de cada ano, para cada disciplina? Assim as disciplinas bienais passam a avaliação global em dois momentos e as trienais em três momentos, reduzindo o impacto de cada um deles.
Sobre exames, para fechar o tópico, convém dizer que as médias nacionais são vergonhosas, rondando entre 8 e 11 na maior parte das disciplinas, como é possível consultar no documento “Provas Finais e Exames Nacionais 2017 – Principais Indicadores” no site da DGEEC. No mesmo documento é possível ver que as médias nos Exames Nacionais do Ensino Básico andam muito perto do limitar do 50%.

E.
Por fim, a vergonha da medida do Partido Socialista de acabar com os chumbos até ao 9° ano.
As razões para esta medida são, a meu ver, duas: a poupança de 250 milhões de euros por ano, já noticiada, e a melhoria nas estatísticas.
Certamente que Portugal vai ter uma aparência mais favorável quando se falar de Ensino a nível nacional e se vir uma percentagem de 0% de retenções, que não é nada além de artificial.
Mas quais são as consequências desta medida?!
Além da poupança, que existe ao sacrificar a qualidade de ensino, nada pode ser bom.
Os alunos vão transitar até ao 9° ano sem qualquer preocupação, imensos dos quais sem reter os conteúdos necessários, e aqueles que conseguirem positiva no exame nacional vão ter um percurso assustador no secundário.
Tendo estado no Ensino Básico, algo que vi acontecer e ouvi bastantes vezes foi o trânsito letivo de alunos com múltiplas negativas, e os alunos em causa estavam completamente nas tintas para a situação, desde que passassem, e ainda recebiam uma PlayStation3. Como irá ser o comportamento agora que os professores perdem ainda mais poder perante os alunos problemáticos? Se o incentivo ao estudo e à aprendizagem já é este no atual sistema, qual será quando nada impedir os alunos de passar de ano? Qual será a solução para milhares e milhares de alunos que chegam ao 9° ano e não sabem o que raios estão a aprender nas aulas porque não têm qualquer base? E como é que esperam ter sucesso no Secundário? Esta medida é apenas uma de muitas outras que faz muito pouco sentido e que vem muito mal explicada, e os Portugueses deviam estar mais preocupados com a Educação.
Temos atualmente um Sistema de Ensino que falha nos seus aspetos mais essenciais e as únicas pessoas que falam disso são as suas vítimas. A maior parte delas, porém, não está assim tão bem ensinada, e não é levada a sério.

Portugal! Os jovens são o futuro. Que tipo de futuro queremos?!

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Este texto faz parte de uma série de textos de opinião de alunos do ensino secundário e superior sobre a sua visão do ensino e da educação.

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